segunda-feira, março 19, 2007

Voltei para ver os amigos que um dia....

Ao ler trechos do discurso do ex-presidente e agora senador Fernando Collor na tribuna, um ritual que se estendeu por mais de três horas e voltou a comprovar a habilidade do homem em combinar teatro de péssima qualidade à uma visão distorcida da realidade, passei um tempo pensando na assustadora vocação que o brasileiro tem para o perdão e o esquecimento. Collor foi uma das figuras mais nefastas da história recente deste país. Há meros 17 anos, e isso para a história é menos que ontem, ele conseguiu mergulhar o Brasil em uma espiral ensandecedora: inflação anual acima de mil por cento, depósitos bloqueados, doentes morrendo antes que conseguissem resgatar suas economias para pagar por cirurgias de emergência, caras-pintadas, passeatas, corrupção, uma economia em frangalhos... E agora o homem volta, eleito democraticamente pelo mesmo estado de onde um dia ele infelizmente saiu para chegar ao Palácio do Planalto. O povo o perdoou e se esqueceu de tudo que ele fez. Na tribuna, os políticos choraram diante de seu discurso e, de carrasco, Collor praticamente passou à vítima de um grande erro de avaliação cometido por uma nação inteira. Ao arrancar lágrimas da classe política que ele sabe tão bem representar, Collor provou que, no Brasil, o crime de ontem é motivo do orgulho de hoje. E que nossa noção de ética é tão frágil que ela se quebra e se curva não diante de novos fatos e julgamentos, mas diante apenas da suave passagem dos dias.

Um comentário:

alberto disse...

que texto fantástico! lúcido, preciso. que lamentável que você tenha que escrever esse texto fantástico sobre esse assunto tão desprezível! nós não merecemos. minha indignação anda cada dia mais instigada. parabéns pelo blog todo que está muito legal. luv