quinta-feira, setembro 27, 2007

Olha o passarinho!

Sei que há algum tempo eu já abordei este assunto por aqui, mas volto a ele porque é algo que realmente me intriga. A capa da revista IstoÉ Gente desta semana traz o ator Marcos Palmeira segurando nos braços sua filha recém-nascida, que já sabemos chamar-se Júlia. O ator está usando um avental verde claro e uma touca da mesma cor, o que nos leva a crer que tinha acabado de sair da sala de parto quando a foto foi feita. Assim, a pequena Júlia pode ter sido apresentada primeiro à lente dos fotógrafos e só depois ao seio materno. Como nunca trabalhei em revistas de celebridades, tenho curiosidade em saber como são feitas transações jornalísticas como esta da qual participou o galã global. É alguém da revista que liga para ele perguntando a que horas está marcado o parto? Ou seria ele próprio ou alguém de sua confiança a telefonar para as redações dizendo que encontra-se liberada a entrada no berçário para repórteres, fotógrafos e cinegrafistas? E a mais indelicada das questões: estas transações envolvem alguma remuneração ou é apenas a vaidade pessoal que está em jogo?

Faço estas perguntas porque realmente tenho curiosidade em saber por quais caminhos algumas das questões mais privadas das celebridades chegam ao conhecimento público. Como qualquer frequentador de consultórios médicos e dentários e de salões de cabeleireiros eu passeio curioso por estas publicações em que a notícia costuma ser a decoração da sala, o novo filtro da piscina, algum roteiro de viagem ou, acima de tudo, os descaminhos sentimentais dos famosos. De tudo que li a este respeito, três episódios insistem em permanecer na minha memória. O primeiro deles mostrava a mãe do cantor Herbert Vianna após o acidente em que morreu a mulher do líder dos Paralamas. A mãe foi flagrada deixando flores no túmulo da nora. Não consegui entender se a imagem foi fruto de alguma combinação com os editores da revista ou se era apenas obra de algum fotógrafo absolutamente inoportuno. O segundo flagrante mostrava a apresentadora e atriz Babi curtindo "sozinha" o fim de um namoro numa cabana em Campos do Jordão. Como em cada foto ela exibia uma roupa diferente, imagino que sua solidão foi aplacada por uma equipe de produtores, figurinistas, maquiadores e fotógrafos. E o terceiro revelava a apresentadora Ana Maria Braga de joelhos no santuário de Fátima, em Portugal, pagando uma promessa por ter vencido uma doença grave. São exemplos típicos de situações que parecem exigir recolhimento e respeito, devoção e silêncio, solidão e quietude. Mas nada disso integra mais o glossário de alguns famosos.

Os fatos, quaisquer que sejam eles, perderam a importância como fatos em si - eles só passam a ter sua existência justificada quando chegam às páginas de revistas. Acredito que não haja saudosismo algum, ou ingenuidade alguma, em acreditar que alguns episódios na vida de qualquer pessoa, independentemente do seu grau de exposição na sociedade, deveriam dizer respeito somente a ela, seus familiares e amigos mais próximos. Mas alguns artistas estão se tornando peritos em banalizar sua privacidade. Reclamam dos paparazzi apenas quando estes chegam em momentos inoportunos - como se restasse aos paparazzi alguma outra alternativa. Mas, na maioria das vezes, parecem enxergar neles um termômetro de sua própria popularidade e cotação no mercado. E assim, do berço ao túmulo, seguem acreditando que eles próprios são, no fundo, o mais interessante e irresistível personagem que poderiam vir a representar.

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