Não sei se quem começou com este lance de listas foi o escritor inglês Nick Hornby naquele livro Alta Fidelidade. Pode ser que não tenha sido ele a dar a largada, mas não me lembro de outro nome que tenha incutido tanto na cabeça da gente esta mania de enumerar tudo na vida. Admito que no início até que foi engraçado: os cinco melhores filmes, os cinco melhores shows, as dez melhores capas de disco e por aí vai. O problema é que a coisa não parou e estas listas, na maioria das vezes, não produzem outro efeito na gente a não ser uma frustração por termos perdido algo algo muito importante. Vejo, por exemplo, a lista dos dez discos mais importantes da música brasileira: corro até minha estante e percebo que só tenho dois. Daí já vem a pergunta: onde eu estava com a cabeça que não comprei os outros oito? Que porcaria eu devo ter comprado no lugar daquele disco que os Mutantes gravaram no fim dos anos 60 e que agora eu não encontro mais em lugar nenhum? Então eu me conformo diante da constatação de que fui reprovado neste quesito.
Agora inventaram uma coisa muito mais perversa: a quantidade de coisas que a gente precisa conhecer antes de morrer. E eles não disfarçam, não: são tarefas que a gente precisa cumprir não para viver feliz, mas para morrer com a lição de casa feita. Tudo agora vem nestes termos: os cem livros que você precisa ler antes de morrer, os cem discos que você precisa ouvir antes de morrer, os 50 restaurantes em que você precisa jantar antes de morrer - até pouco tempo, o único direito que todas as pessoas tinham era o de morrer em paz. Agora, nem isso mais a gente tem. Eu me imagino moribundo, respirando por aparelhos e tomando soro até pelo fiofó com a expressão desolada porque ainda não conheci a Capadócia e nem me hospedei naquele hotel de Dubar que parece um cenário de Guerra nas Estrelas. Não importa se eu tive uma vida legal e honesta - o importante, agora, é provar que a gente conheceu cem lugares bacanas antes de partir desta pra melhor....
Eu acho, de verdade, que a gente tem uma única obrigação a cumprir antes de morrer: a obrigação de viver. E, se der, a de tentar ser feliz. Todo o resto é acessório: se vier, vai ser lindo, se não vier também, paciência, é porque não era realmente para ter vindo. Eu não quero, quando chegar a minha hora, ter de olhar os carimbos em meus passaportes para ver se morro com as milhagens em dia. Até porque a grande viagem a gente vai fazer sozinho - e não vai poder contar para ninguém se foi legal e muito menos mandar fotos de lá. Então, esqueçamos de todas estas listas. A vida não precisa ser assim tão certinha.
sábado, maio 03, 2008
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Um comentário:
adorei o texto e a reflexão. não vi o show da marina, e curti demais auele post tbém. bjs e até já.
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