terça-feira, outubro 16, 2007

Chiquinha

Esta é uma fábula de final triste. Na cidade de São José do Rio Preto vivia uma família que tinha uma gata chamada Chiquinha. Um dia, a família precisou se mudar e, por algum motivo que ninguém conseguiu descobrir, decidiram não levar a gata junto. Um casal de vizinhos passou, então, a cuidar de Chiquinha. Mas, como todos sabem, os gatos são muito apegados à casa em que vivem - e aos donos também, embora insistam em pregar o contrário. Com Chiquinha não foi diferente: ela comia ao lado dos novos donos, mas passava o resto do tempo no portão da casa em que nasceu e viveu toda sua vida até ser deixada para trás.

Um dia chegaram os novos moradores para ocupar a velha casa de Chiquinha, entre eles um estudante de direito de 26 anos, dono de dois cães pitbull. Com medo dos cães e talvez por desconfiar que aquela casa já não era mesmo sua, Chiquinha nunca cruzou o partão: ficava o tempo todo na calçada, provavelmente ainda tentando compreender o abandono, coisa que nós humanos também não conseguimos aceitar direito. Chiquinha não fazia nada além de olhar, mas apenas isso irritou o estudante de direito.

Ao voltar da faculdade uma noite dessas e ver a gata novamente na calçada, o estudante não se conteve. Apanhou Chiquinha pelo rabo, a girou duas vezes em torno da cabeça e a arremessou contra um muro. Algumas pessoas que passavam pelo local interromperam a barbárie e denunciaram o estudante à polícia, no momento em que ele se preparava para pisotear a gata.

Chiquinha quebrou as duas patinhas dianteiras e, apesar de uma cirurgia que tentou reconstituir seus ossos com pinos de metal, ela ficou praticamente aleijada - consegue se locomover, mas manca muito.

A notícia só não dizia se Chiquinha ainda insiste em sentir saudades e a observar por longas horas a casa em que nasceu...

Em pouco tempo aquele estudante estará formado, apto a entrar com celular nos presídios de segurança máxima ou a colaborar com traficantes e sequestradores. E nós, como Chiquinha, continuaremos nossa marcha em direção a algum futuro incerto. Mancando cada vez mais.

3 comentários:

Anônimo disse...

e é capaz de tudo isso sobrar pros pit-bull do estudante. Será que foram os pit-bulls que influenciaram a mente insana dele?!

Adoro ler esse blog!

Mari Marcondes disse...

Triste.
Muito bonito o seu texto.

Unknown disse...

Longa vida à Chiquinha...