Marcelino Freire é um destes escritores que, na vida, se misturam muito com aquilo que escrevem. E nós, com o tempo, vamos gostando cada vez mais das duas coisas: deles e daquilo que eles escrevem. Seria desnecessário aqui falar da qualidade dos seus livros Era o Dito e Angu de Sangue, apenas para ficar nos dois que estão aqui, à minha frente na estante. Hoje Marcelino me mandou um presentão: sua opinião sobre a peça A Coleira de Bóris, de minha autoria, que termina domingo no Satyros Um. Pedi licença ao Marcelino para compartilhar o presente com vocês. Está aí embaixo:
É um texto difícil este do Roveri. Reexplico: A Coleira de Bóris. Os diálogos dão saltos no escuro. Cambalhotas no abismo. Vejamos: dois detentos se encontram enjaulados, lado a lado. E não sabem por que vieram parar ali. Há tanto tempo. Onde estamos? Em que país infeliz? Soube eu que, quando escrita, a peça previa uma parede separando os personagens. Cada um na sua solitária. Nada de cara a cara. Apenas alma com alma, conversando. Vociferando, enfim. A solução, dada pelo diretor Marco Antonio Rodrigues, soltou os presos no mesmo chão. De gravitação. Eles se olham mas não se vêem. Triscam-se mais do que se tocam. Formam um mesmo espectro. Um, digamos, mais otimista. Seria? O outro, descrente. No entanto, acorrentados ambos. A caminho do mesmo futuro. Aliás, quão talentosos e vigorosos são os dois atores. Juro. Num embate cheio de arte. E fôlego. Algo que me fez lembrar o clássico Dois Perdidos Numa Noite Suja - este, mais circense. A Coleira, digamos, mais nonsense. E não menos visceral. Roveri, mais uma vez, captura com precisão o mundo-cão em que sobremorremos. Recomendo. E mais não digO. Paurabéns a todos do espetáculo. Aquelabraço forte e beijos no umbigO. Fui.
quinta-feira, julho 24, 2008
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