Estou envolvido, há pouco mais de um mês, em um dos projetos teatrais mais difíceis da minha carreira. Fui procurado por alguns amigos queridos, dois atores e um diretor, interessados em um texto para que trabalhássemos juntos - eles e eu. Pedi alguns dias para pensar a respeito - na verdade, no meu íntimo, eu já tinha aceitado o convite de cara, o prazo era para que surgisse alguma idéia, alguma proposta de texto. E ela surgiu. Voltei a me reunir com eles, expliquei sobre o que estava querendo falar e eles me deram sinal verde para seguir adiante - tinham comprado a idéia. E, desde então, venho sofrendo diariamente com este trabalho, por um motivo muito claro para mim: resolvi falar sobre algo que não domino, sobre uma realidade que não é exatamente a minha, sobre pessoas com as quais não cruzo no meu dia-a-dia. Em resumo, resolvi falar sobre o que me é estranho, e isso não é fácil. Talvez porque, até agora, eu tenha recorrido principalmente à observação do cotidiano para alimentar a minha escrita.
O trabalho está me levando a leituras que não eram as minhas habituais, está me conduzindo por assuntos nos quais sou leigo, e justamente por isso talvez esteja me dando tanto medo e insegurança. Mas hoje recebi uma compensação. Pedi ao Márlio, um amigo psicanalista, para que discutisse comigo sobre como poderiam ser as relações humanas daqui a algum tempo. Claro que é um exercício de futurologia que talvez não tenha fundamento algum. Em vez de conversar, ele preferiu me escrever. Hoje ele me enviou a sua visão do futuro. Por motivos profissionais, não posso publicar aqui, pelo menos por enquanto, tudo aquilo que ele me escreveu, embora seja grande a vontade de compartilhar com vocês. Posso, no entanto, dizer que era um texto otimista, que não via o nosso futuro ocupado apenas por guerras e escassez. Estamos já batendo na porta deste novo mundo e, segundo ele, teremos a chance de desenhá-lo de acordo com os nossos desejos. Se quisermos as guerras, elas virão; se clamarmos por novos Bushes, eles também aparecerão; se quisermos nos tornar egoístas, mesquinhos e solitários, nada mais fácil. A impressão que tive, ao terminar de ler o grande e-mail deste novo amigo, é que estamos diante de uma gigantesca folha em branco, à espera de receber a nossa história pessoal e a história que queremos para a nossa espécie. Está tudo em nossas mãos. E este é o meu grande medo: saber que é uma missão que não podemos delegar a Deus, aos cientistas, aos políticos e aos teóricos apenas - todo o mérito e toda a culpa serão nossos.
quarta-feira, agosto 15, 2007
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3 comentários:
Eu também tenho medo, muuuuuito medo.
Sérgio, qual não foi minha surpresa hj ao ler seu blog e encontrar um amigo imaginário meu.
Sim, o Márlio é meu amigo imaginário que cuida de uma super amiga real. Não o conheço pessoalmente mas acabo ouvindo muito sobre ele e agora o encontrei aqui tb. O mundo é bem pequeno, né?
Boa sorte no novo projeto e beijos.
Flávia, querida. Que grande coincidência esta, hein. Quando eu estava escrevendo, pensei se deveria ou não colocar o nome dele, pois não havia pedido autorização. Mas resolvi colocar. Pelo visto, fiz bem, né? Beijão
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