Nas minhas férias de 2001 resolvi conhecer o Maranhão. O pacote incluía três dias na capital, São Luís e, se não me engano, cinco ou seis na região dos Lençóis. No dia de viajar para Barreirinha, cidadezinha aos pés dos Lençóis, a agência de turismo apresentou duas opções: ou seis horas de ônibus, por uma estrada mal sinalizada e esburacada, ou quarenta minutos de avião. Optei por esta última. Quando cheguei ao aeroporto, tive vontade de perguntar, na hora, se ainda era possível voltar atrás. O aviãozinho que nos levaria era um monomotor desses com jeito de parque de diversão, que o piloto, e isso não é brincadeira, o empurrava pela pista como se empurra um carro que ficou sem bateria.
Embarquei na companhia de mais três passageiros. Como eu era o mais alto, o piloto pediu para que eu me sentasse ao seu lado, numa espécie de cabininha, para que eu pudesse, inclusive, ajudá-lo a verificar o travamento das portas. Nossa decolagem atrasou uns dez minutos, porque um grupo de urubus resolveu dar uns rasantes pela pista. Hoje eu encaixo esta experiência em algum lugar entre o medo mais profundo e a excitação mais juvenil. O aviãozinho subia e descia a cada golpe de vento, jogava para os lados como se fosse um barquinho a vela e tinha a mesma estabilidade de um bêbado tentando atravessar a rua.
Quando estávamos a uns dez minutos dos Lençóis, surgiu uma nuvem preta no nosso horizonte, dessas que indicam tempestade e põem medo até em quem está com os pés no chão, imaginem em nós. O piloto disse que baixaríamos um pouco, mas não havia jeito de evitar a nuvem. Entraríamos nela em poucos segundos. Respiramos fundo e encaramos. Houve sacolejos, trepidações e, acredito, muito pavor entre eu e meus três companheiros de vôo. Um ou dois minutos depois, ao sairmos da nuvem, fomos presenteados com uma das paisagens mais exuberantes que este país tem a oferecer: aquela quantidade enorme de lagoas naturais, verdes e azuis, a transformar as dunas dos lençóis num cenário de sonhos.
Ainda hoje, quando uma dessas nuvens muito negras e muito pesadas aparecem no meu caminho, eu tento me lembrar daquela nuvem que descortinou a paisagem dos Lençóis diante dos meus olhos. Infelizmente, nem sempre o que surge depois destas nuvens de agora, tão carregadas e tão negras como aquela do passado, são mais lagoas coloridas. E, mais infelizmente ainda, hoje eu preciso de muito mais do que um ou dois minutos para encontrar o caminho de saída de todo este breu. Mudei eu ou mudaram as nuvens?
Um dos três passageiros a bordo era o querido Alberto Guzik. Talvez ele também se lembre daquela nuvem negra. E talvez, como nós todos, precise respirar fundo e acreditar que o aviãozinho da nossa vida pode estar nos levando para algum lugar bonito.
segunda-feira, março 17, 2008
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Um comentário:
e como lembro, meu deus, como lembro! e que lindo post. como todos, mas cada dia te acho mais feliz e justo nos posts. [[[]]]
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