Laerte Késsimos, jovem ator do grupo Os Satyros, tinha um gato chamado Gael. Nunca vi o bicho e nem sei por quais meios ele foi parar nas mãos do Laerte. Um dia, o Alberto Guzik, dramaturgo e ator da mesma companhia, veio me dizer que o gato tinha sumido e que o Laerte estava muito triste. Eu também fico muito triste com o sumiço dos animais. Fico pensando em como será a primeira noite deles longe de casa, o que eles vão fazer quando a fome apertar e não houver um potinho de ração ali ao lado, mas penso, acima de tudo, se como nós, humanos, eles também sentirão medo perdidos numa cidade como São Paulo.
Na semana passada conversei com o Laerte e ele havia achado Gael. Na verdade, Gael não havia sumido, ele simplesmente trocara o apartamento do Laerte pelas alamedas do cemitério da Consolação, onde passou a viver com dezenas de gatos que, como ele, provavelmente também não eram castrados. Pelo que Laerte conhecia do seu gato - se é que é possível conhecer dos gatos algo além do que eles permitem - Gael estava feliz, vivia correndo entre os túmulos, subia e descia pelos jardins, estava gordinho e, acredita seu ex-dono, usando as noites para fazer sexo como nunca havia feito antes. Gael reconheceu Laerte, se aproximou dele, aceitou de bom grado alguns carinhos do ex-dono, ronronou em seu colo até que percebeu que Laerte estava tomando o rumo de casa. Neste instante, Gael pulou dos seus braços e sumiu pelas alamedas do cemitério. Esta cena se repetiu várias vezes. É como se o gato quisesse dizer que eles podiam ser amigos, podiam se acarinhar, podiam até se amar mesmo - mas cada um em seu canto. Bem próprio dos gatos - e bem próprio de alguns humanos também.
Laerte ficou tranquilo por saber que Gael estava vivendo feliz longe de casa e que provavelmente tinha encontrado ali, no cemitério, um misto de prazer e liberdade que não havia experimentado entre as quatro paredes do apartamento de Laerte. Gael, enfim, fugiu para o cemitário para ser feliz. Às vezes, a exemplo de Gael, nós também fugimos para o cemitério em busca da felicidade. O problema é que quando esta última fuga acontece, no nosso caso, já costuma ser tarde demais. Cada vez eu acredito mais que os gatos sim sabem levar a vida.
segunda-feira, julho 09, 2007
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Um comentário:
Como já dizia o gato, "Nós gatos já nascemos pobres, porém já nascemos livres"
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