quarta-feira, agosto 08, 2007

Pero no mucho

Me pergunto por que motivo eu não fiquei, ao contrário dos meus amigos e de praticamente toda a crítica, tão apaixonado pelo filme argentino As Leis de Família, em cartaz na cidade desde sexta-feira passada. O filme está cheio de todas aquelas qualidades que, nos últimos tempos, colocaram a cinematografia argentina entre as mais expressivas do mundo: a narrativa é terna e envolvente, o elenco é de uma competência bem acima da média e ainda há aquela habilidade rara dos argentinos de discutir as questões políticas do país sem cair em maniqueísmos e panfletagem. Apesar disso, na metade da projeção eu já sabia que, ainda que houvesse um final surpreendente - o que realmente não há - eu não sairia arrebatado do cinema.

Começo a desconfiar, embora eu não me julgue habilitado para fazer tal julgamento, que todos estes predicados do filme são o resultado de uma fórmula certeira que os diretores argentinos, com poucas exceções, têm empregado desde o fenomenal sucesso de O Filho da Noiva. Aos poucos, já ando confundido os nomes e as histórias de tantos filmes argentinos que chegam até aqui, sempre embalados por uma pequena crise familiar que serve de alimento para que se discuta a corrupção e a recente crise financeira que praticamente quebrou o país. Mas o retrato que eles fazem de si próprios, como pais, mães, irmãos e cidadãos, é tão meticulosamente equilibrado que nada chega a doer muito. E tenho um medo sincero de que em pouco tempo a cinematografia argentina, tão talentosa, venha a se constituir um monumento ao palatável. Precisamos urgente de um novo Plata Queimada.

7 comentários:

Anônimo disse...

Olá, você é o Sérgio Roveri dramaturgo? Se sim, você deve ser amigo do Ricardo Moreno, né? Sou fã de vocês dois...

Só no blog disse...

Olá, Lislane, sou eu mesmo. Obrigado pela visita ao blog e, principalmente, pelo carinho... Eu também sou fã do Ricardo Moreno, mas não vai contar isso pra ele que ele já vai ficar metido. Beijão.

Anônimo disse...

ahahahahahahaha.

Anônimo disse...

ainda não vi o filme mais incensado do momento,
mas gosto TANTO qdo alguém ousa ir contra o pensamento comum.

alberto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
alberto disse...

viva. assino em baixo. e pensando na primeira reação que você teve ao ver plata quemada, percebo uma linda re-reflexão. salve serginho!

Anônimo disse...

Concordo com você. Eles são bons narradores, e a cinematografia argentina que chega ao Brasil é um tanto uniforme no estilo (exportação ?). Acho que a culpa também é dos distribuidores - trazem para o Brasil o que deu certo, sem arriscar. O mesmo ocorre com o cinema iraniano/oriente médio. Deste último, é raro aparecer por aqui algo como "O Edifício Yacoubian", que é representativo do gosto daquela região.