terça-feira, maio 04, 2010

O bom filho à casa torna...

Se este espaço fosse uma criança, teria morrido de inanição nas últimas semanas. Não me lembro de outro período em que eu tenha sido tão relapso com este blog. Dei início e apaguei vários posts. Nada do que eu começava a escrever me parecia interessante. Se não era interessante a mim, imagine aos outros. Já antecipo, para evitar futuras decepções, que o que segue abaixo talvez não seja interessante também, mas espero que sirva de aquecimento para alguém que estava tão afastado deste pequeno confessionário virtual.

Foi o trabalho que me deixou longe. O excesso de trabalho, quero dizer. Gosto de trabalhar, mas não muito. Resolvi perder a vergonha de confessar isso diante de uma sociedade que parece admirar tanto os workaholics. Eu não admiro, sinto muito. Por mais excitante e compensador que seja o trabalho, sempre achei que quem passa 18 horas por dia enfurnado nele está tentando fugir de alguma coisa. Generalizar é um erro, eu sei. Mas todas estas pessoas que se orgulham em dizer que dormem cinco horas por noite e passam o resto do tempo trabalhando me dão um pouco de medo. Medo de mim, principalmente, porque na presença delas – e elas são muitas – eu me sinto um vagabundo. A cada dia eu aprendo a admirar mais os meus dois gatos, que dormem 18 horas por dia e tentam ser felizes nas seis que restam.

Nestes últimos tempos, no entanto, estive bastante afastado deste ideal felino de ser. Não cheguei às 18 horas de trabalho, e nem pretendo. Mas acho que me aproximei bem das 12 ou 13, o que também me parece bastante. Ao final de uma jornada deste porte, minha cabeça está esvaziada. Preciso recarregar a bateria longe de computadores e telefones. Volto-me, então, aos livros, filmes, programas televisivos de baixíssima qualidade – e eles existem aos montes – ou cervejinha com os amigos. Este último quesito é o meu predileto. Ainda mais quando os amigos não exigem discursos bacanas, posturas políticas ou raciocínios muito elaborados.

Falando em amigos, tenho vários que conseguem se dedicar a sete ou oito projetos simultaneamente. Eu, quando tenho três, já jogo a toalha. Meu cérebro não é multifuncional. Ele opera para trabalhar em um projetinho de cada vez – ao menos se esforça para fazê-lo bem. Só depois de concluído um trabalho, é que consigo pensar em outro. Paguei caro nas vezes em que desrespeitei este meu jeito: acordo de noite preocupado com prazos, perco o apetite diante de resultados finais que não me agradam e sinto uma compulsão para pegar o telefone e dizer para quem me contratou que estou abrindo mão de tudo. Como acho péssimo fazer isso, estou cada vez mais no lema devagar e sempre.
Assim, sempre que notarem minha ausência prolongada por aqui, podem apostar em duas coisas: ou é muito trabalho ou é vagabundagem total. Torçam pela segunda alternativa!

Drops 1: fui assistir ao filme Alice, de Tim Burton, alguns dias depois de ver o filme do Chico Xavier. Com todo respeito que o filme do Daniel Filho merece, cheguei à conclusão de que, em Alice, a vida que nos espera depois que a gente vai pro buraco é muito mais bacana e divertida. Se a gente vai mesmo encontrar alguém do lado de lá, espero que seja o Chapeleiro Maluco.

Drops 2: tenho ido ao menos uma vez por semana visitar o querido amigo Alberto Guzik no hospital. O Guzik, quando estava bem, era uma dessas pessoas que conseguiam se envolver em dez atividades simultaneamente. E eu nunca entendi como ele conseguia dar conta de todas elas. Deve ser genético, porque mesmo agora, preso a uma cama de hospital, ele consegue estar muito mais informado do que eu sobre o mundo aqui fora. Ele sabe de todas as estreias, todos os filmes e todas as festas. Acho que ele tem um anjinho da guarda muito fervido, que sai todas as noites para descobrir o que está rolando do lado de cá do hospital.

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