Na semana passada participei de uma entrevista coletiva com uma das mais famosas atrizes da tevê brasileira. Houve um tempo em que eu gostava muito das coletivas. Hoje, na maioria das vezes, saio deprimido delas. Desconfio que eu já me tornei uma espécie de dinossauro do jornalismo - na maioria das coletivas, costumo estar entre os profissionais com mais tempo de carreira... e de idade. A maioria dos meus colegas ou já abandonou a profissão ou está ocupando cargos de chefia e por isso se afastaram da reportagem. Eu já ocupei cargos de chefia também, mas não sinto saudade destas épocas. A reportagem ainda é, na minha opinião, a faceta mais emocionante que o jornalismo pode oferecer a quem o pratica.
As coletivas sempre foram a grande oportunidade de trocar experiências e conhecimentos com os colegas que cobriam a mesma área e também com o entrevistado. Era o momento de aprender com perguntas inteligentes que sempre provocavam respostas idem. Infelizmente, isto acabou - ao menos para um determinado segmento do jornalismo cultural. Os jovens profissionais, talvez seduzidos pelas publicações que só enaltecem os famosos, não estão mais interessados em perguntar nada - eles querem apenas tornar públicos seus elogios. Aliás, me parece que fazer pergunta está fora de moda no jornalismo: boa parte dos repórteres está muito mais interessada em dar suas próprias opiniões ou exibir seus parcos conhecimentos sobre algum tema do que em indagar o entrevistado. Você participa durante uma hora de uma coletiva e volta para casa com as mesmas informações que já constavam do release.
Nesta coletiva da semana passada, um repórter, o primeiro a segurar o microfone, disse que mal via hora de o espetáculo estrear, porque tinha certeza de que seria emocionante. Onde estamos, eu pensei na hora. Em um evento profissional ou tomando um chá da tarde na casa da nossa avó? Que me interessa saber para quem ou o quê o repórter está torcendo? Se ele quer felicitar um artista pelo seu desempenho, que mande um e-mail, passe na papelaria e compre um cartão ou vá bater na porta do seu camarim. Entrevista coletiva existe para que perguntas sejam feitas e, neste caso, é muito mais produtivo para os leitores constatar que o artista foi colocado numa sinuca do que presenciar todos os galanteios feitos em público por profissionais que são pagos para questionar, e não para bajular.
Há algum tempo, uma jovem repórter perguntou em uma coletiva se a atriz Marisa Orth se lembrava que elas tinham compartilhado de um mesmo camarote em um carnaval de Salvador. Como a memória da atriz não colaborava, a repórter ajudou: eu estava com o cabelo diferente... lembrou agora? Tive vontade de me enfiar debaixo da mesa. Ou de apanhar o microfone para dizer que não, eu não fazia parte deste novo time. Espero não estar sendo presunçoso ao escrever tudo isso. É só o desabafo de alguém que tá velhinho pra sair de casa, pegar trânsito, pagar estacionamento e depois de tudo passar uma hora ouvindo elogios descabidos a trabalhos que ainda nem disseram a que vieram.
quarta-feira, outubro 31, 2007
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5 comentários:
Essa do cabelo foi foda...
Concordo com você, mas acho que este "desvio" não é privilégio do jornalismo, não. Na maior parte dos debates, palestras e afins, a que compareço (sobre quaisquer temas), chego à conclusão de que poderíamos ter resolvido as questões todas em um terço do tempo... Os outros dois terços, quase sempre, foram gastos com exibicionismos e introduções intermináveis que às vezes, no fim das contas, nem chegam aos questionamentos de fato. Dá uma preguiça...
Eu, sinceramente, sinto vergonha pelos outros.
Sou estudante de Pedagogia e mesmo todos os doutores, pós-doutores e sei-lá-o-que-mais-pós-doutores professores da minha universidade não escapam das perguntas mais tolas e do exibicionismo constante de alguns alunos nas aulas.
Bom, se até no Futebol, repleto de "críticos e experts" nesse nosso Brasil estamos assim nessa rasgação de seda, imagino no meio cultural.. deve ser entediante mesmo!
Abraços Sérgio :D!
Concordo, Sérgio, dá vontade de se jogar debaixo de uma mesa qualquer. Já vi jornalista, nem tão novinha sim, falar para o presidente de uma operadora que ela assinavam a banda larga de um concorrente e que oferta ele teria para atraí-la. Pelamor...
Concordo, Sérgio, em partes. Coletivas são um exercício de paciência. Como estou neste novo time que você cita (pela idade e pelo pouco tempo de jornalismo), não sei se o fenômeno da falta de perguntas e dos questionamentos imbecis é recente ou nem tanto assim. Mas tbm preciso defender o meu lado: não são todos os novos jornalistas que tentam bajular os entrevistados ou se saem com aqueles desperdícios de tempo ("como vc sente?" é um clássico, quando a coletiva de 45 minutos já está nos 42). E olha que na minha área atual (televisão) é ainda pior, aposto. Mas, de vez em quando, para não cairmos no desânimo completo, é preciso se concentrar um pouco nas exceções.
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