Eu fui informado, embora não tenha conseguido apurar se a notícia procede, que a Rede Globo, alarmada com os baixos índices de ibope da novela Paraíso Tropical, estaria pensando em convocar, em regime de urgência, o Alemão, vencedor do último Big Brother, para entrar na trama e turbinar a audiência. Segundo a fonte que me revelou esta informação, um ator de novelas, o autor Gilberto Braga e seus assistentes estariam criando às pressas um personagem para o loirão de cabelo arrepiado que está um milhão de reais mais rico desde a semana passada.
Odeio os big brothers. Todos eles, sem exceção. Da simplória cabeleireira Cida aos vários caubóis que passaram pelo programa, daquela altona que só sabia vomitar ao gay baiano metido a escritor, do Bam-Bam à legião de marombados e gostosonas, odeio a todos eles. Não é um ódio pessoal, desses que levam a gente a atravessar a rua ou dar meia-volta na entrada de uma festa só de saber que a pessoa capeta está lá dentro. É o ódio do que eles representam, da mediocridade que eles lapidam durante três meses em rede nacional, é o ódio à mesquinhez, às falcatruas, à falta de talento e sensibilidade, à ausência de criatividade, à preguiça intelectual, às tramóias, aos joguinhos armados para saber quem derruba quem, às calcinhas e cuecas deixadas no meio da sala, às ceninhas ensaiadas debaixo dos edredons e a toda maldita carga genética que parece moldar a personalidade de cada um deles. Sei que eles não são culpados por tudo isso - antes, são umas pobres vítimas desta sociedade que parece valorizar somente quem surge na tela de uma grande emissora de televisão ainda que para fazer em público aquilo que deveríamos ter vergonha de fazer trancados no banheiro.
No entanto, é preciso olhar com atenção para eles. E com respeito - embora, ao menos no meu caso, sem deixar o ódio de lado. Se Alemão for mesmo convocado para tirar Paraíso Tropical da mesmice, é porque o público, de alguma forma, está dando um recado aos programadores de televisão: um recado de que a fórmula está gasta, de que um novo tipo de herói ou vilão precisa ser urgentemente redesenhado, que a narrativa perdeu o fôlego e que algo precisa ser feito às pressas, para ontem. Se uma trama escrita por Gilberto Braga, comprovadamente um dos melhores novelistas do Brasil, e que traz no elenco atores do porte de Wagner Moura e Tony Ramos, precisa pedir socorro a um big brother, é sinal de que algo vai mal. É sinal de que a Globo está voando com seu transponder desligado e há um sério risco de uma grande colisão logo ali na frente.
Nesta terça-feira, durante a coletiva de apresentação do projeto de teleteatros da Cultura, o diretor Antunes Filho implorou diante de uma dezena de novos diretores que terão sua primeira experiência televisiva: "Façam alguma coisa de novo na televisão, por favor, dêem um novo respiro a este veículo, inovem!!! O grande público, que não é chamado para as coletivas, está dando seu ultimato de outra maneira: chamem um big brother para colocar a novela nos eixos. Um big brother não é solução pra nada, mas talvez seja interessante, para os programadores e diretores de televisão, ouvir o pouco, o muito pouco que eles têm a dizer. Já que o público, pelo visto, está dando o seu recado.
terça-feira, abril 10, 2007
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Um comentário:
adorei o texto. muito bem pensado!
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