O Encontro das Águas foi uma peça que escrevi em 2003, como trabalho de conclusão de um curso de dramaturgia que eu havia feito no ano anterior. É uma peça curta, simples eu diria. O relato do encontro de dois jovens em cima de uma ponte perto do mar. Há o barulho das ondas, há o ruído das gaivotas, há a maré, que não pára de subir, ameaçadora e ao mesmo tempo conivente com o desejo de um dos jovens, que espera pelo momento exato de se atirar nas águas. A peça estreou em maio de 2004 no Espaço dos Satyros Um, com interpretações arrepiantes dos atores José Roberto Jardim, que fazia o personagem Apolônio, um artesão-filósofo misterioso que vivia na ponte, e Pedro Henrique Moutinho, como o perturbado Marcelo. Na direção, a mão precisa e extremamente delicada de Alberto Guzik, que respeitou cada vírgula do texto, que levou ao palco cada pequena respiração que o texto sugeria. A peça ficou em cartaz por sete meses, viajou pelo Interior do Estado, foi apresentada nos festivais de teatro de Curitiba e Porto Alegre e recebeu elogios até de um jornal do Uruguai. Foi o texto, e hoje eu vejo isso claramente, que apontou um novo caminho na minha carreira de dramaturgo iniciante.
Três anos depois, O Encontro das Águas continua a me dar alegria. A peça, agora, será transformada em teleteatro da Tevê Cultura, pelas mãos de Sérgio Ferrara, com quem estou trabalhando em outra montagem, A Noite do Aquário, um drama que se passa no início dos anos 60 e tem como mote a noite em que uma jovem e desconhecida Elis Regina cantou na Praça Roosevelt. Ferrara irá dirigir o Encontro no fim de abril. Sei que, no momento, ele está definindo o elenco e escolhendo as locações - esta última tarefa, reconheço, extremamente fundamental para a compreensão da trama.
Os amigos que viram a montagem de Guzik me perguntavam: mas, afinal, o que aconteceu com os dois? Marcelo vai voltar à ponte no dia seguinte para encontrar Apolônio? Apolônio vai continuar sozinho em sua missão angelical de velar pelos desesperados? Eu não tenho estas respostas. Às vezes, eu fico triste de imaginar que Apolônio continua sozinho naquela ponte...talvez não devêssemos ser tão cruéis com os personagens tão queridos. Acredito que a versão de Ferrara não irá responder estas perguntas. Mas me conforta saber que, agora, vai haver muito mais gente torcendo por Apolônio.
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