É compreensível que os pais estejam dispostos a fazer qualquer coisa - e a falar qualquer coisa também - para proteger os filhos, ainda que estes estejam inegavelmente errados. Ainda assim, a declaraçao do pai de um dos jovens acusados de espancar uma empregada doméstica num ponto de ônibus na Barra da Tijuca, no Rio, é de provocar calafrios. Ele disse que o filho não poderia ser preso, por se tratar de um garoto com boa formação, bom caráter, endereço fixo, anos de estudo nas costas, situação financeira estável, família constituída e, quem sabe até, apartamento com vista para o mar. Caso fosse preso, o garotão seria misturado à escória da sociedade brasileira, aqueles criminosos de procedência desconhecida, uns pardos sem pedigree e seguramente monoglotas. Não foram estes os termos exatos que ele usou, mas a idéia não está muito distante. Até na hora da punição para um crime revoltante, os garotos de classe média alta, moradores da zona sul do Rio, deveriam receber um tratamento diferenciado.
Trata-se, é claro, de uma declaração absurda, mas não fora de propósito. O pai somente espera que seu filho receba o mesmo tipo de justiça que impera no País, um direito mais do que justo. Jurisprudência é que não falta neste caso: criminoso rico aguarda tudo em liberdade, os pobres que vão para o xadrez. Depois de ler todos os predicados do rapaz, a gente fica pensando numa coisa: mas não é exatamente seu currículo que deveria afastá-lo da delinquência? Sua formação, sua família e seu poder aquisitivo não deveriam ter funcionado como uma reserva moral que o impedisse de cometer tamanha atrocidade? Se nada disso funcionou, é certo que a cadeia também não vai funcionar. Mas, ao menos por enquanto, ela desponta como o endereço mais adequado para os próximos anos do rapaz.
terça-feira, junho 26, 2007
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2 comentários:
Sérgio, concordo com você em tudo, menos que é compreensível um pai fazer de tudo pra proteger o filho. É provável que ele tenha agido sempre assim, justificando erros que não são justificáveis e justamente por isso o filho dele acha que pode espancar pessoas na rua e sair impune.
Essa história é uma vergonha, do início ao fim.
Oi, Flávia, você está certíssima. Esta história é revoltante mesmo. Pior que a gente nem teve tempo de digeri-la e já fica sabendo que uns adolescentes mataram um casal ontem à noite, na frente do filho de sete anos. EStá tudo dando muito medo, né?
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