Não sou médium e nem pai de santo, mas às vezes tenho certeza de que uma entidade baixa em mim. Esta entidade se chama seu Aristides, é um velhinho aposentado de direita, ranzinza e pessimista, cansado de psicologismos e panos quentes e convicto de que algumas coisas só podem ser resolvidas na base do grito e da porrada. Hoje, por exemplo, seu Aristides baixou em mim logo cedo e disse que só vai embora quando eu escrever aqui tudo o que ele está pensando. Como eu preciso de um pouco de sossego para trabalhar, vou logo dar o recado do velho para seguir com a vida depois.
Semana passada eu usei este espaço para mostrar o quanto estava indignado com os trotes promovidos pelos alunos da PUC e da FAAP, que paravam o trânsito na região de Perdizes e Higienópolis para pedir dinheiro aos motoristas. Naquele dia, o velhinho de direita também tinha me possuído, mas o humor dele estava consideravelmente melhor do que hoje. Pois bem, lendo os jornais de ontem e hoje, constato (ou seria o seu Aristides que constata, às vezes eu me confundo) que o trote da PUC e da FAAP não passava de brincadeira de criança diante das barbaridades a que foram submetidos um calouro de Medicina Veterinária de uma faculdade na cidade do Leme e uma estudante grávida em uma escola de Santa Fé do Sul. O calouro foi chicoteado, teve de chafurdar em fezes e restos de animais em decomposição, obrigado a consumir bebida alcoólica em quantidade suicida e depois, ferido e em coma, abandonado numa calçada, para ser socorrido pela mãe de um outro estudante. Deu entrada num hospital como indigente, pois os veteranos haviam surrupiado sua carteira com os documentos. Já a garota, grávida, teve as costas queimadas por uma mistura de tíner e creolina atirada em seu corpo por uma estudante de pedagogia. Os dois calouros, como era de se esperar, alegam que não têm mais condições e coragem de continuar nas escolas.
Além das atrocidades em si, o que deixa o meu velhinho de direita puto da vida é a desculpa esfarrapada das universidades. Todas elas têm, na ponta da língua, o mesmo discurso pronto e repetido dezenas de vezes nesta época do ano: dizem que vão abrir sindicância e que não podem se responsabilizar pelo que os alunos fazem além dos muros da instituição. Meu ânus, diria o velhinho de direita, que é revoltado mas odeia palavrões. É como se os pais falassem que não podem se responsabilizar pelo que seus filhos adolescentes fazem fora de casa. Não só podem, como devem se responsabilizar. Minha entidade ficaria muito menos emputecida se as faculdades fossem honestas e alegassem o seguinte: “Sim, nossos alunos são vândalos, sim. Mas eles estão com a mensalidade em dia e não é interessante para o nosso fluxo de caixa que eles sejam expulsos da instituição. Preferimos ver um calouro humilhado e queimado a ter de expulsar da escola um bando de irresponsáveis a quem acobertamos para que não haja prejuízo financeiro na nossa reconhecida instituição acadêmica. Atenciosamente, o nobre reitor”.
Seu Aristides, então, pergunta: que tipo de sindicância precisa ser aberta quando os autores destes trotes violentos são reconhecidos pelas vítimas e pelas imagens gravadas em celular? Sim, porque este show de crueldade é fotografado e filmado por outros alunos como se eles estivessem diante de uma festinha de aniversário! Os autores do trote foram reconhecidos? Sim. A culpa deles foi comprovada? Sim. Então, pronto: rua para estes canalhas. Expulsão imediata, sem choro nem vela. As faculdades não podem mais abrigar este tipo de estudante e nem ser coniventes com práticas tão aterradoras. Eles devem abandonar os bancos acadêmicos e ser entregues à polícia. Eu tenho certeza de que, se houvesse uma punição à altura da violência praticada, no ano seguinte os trotes teriam a candura de um batizado de bebê. O que motiva os estudantes a este vandalismo com hora marcada é a mesma impunidade que, com o tempo, forja a conduta e a alma dos nossos políticos.
Chega de acobertar estudantes de medicina que entram nos hospitais soltando rojões, grita o seu Aristides; chega de proteger veteranos que queimam, espancam e chicoteiam os calouros; chega de alegar que as faculdades não têm responsabilidade sobre isso. De neonazistas já bastam os que vivem na Europa, não precisamos de um criadouro deles por aqui.
Antes de liberar meu corpo para outras tarefas e seguir seu caminho de pouca luz, meu velhinho de direita pede para que eu faça ainda duas perguntas aqui:
1) Quando é que os jornais vão parar de falar desta maldita plástica da Dilma Roussef e dos inúmeros penteados que ela vem usando nas últimas semanas? Ela é uma ministra de Estado ou uma postulante ao São Paulo Fashion Week? Se os jornais insistem em dar foto de mulher na capa (afinal, dizem que vende mais), será que não existe uma cocotinha (seu Aristides, ninguém mais fala cocotinha, não me envergonhe) que ainda não tenha passado pelo bisturi, não?
2) Quando é que alguns jornais mais sérios, como a Folha de S. Paulo, por exemplo, vão parar de falar destes malditos participantes do Big Brother? A corja já invade a nossa televisão a torto e a direito e a gente ainda é obrigada a comprar jornal para ver, DIARIAMENTE, o que aquelas mentes tão brilhantes andam aprontando debaixo do sorriso amarelo do Pedro Bial.? Será que os colunistas de televisão que escrevem nos grandes jornais não encontram nada mais interessante para nos revelar?
Pronto, seu Aristides já disse tudo que tinha de dizer por hoje e agora vai tirar uma soneca. Mas eu desconfio que logo logo ele volta....
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
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10 comentários:
Seu Aristides, o senhor não está sozinho em sua indignação. Eu, cá com meus velcros, fico pensando que profissional sai de uma faculdade dessas. Ou facu, como eles dizem, por total incapacidade de lidar com palavras com mais de 3 sílabas.
Os pais têm dor na consciência por trabalhar demais, deixam os filhos crescerem como querem. E na "facu", os limites também são elásticos... Resultado: isso que o senhor leu nos jornais.
Sobre o BBB, o que mais me irrita é passar a saber o nome de todos os indigentes mentais que participam daquela droga, mesmo sem ter visto um minuto sequer do 'programa'. Tudo porque os jornais só faltam dar em manchete que a biscatinha loira chupou o pau do michezão moreno (desculpe, seu Aristides, mas o espírito que me possui é da Dercy)...
Enfim...
Seu Aristides, o bom é que o senhor pode contar com esse 'cavalo' inteligente. Biscoito fino. Abraços pro pessoal do além.
Mário Viana
Seu Mário, não é que seu comentário melhorou o meu humor? E a Dercy está te mandando um beijo enorme. Acredita que agora ela deu de esconder os peitos????
Volte o quanto antes, seu Aristides. Para falar o que muita gente pensa, mas só alguns poucos - vindos do além ou deseiláonde - têm coragem de dizer. Mais um belo texto, meu caro. Abração, PC.
BRAVO!!!!
Seu Aristides!!! o senhor disse tudo!!! Um beijo! Erika
Dona Erika, aqui é o seu Aristides. Quer me convidar para um teatro um dia desses?
Aristides para Presidente! O pelo menos com um blog. Que sane o único defeito do blog do seu cavalo: não ser diário.
abraço,
Aimar
PS Até onde sei, se há provas (fotos e vídeos) qualquer pessoa ou entidade pode entrar com uma queixa crime. Por que a OAB ou alguma ONG ligada a direitos humanos não toma o caso a peito?
Seu Aimar, como bom velhinho que sou, eu tenho muita dificuldade com este negócio de Internet. No meu tempo, era máquina de escrever. Mas assim que eu pegar jeito, apareço mais por aqui, prometo.
Seu Aristides.
Seu Aristides por acauso o senhor não teria algum amigo ou amiga por aí que queira tbem baixar ninmim?
Mas precisa ser igual que nem o senhor, tá?
Ah, eu tenho sim. O senhor prefere amigo ou amiga? Faz o seguinte: o senhor me manda suas preferências que eu escolho alguém de primeira pra baixar aí, hein....
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