No início do ano, os empresários do setor de entretenimento (leia-se donos de redes de cinema, casas de show e teatro) lançaram uma campanha, ao que parece justa, para coibir o uso de carteirinhas de estudantes falsas - aquelas emitidas por lanchonetes, pizzarias e emissoras de rádio. Segundo eles, o uso indiscriminado destas carteiras os obrigava a elevar o preço dos ingressos para cobrir os prejuízos causados pela meia entrada. De acordo com este raciocínio, todos eram obrigados a pagar mais caro para custear o benefício para uma legião de falsos estudantes. Com a diminuição do uso de carteiras falsas, eles alegaram, seria possível baixar o preço dos ingressos e toda a sociedade sairia ganhando. Raciocínio lógico e coerente.
Pois bem. Acredito que há mais de um mês os cinemas e casas de shows estão mais rígidos na hora de vender os ingressos para os portadores de carteirinhas de estudante. Agora, além da carteirinha, é exigido também o atestado de matrícula e, no caso de faculdades pagas, o boleto do mês vigente devidamente quitado. Assim, dentro de pouquíssimo tempo devemos esperar por uma redução no valor das entradas, certo? DUVIDO. Tenho certeza de que o impacto desta medida já está sendo sentido no caixa dos estabelecimentos de diversão. Resta saber, agora, quanto tempo deveremos esperar para pagar menos para ver um filme, uma peça ou assistir a um show. Mas, neste país, calejados que somos, tenho certeza de que estamos diante de um novo golpe, como aquele da CPMF. Vão dizer que ainda é cedo para falar em redução no preço dos ingressos, que o impacto ainda não foi sentido, que a medida não surtiu o efeito necessário, enfim, desculpas não vão faltar aos empresários que querem manter o preço do nosso cineminha nas alturas. Acredito já estar na hora de a imprensa fazer uma matéria sobre este primeiro mês em que só as carteirinhas verdadeiras foram aceitas: como foi o movimento nas bilheterias? o público aumentou ou diminuiu? qual foi a porcentagem de estudantes que foram ao cinema em comparação ao mês passado? foram vendidos mais ou menos ingressos? Ou seja, há uma boa lista de perguntas que os empresários poderiam responder agora. Poderiam, não. Deveriam.
Ontem fui ao cinema e paguei R$ 19 pelo ingresso. Resolvi comprar um saco de pipoca: R$ 8 - semana passada, na feira, comprei por um real um saquinho com milho suficiente para fazer pipoca para uma fileira inteira de cinema. Deixei meu carro na rua para evitar pagar em torno de R$ 15 de estacionamento. Façamos as contas: um sujeito que sai de casa sozinho para ver um filme e comer uma pipoca vai gastar 27 reais se deixar o carro na rua - se quiser ter a segurança de encontrar o veículo quando voltar, a conta sobe para 42 reais. QUARENTA E DOIS REAIS para um filme, uma pipoca e um estacionamento. Daí a gente sai do cinema e vê os filmes que acabaram de estrear sendo vendidos no camelô da calçada por oito pilas. Agora eu pergunto: como é que a gente vai criticar a pirataria deste jeito? Não é mais uma questão ética, é uma cálculo básico de sobrevivência. Ou o cinema fica mais barato ou a gente vira freguês do camelô da calçada - e do pipoqueiro da calçada também, que por dois pilas enche o nosso saquinho com pipoca doce embaixo, salgada em cima e ainda dá um chorinho.
segunda-feira, agosto 06, 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
absurdo mesmo. reflexo dessa sociedadezinha hipócrita em que vivemos.
caro, concordo total contigo. raciocínio exato. [[]]
Sou leitor assíduo do blog já faz um tempo. E agora a pouco me surpreendi com uma nota publicada lá no Blue Bus muito parecida com esse seu texto. Segue o link:
http://www.bluebus.com.br/show.php?p=1&id=78527
No mais, parabéns mesmo, gosto muito do que leio por aqui.
Lucas, Guzik e Guilherme: já disse isso, mas nunca é demais repetir. Fico muito feliz de saber que gente tão bacana e inteligente dá uma paradinha por aqui. Guilherme, obrigado pelo link que você me enviou. Vou ver agora mesmo. Super abraço.
Oi Roveri
Faz algum tempo que não passava aqui pelas suas terras, poi havia trocado de computador e perdi meus bookmarks.
Como me sentia em atraso, resolvi dar uma olhada em texto mais antigos e topei com esse, que vê a questão da meia entrada por uma lado que não tinha pensado ainda. Muito legal.
Recomendo o texto que a gente fez questão de postar integralmente, campanha da rede globo contra a meia entrada. É de uma hipocrisia sem tamanho. Enfim, o link é esse que segue:
http://www.bacante.com.br/blog/2007/07/tragdia-na-comdia.html
não entendi. Quando você compra um filme pirata ele também vêm com saco de pipoca e estacionamento?
E se deve existir meia-entrada por que é que pipoca não tem meia-tarifa? Afinal alimentação é necessidade ainda mais primordial que cultura...
Postar um comentário