quinta-feira, julho 26, 2007

Oh, darling, it's wonderful!

Às vezes eu recebo umas revistas bacanudas aqui em casa. Na certa, por gentileza e camaradagem das editoras. São destas revistas de papel brilhante que trazem fotos de palácios e castelos, indicações de vinhos que custam mais de cinco mil a garrafa, dicas de lugares que a gente só vai conhecer mesmo por fotografia e algumas receitas cujos ingredientes a gente nem sabia que existia. Sem falar nas páginas e páginas de editoriais de moda que a gente olha, faz as contas e percebe que só teria condições, se tanto, de comprar a gravata – ainda assim se for financiada em pelo menos cinco vezes. A cada vez que chega uma revista dessas em casa, na hora duas coisas me vêm a cabeça: 1) como eu fui parar no mailing deles? e 2) meu Deus, como eu ando pobre.

Mas estas duas constatações não me impedem de passar alguns momentos de puro deleite com a revista na mão. Não que eu deseje tudo aquilo para mim. Sinceramente não desejo, não. É um mundo tão distante deste em que eu vivi todos os meus anos que eu provavelmente não saberia dar um passo nele sem quebrar a cara. Eu só fico entretido feito uma criança diante do universo destas revistas em que ninguém é feio, ninguém dá duro, todas as mulheres são exuberantes, todos os homens são viris e cabeludos, todos os relógios têm ponteiro de ouro, todos os champanhes são franceses, todas as roupas são italianas, todas as fotos têm neve e todos os carros são vermelhos como os do James Bond.
E sabem o que eu percebi hoje, dia em que eu li uma destas revistas com mais atenção? Que é impossível ser chique em português. É verdade. Nenhum texto é escrito inteiramente na nossa língua. Todos os cabeleireiros são hair dressers, todos os bem-vestidos são fashionistas, todo chique tem style, modelo é look, bacana é hype, forma é design, alguém badalado é o talk of the town e por aí vai. Tive a paciência de contar 15 expressões em inglês em apenas uma página. Juro. Terminei de ler a matéria rindo. Sabem por quê? Quem escreveu deve ter se gabado tanto de ser poliglota, mas tanto, que o resultado da matéria parecia uma música do Zeca Baleiro. Com uma imensa diferença: o Zeca Baleiro tira sarro de tudo isso. E as revistas se levam a sério. Mas vamos dar o jogo por empatado: afinal, os dois provocam boas risadas.

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