Leio que a socialite Paris Hilton, presa por dirigir embriagada e sem a carteira de habilitação, foi libertada após passar somente três dias num xilindró de Los Angeles muito mais confortável e privativo que a moradia dos estudantes da USP, sob a alegação de que não estava se sentindo bem na cadeia. E desde quando cadeia é lugar para alguém se sentir bem? Paris, que afirma ter tido problemas respiratórios e muita depressão em sua primeira noite atrás das grades, foi posta em liberdade por orientação médica. Todo mundo sabe, no entanto, que o problema da garota é de outra ordem: ela deve ter adoecido seriamente quando notou que passaria 40 dias - era este o tempo da sentença - longe dos flashes, da badalação e dos escândalos previamente combinados para colocá-la diariamente nos noticiários do mundo inteiro. Paris Hilton, assim como Britney Spears, é vítima daquela dependência química de exibicionismo cujas crises de abstenção podem realmente levá-las à morte. E não há ironia nesta constatação: a doença parece ser fatal mesmo.
A soltura da garota me fez pensar em duas coisas. Primeiro, que estamos exportando tecnologia moral e ideológica para os Estados Unidos. Assim como aqui, agora lá os ricos também não vão para a cadeia. Ela vai passar o restante da pena em sua mansão, com uma tornozeleira que sinaliza todos os seus movimentos, acredito que do mesmo modelo daquela que ornamenta os pezinhos da bispa Sônia e seu marido Estevão. Esta sentença, tenho certeza, soaria como um presente dos deuses para uns 99% da população mundial: 40 dias numa mansão americana, com serviçais, piscina, visitas íntimas de toda ordem, bebida, noitadas, drogas, sexo and rock and roll. Tenho vontade de sair por aí com uma placa no pescoço: eu também quero ficar preso 40 dias numa mansão em Miami, como a bispa, ou em Los Angeles, como Paris Hilton. Ando tão cansado que esta pena teria gosto de spa para mim. A segunda coisa na qual pensei: não seria ótimo se a imprensa do mundo todo, num inesperado surto de inteligência, combinasse nunca mais dar nenhuma linha sobre Paris Hilton, Britney Spears e todos os seus genéricos lá e aqui? Elas podiam beber, bater em fotógrafos, sair sem calcinha, raspar a cabeça, dirigir embriagadas, se internar em clínicas de recuperação, casar num dia, descasar no seguinte, ter um filho atrás do outro, desmaiar em festas, trocar de namorado, fazer xixi em público e se drogar até estourar a aorta...e nada, nenhuma única linha em lugar nenhum do mundo. Nada de notinhas, nada de fotos, nada de chamadas nos sites da internet, apenas o maior e mais puro desprezo universal. Todo o planeta, de comum acordo, empenhado em ignorar as estripulias das duas e de todos os seus pares igualmente irrelevantes! Quantos vocês querem apostar que em uma semana elas se tornariam mocinhas do bem e, quem sabe, passassem até a fazer alguma coisa realmente proveitosa neste mundo? Nascidas e criadas na era pós-Madonna, elas não aprenderam a principal lição da mestra: a de que os escândalos sem uma dose de talento não têm graça nenhuma.
quinta-feira, junho 07, 2007
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Um comentário:
Sergio, leio que a Paris Hilton vai ter de voltar à prisão, e agora para refletir um pouco "sobre como pode fazer deste um mundo melhor"... E a gente tem de viver para ler isso.
Boa parada hoje!
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