segunda-feira, abril 30, 2012

As lágrimas e o prato de picadinho

Nunca gostei de ir a restaurantes sozinho. Almoçar sem companhia eu até consigo encarar; jantar jamais. Posso ir desacompanhado a cinemas, teatros, exposições e eventualmente até a alguma balada, mas nunca reuni coragem (e a palavra é essa mesma) para jantar sozinho em um restaurante. Pratos de Miojo e sanduíches do McDonald’s sempre me ajudaram nessas horas. Não sei explicar os motivos, mas jantar sozinho, em lugares públicos, sempre me pareceu um atestado incômodo de solidão – é como se ir ao cinema sozinho pudesse representar uma opção, enquanto que jantar sozinho beirasse o desespero de causa. O fato que se segue, para meu alívio, ocorreu durante um almoço, o que talvez suavize um pouco o seu impacto. Eu estava almoçando sozinho, na semana passada, quando, na mesa ao lado, tocou o celular de uma jovem igualmente desacompanhada. A ligação durou menos de dois minutos – e ela muito mais ouviu do que falou. Apenas balbuciou algum monossílabo incompreensível. Quando desligou o telefone, já estava chorando. As lágrimas desciam por sua face enquanto ela, delicadamente, espalhava o azeite sobre a salada. Só após terminar essa função é que ela se preocupou em enxugar o rosto. Outras lágrimas começaram a rolar, em um silêncio angustiante, assim que ela deu a primeira garfada no seu prato com picadinho. Tive impulsos de me sentar ao seu lado e perguntar: podemos comer juntos? Ou chorar juntos, se você preferir. Mas somos polidos o bastante para interromper o choro de alguém. Ela terminou de almoçar (apenas metade do prato) e pegou o telefone novamente. No meu íntimo, eu torcia para que ela fosse à forra com o responsável por suas lágrimas. Em vez disso, ela afastou o cabelo do rosto, calibrou e voz e, teatralmente, marcou uma reunião de trabalho. Enxugou as lágrimas pela última vez, pagou a conta e foi embora. A vida sempre vence. Só que, às vezes, a vitória é triste.