A academia de ginástica que eu frequento ocupa um prédio envidraçado de dois andares no bairro do Sumaré. Do segundo andar, onde estão instalados os equipamentos de musculação, é possível ver as duas piscinas que ficam no térreo - a adulta, onde eu já presenciei alguns alunos fazendo até aulas de mergulho, e a infantil, de longe o lugar mais divertido de toda academia. Esta semana, enquanto tentava me adaptar à minha nova série de exercícios, fiquei emocionado com um tipo de treinamento que unia mães e seus bebês pequenos na piscina infantil.
O treinamento era simples. As mães, a maioria delas em elegantes trajes de natação, tinham de erguer seus bebês um pouco acima de suas próprias cabeças, e caminhar com eles de uma margem à outra da piscina. Talvez algumas pessoas se perguntem: mas o que há de emocionante nisso? Eu explico: a expressão de vitória estampada no rosto de cada uma delas. Naqueles breves minutos do exercício, era como se seus filhos não fossem apenas filhos, mas venerados troféus que elas exibiam aos professores, aos demais alunos e, salvo exagero de minha parte, também aos céus. Os bebês em suas touquinhas coloridas eram a prova inconsteste de que algo havia dado certo na vida delas, e por isso podiam ser exibidos acima de suas próprias cabeças. E lá iam as mães, em grupos, movendo-se contra a pressão da água, plenas de vida com suas crias perfeitas e belas.
Havia algo de ancestral naquela cena - fêmeas jovens orgulhosas de seus rebentos saudáveis. A emoção que me invadiu devia-se exatamente a isso: a certeza de que a natureza permitiu às mulheres serem divinamente mais animais do que nós os homens. Existe algo que demonstre mais o poder da natureza do que uma mulher grávida? Existe alguma imagem mais maravilhosamente eficaz do que a de uma mulher amamentando para nos lembrar de nossa condição de primatas evoluídos? Eu sempre pensei que está nelas, nas mulheres, esta ligação mais terna e profunda com algum lugar remoto de onde viemos. E não há excesso de romantismo nisso, não. O mesmo ser humano que chega à lua e é capaz de outras proezas tecnológicas, um dia procurou faminto o seio de sua mãe, como fazem os cães, os gatos e nossos irmãos chimpanzés. E são estes dois momentos, a gravidez e a amamentação, a principal peça de resistência de nossa sociedade. Enquanto nascermos delas e procurarmos seus seios para algum tipo de alimento que só se encontra ali, eu sinto que tudo ainda está em ordem. E a coroação disso tudo, para mim, foi ver aqueles bebezinhos como acessórios de uma comovente prova olímpica - eles eram, no fundo, o bastão que suas mães algum dia irão entregar para a grande atleta que está logo ali, correndo incansável na frente de todos nós: a vida.
sábado, outubro 27, 2007
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4 comentários:
Belíssimo texto Roveri...Com certeza essas imagens são as mais belas que a natureza humana nos proporciona, e para as mães não importa se crescemos, seremos sempre um troféu em suas mãos. Forte Abraço.
Lindo texto. Ser mãe deve ser incrível, ter um contato tão íntimo e tão profundo com uma criatura que é, na verdade, um pedaço de você...
Ainda não assisti ao filme Atrizes (estou muito curiosa), mas ontem assisti Piaf e saí completamente encantada...
Assista, caso você não tenha assistido... A interpretação da atriz é fantástica e o filme é muito sensível. Fica aqui minha dica!
Um beijo!
Fábio e Isabela, muito obrigado pela visitinha ao blog e pelas palavras tão bacanas. Valeu mesmo.
Isabela, eu vi Piaf, sim. Aquela atriz merece todos os prêmios do mundo, né?
Forte abraço pra vocês
lindo,lindo texto, serginho. lindo. saudades. bjs
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