Leio segunda-feira na Internet e hoje, terça, nos jornais, que a estréia do quadro Paredão do Alemão, apresentado pelo fortão tatuado de cabelos eriçados que venceu a última edição do Big Brother Brasil, foi um dos maiores fiascos da programação da Globo. Segundo os jornais, o quadro, exibido no Fantástico, jogou os índices do ibope para o subsolo. Comemorei. Não por ele, o tal do Alemão, que como qualquer pessoa tem o desejo legítimo de trabalhar e, se possível, tentar escapar do anonimato. Comemorei porque, talvez resquício daquele pensamento de esquerda no qual fomos criados, o naufrágio do quadro representou a derrota de uma perniciosa filosofia global de querer transformar qualquer um em astro de ocasião. Alemão, pelo visto, não sabia fazer nada além de esticar o corpo ao sol e ser ora vítima, ora algoz, do festival de atrocidades que se tornou a matéria-prima daquele programinha no qual ele foi revelado. O auge do constrangimento do programa, de acordo com os jornais, se deu no momento em que ele disparou um "dispois" diante das câmeras.
Com 40 anos nas costas, a Rede Globo devia ter aprendido a mais básica das lições: a de que televisão, assim como o teatro e o cinema, não é para qualquer um. Como também não é a medicina, a odontologia, a engenharia e qualquer outra atividade do conhecimento humano que exija estudo, prática e, acima de tudo vocação. Do jardineiro que apara a grama dos parques ao cirurgião que esmiúça o cérebro humano, todos precisam de treinamento específico e muita habilidade. Por que seria diferente com a televisão? Por que alguém se safaria com dignidade diante das câmeras apenas por ter 32 dentes na boca e uma barriguinha cheia de gomos? Não funciona. E graças a Deus que não funciona, caso contrário estaríamos irremediavelmente perdidos. Existe ainda um escudo de bom-senso que, por mais que seja diariamente bombardeado, impede que uma quantidade ainda maior de sandices chegue até as nossas tevês. Claro que o bombardeio é tão intenso que muita coisa escapa, mas é prazeroso saber que alguns objetos estranhos, que atendiam por nomes como Sérgio Mallandro, João Kléber e mesmo Ratinho foram eletrocutados em algum momento. A última vítima, ao que parece, é o simplório Alemão.
Há mais ou menos três anos fiz uma longa entrevista com a atriz Regina Duarte, às vésperas da estréia do espetáculo Coração Bazar. A última pergunta que fiz, se ainda me lembro bem, abordava a chegada de tantos modelos nas novelas globais. "Não me preocupo com eles", respondeu a atriz. "Eles podem chegar aos montes. Mas só os bons irão sobreviver. Nós não precisamos nos preocupar com isso. Pode demorar um pouco, mas o tempo se encarrega direitinho de enterrar a falta de talento." Pode parecer cruel, mas alguém aí se lembra dos outros vencedores do Big Brother? Alguém sabe o que anda fazendo a cabeleireira Cida, o caubói, o Bam-Bam e aquele gay baiano metido a intelectual? Não tenho pena deles, sinceramente não. Tenho pena do que eles fazem com a gente durante quatro meses no ar. Que eles descansem em paz naquele lugar para onde, segundo Regina Duarte, o tempo os carregou. E que guardem um lugar quentinho para o Alemão, que daqui a pouco ou logo "dispois" irá para lá também.
terça-feira, junho 05, 2007
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4 comentários:
assino em baixo. ah, sorry pelo engano mas acho que em vez de comentário mandei procê o link de um texto seu. acontece... bjs
esses caras do big brother têm corpo bombado e cérebro de pamonha (pamonha tem cérebro?. Ninguém aguenta mais esse alemão!
O problema é que não é só o Big Brother.A partir dos anos 90,a TV brasileira passou por uma transfiguração inexplicável,com suas malhações e outras tranqueiras,onde o ator foi sendo progressivamente substituído pelo modelo.Que saudades das novelas protagonizadas pela Heloísa Mafalda,pelo Paulo Autran,pela Fernanda Montenegro...Beijos,querido.
mas deve ser bem legal ter a barriga com gominho e 1 milhão na conta.
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