Antonio Abujamra está de volta a São Paulo. À frente dos 23 atores do grupo Os Fodidos Privilegiados ele mostra, a partir desta sexta-feira, dia 23, no Teatro João Caetano, o espetáculo Tchecov e a Humanidade (foto) - um recorte das quatro grandes peças do dramaturgo russo (As Três Irmãs, A Gaviota, Tio Vânia e O Jardim das Cerejeiras) e dois contos, A Humanidade e A Dama do Cachorrinho. Enviei seis perguntas para o velho Abu. Eis as resposrtas:
Por que os Fodidos Privilegiados ficaram tanto tempo sem se apresentar em São Paulo?
Fiquei uma temporada grande no Rio, estabelecemos uma franquia para nós mesmos e Os Fodidos Privilegiados foram um sucesso extraordinário lá, e continuam sendo. Viemos mostrar aqui as montagens de O Casamento e Tudo no Timing, mas duas ou três representações somente. Esta volta a São Paulo me fez recriar o grupo aqui. Vamos ver o que acontece.
Qual a expectativa em relação à temporada paulistana?
A temporada será de dois meses no João Caetano, um teatro periférico, na Vila Mariana, e tratei de fazer um elenco de 23 artistas. Mas trinta e cinco pessoas entraram na construção de um sonho, em que o dinheiro é raro e o nome do grupo existe pela razão de todos quererem arrancar o coração e colocá-lo debaixo do sapato. Por isso entram descalços em cena.
Quais os motivos da escolha de Tchecov para este novo trabalho?
Tchecov mostra para nós o nosso momento brasileiro. Esses autores clássicos, eles não escreveram suas peças há 100 anos. Escreveram ontem. Por isso são clássicos e populares. Tchecov mostra que o tempo é uma ferida – mostra que, impossibilitados de viver o presente, esse presente absurdo e carregado de arrependimentos, os homens são obrigados a viver no passado ou no futuro do pretérito. A única vida possível é a vida sonhada, a vida de lembranças, nostalgias ou ainda a vida de um futuro longínquo e utópico. Essa é uma das razões entre as centenas de outras.
Qual foi a principal dificuldade para selecionar apenas alguns trechos de obras tão essenciais do autor?
Meyerhold (o russo Vsevolod Meyerhold, 1874-1940, diretor e teórico de teatro) dizia que quando se pusesse uma peça assim clássica em cena, se deveria pôr quase tudo o que o autor tinha escrito na vida... Um dos maiores do mundo disse isso. Então, como só se consegue fazer o que se pensa na juventude, quando estamos com 75 anos o essencial de Tchevov é atirado para a volúpia dos espectadores que terão a liberdade de gostar ou não desta experiência rara no teatro brasileiro. Foi difícil.
Você consegue enxergar algumas semelhanças entre a Rússia decadente descrita por Tchecov e a atual sociedade brasileira?
O Brasil está presente sempre, mostrando a atmosfera de educação e cultura como futilidades, não pensando em profundidade sobre o que é preciso fazer. E a tristeza emocionada tem que aparecer.
De todos estes textos de Tchecov selecionados para a montagem, qual deles permanece mais atual na sua opinião?
Tchecov, antes de ser um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, era médico e, por isso, não podia nunca dizer para um doente terminal que ele iria morrer. Então, dá sempre uma esperança. Em todas as suas peças, a esperança é indispensável. E isso é o Brasil. Mesmo sabendo que a esperança já ferrou toda a América Latina, se continua com essa palavra sempre na boca dos brasileiros.
Por que os Fodidos Privilegiados ficaram tanto tempo sem se apresentar em São Paulo?
Fiquei uma temporada grande no Rio, estabelecemos uma franquia para nós mesmos e Os Fodidos Privilegiados foram um sucesso extraordinário lá, e continuam sendo. Viemos mostrar aqui as montagens de O Casamento e Tudo no Timing, mas duas ou três representações somente. Esta volta a São Paulo me fez recriar o grupo aqui. Vamos ver o que acontece.
Qual a expectativa em relação à temporada paulistana?
A temporada será de dois meses no João Caetano, um teatro periférico, na Vila Mariana, e tratei de fazer um elenco de 23 artistas. Mas trinta e cinco pessoas entraram na construção de um sonho, em que o dinheiro é raro e o nome do grupo existe pela razão de todos quererem arrancar o coração e colocá-lo debaixo do sapato. Por isso entram descalços em cena.
Quais os motivos da escolha de Tchecov para este novo trabalho?
Tchecov mostra para nós o nosso momento brasileiro. Esses autores clássicos, eles não escreveram suas peças há 100 anos. Escreveram ontem. Por isso são clássicos e populares. Tchecov mostra que o tempo é uma ferida – mostra que, impossibilitados de viver o presente, esse presente absurdo e carregado de arrependimentos, os homens são obrigados a viver no passado ou no futuro do pretérito. A única vida possível é a vida sonhada, a vida de lembranças, nostalgias ou ainda a vida de um futuro longínquo e utópico. Essa é uma das razões entre as centenas de outras.
Qual foi a principal dificuldade para selecionar apenas alguns trechos de obras tão essenciais do autor?
Meyerhold (o russo Vsevolod Meyerhold, 1874-1940, diretor e teórico de teatro) dizia que quando se pusesse uma peça assim clássica em cena, se deveria pôr quase tudo o que o autor tinha escrito na vida... Um dos maiores do mundo disse isso. Então, como só se consegue fazer o que se pensa na juventude, quando estamos com 75 anos o essencial de Tchevov é atirado para a volúpia dos espectadores que terão a liberdade de gostar ou não desta experiência rara no teatro brasileiro. Foi difícil.
Você consegue enxergar algumas semelhanças entre a Rússia decadente descrita por Tchecov e a atual sociedade brasileira?
O Brasil está presente sempre, mostrando a atmosfera de educação e cultura como futilidades, não pensando em profundidade sobre o que é preciso fazer. E a tristeza emocionada tem que aparecer.
De todos estes textos de Tchecov selecionados para a montagem, qual deles permanece mais atual na sua opinião?
Tchecov, antes de ser um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, era médico e, por isso, não podia nunca dizer para um doente terminal que ele iria morrer. Então, dá sempre uma esperança. Em todas as suas peças, a esperança é indispensável. E isso é o Brasil. Mesmo sabendo que a esperança já ferrou toda a América Latina, se continua com essa palavra sempre na boca dos brasileiros.
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