sábado, julho 26, 2008

Lei seca da boca pra fora

É a terceira vez, em menos de duas semanas, que eu falo sobre a lei seca aqui neste espaço. Talvez as pessoas desconfiem que eu seja contra a lei - principalmente neste fim de semana, em que as manchetes dos jornais e a reportagem de capa da Vejinha comemoram um mês da implantação da lei com índices e números pra lá de otimistas. A rigor, não sou contra o princípio da lei, mas gostaria de entender algumas coisas.

Por exemplo: vi hoje, nos jornais, que um motorista de caminhão comprovadamente alcoolizado dirigiu na contramão por uma rodovia movimentada na região de Campinas e chocou-se de frente com dois veículos, provocando a morte do motorista do primeiro carro e uma fratura no fêmur no do segundo. E o que aconteceu com ele? Simples: pagou uma fiança de R$ 1,2 mil e foi solto, como se não tivesse acontecido nada.

Depois de ler esta notícia, saí para almoçar e, ao passar pela Avenida Pedroso de Morais, em Pinheiros, vi uma imensa blitz, com policiais armados de fuzis e muitas, muitas emissoras de televisão doidas para flagrar a imagem de um motorista soprando o bafômetro às três da tarde de um dia ensolarado. Então, eu pergunto: se o camarada que saiu de casa para comer uma feijoadinha com os amigos e tomou um ou dois chopinhos tivesse sido parado pela blitz, que encheu a rua de barricadas, seria levado à delegacia, multado em quase mil reais e, dependendo da boa-vontade do delegado e da quantidade de álcool ingerida, talvez tivesse de pagar uma fiança em torno de R$ 1,2 mil para ser liberado também. Ainda que não tivesse sequer encostado o pneu da frente na faixa de pedestres.

Enquanto que o outro motorista, aquele que estava com uma quantidade de álcool no sangue equivalente a 12 chopes, que dirigiu na contramão, matou um e feriu seriamente um outro, também pagou os R$ 1,2 mil e foi pra casa. Ou seja: qualquer pessoa minimamente mal-intencionada vai pensar o seguinte - se é pra beber e pagar multa, então é melhor tomar 15 chopes logo de uma vez, sair barbarizando e acabar famoso por um dia nos jornais. Afinal, esta tão elogiada lei parece só funcionar mesmo na rua: quando os casos chegam às delegacias, todo mundo dá uma graninha e volta pra casa feliz da vida e trançando as pernas. Tenha tomado dois ou 30 chopes, esteja íntegro ou tenha matado um inocente pelo caminho. É impressão minha ou tem algo de muito errado nisso tudo?

2 comentários:

Saulo disse...

isso foi uma blitz? quando passei, imaginei que fosse algo grave, grandioso. até fiquei assustado. agora, sabendo que foi uma blitz, assustado fico é com até onde a lei seca pode chegar.

Só no blog disse...

Pois é, Saulo, era uma blitz, sim. O que me chateia nisso tudo é a televisão ali, doida pra mostrar quem tomou uma taça de vinho como se esta pessoa fosse uma criminosa. Como eu disse, eu fico muito feliz em ver que os acidentes e as mortes diminuíram, mas há algo nesta lei, ainda, difícil de engolir. Super abraço