terça-feira, julho 29, 2008
Uma cerveja com A e B
Eu já escrevi sobre os dois aqui neste espaço e, se mais não disse, é porque nem mesmo eu os conheço o suficiente. Sei que um deles é mais velho e mais desesperançoso - não que a idade nos traga a desesperança, mas talvez nos traga a sensatez e o espírito crítico, coisas que, no fundo, talvez não combinem mesmo com a esperança. O outro é mais jovem e cheio de vida e de ilusões, mas nem por isso consegue escapar de um destino trágico que, desde sempre, parece ter sido reservado para ele. Os dois se encontram por apenas um dia e provam, de maneira dolorida, que um dia pode fazer toda a diferença do mundo. Não sabemos muito sobre eles, não temos certeza de quem são, de onde vieram e para onde vão. Se é que vão. O primeiro é chamado de prisioneiro A e o segundo, obviamente, de prisioneiro B. São belos, másculos e aparentemente indestrutíveis, mas o tempo se encarrega de mutilá-los nas ambições e nos movimentos. Quando, por fim, chega a hora de nos despedirmos deles, não encontramos mais do que dois cotocos rastejando à nossa frente, dois seres dignos de piedade ou repulsa, dependendo do humor de quem os enxerga. Eles são os personagens da peça A Coleira de Bóris, que nesta segunda-feira recebeu três indicações ao Prêmio Shell. O que só reafirma a minha convicção de que, na maioria das vezes, a felicidade nos chega dos lugares mais improváveis e pelas vias mais tortuosas. Se eu pudesse, eu chamaria os dois para tomar uma cervejinha hoje comigo e comemorar estas indicações. Mas, como eu disse ali em cima, eu não os conheço direito e, por esta hora, nem imagino para onde eles foram depois que escaparam de mim. De qualquer forma, gostaria de dizer meu muito obrigado aos dois e convidá-los a viver comigo um dia mais feliz do que aquele que eu lhes ofereci. Acho que todos nós merecemos isso. Um beijão para os dois e para todos aqueles que também os viram nos últimos dois meses.
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12 comentários:
Como esperei por este momento. Acho que não preciso dizer muito, apenas agradecer a voce por aquele texto lindo e dizer da minha alegria quando li sobre as indicações. Há coisas que não precisam ser ditas, voce sabe. Parabéns e sucesso.Rachel Rocha
Parabéns! Indicação merecida.
Como fazer para conseguir seus textos?
Rachel, querida, mais uma vez, obrigadíssimo pelo carinho e pela presença sempre, ainda que virtual. Ficamos muito felizes com as indicações também.
Kiko, muito obrigado também. Valeu mesmo. Olha, alguns textos meus já estão publicados, mas a maioria você só poderá ler se eu os enviar para você. Passa seu e-mail que eu encaminho com prazer. Abração
qualquer dia desses a gente se vê.beijos, Rachel
ericprieser@yahoo.com.br
Muito obrigado!
Onde eles estão publicados?
Abraço.
Sérgio,
sempre assisto suas peças, mas a Coleira eu não vi. Sabe como é, você fica dizendo "tem a peça do Roveri, vamos ver fim de semana que vem?". Aí vc assiste outra, na fé de que a montagem é eterna. Afinal, é até o fim de julho... Você cruza com o Roveri na Vila Madalena várias vezes, No Café, na rua, cruza com ele na Flip e na fila do teatro. Parece perseguição: vá ver a peça dele. Vi "Noite de aquário", direção do Ferrara, meu professor e lembro do qto amei o texto e a montagem e penso: não posso perder a Coleira. Aí vc viaja e descobre quando volta que a temporada acabou e fica buzina da vida. Aí vem indicação pro Shell e vc fica mais arrependido. Pergunta: vai voltar? Outra: também posso querer o texto? Abraço! A gente vai se cruzando na rua.
Ah, e completando... parabéns!
Pô, Flávio, não se preocupe. Isso vive acontecendo com todo mundo: a gente se programa, se programa pra ver uma coisa e, de repente, percebe que não dá mais tempo. Acho que é o preço que a gente paga por morar numa cidade com tanta coisa pra ver. A gente quer voltar, sim. Os atores, ainda mais depois da indicação, estão doidos pra fazer a peça de novo. Vamos torcer pra que role. Eu te aviso de qualquer coisa. Vamos nos falando, então. Por aqui e na rua, né? Super abraço.
Sérgio querido , já assisti a vários espetáculos com textos seus , como : O ENCONTRO DAS ÁGUAS , ANDAIME , ABRE AS ASAS SOBRE NÓS .
Mas nada ( EMBORA TENHA APRECIADO TODOS OS OUTROS ), me "bateu na ALMA" como este último " A COLEIRA DE BÓRIS " . Ainda mais quando se trata de uma montagem com aquele CUIDADO de direção , iluminação , cenário , coreografia e VOZ dos atores em cena . Um PAS DE DEUX do "mundo de fora e do mundo de dentro" de TODOS NÓS !!!
Por favor , VOLTEM AO CARTAZ.
E mais uma vez , OBRIGADO por me proporcionar essa VIAGEM aos nossos mundos inconscientes !!! ABRAÇO !
Alberico, meu querido. Muito obrigado pelo comentário. Ouvir coisas deste tipo faz com que a gente se anime para batalhar um retorno do espetáculo mesmo. Eu também gosto muito de tudo ali: dos diretores, do elenco, da luz, de tudo...E foi um texto muito estranho de escrever, viu... Precisei visitar lugares perigosos em mim também para chegar lá....beijos
Merecidíssimas indicações!
Parabéns!
(Li o seu texto "A noite do aquário" e também vi "O encontro das águas", no Direções da Cultura, além de "A coleira de Bóris". Devo dizer que descobri um grande dramaturgo.Quero mais!)
Ôpa, brigadão, Bruna, valeu mesmo. Vamos torcer para que venha mais coisa pela frente, né? Abração
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