Se este espaço fosse uma criança, teria morrido de inanição nas últimas semanas. Não me lembro de outro período em que eu tenha sido tão relapso com este blog. Dei início e apaguei vários posts. Nada do que eu começava a escrever me parecia interessante. Se não era interessante a mim, imagine aos outros. Já antecipo, para evitar futuras decepções, que o que segue abaixo talvez não seja interessante também, mas espero que sirva de aquecimento para alguém que estava tão afastado deste pequeno confessionário virtual.
Foi o trabalho que me deixou longe. O excesso de trabalho, quero dizer. Gosto de trabalhar, mas não muito. Resolvi perder a vergonha de confessar isso diante de uma sociedade que parece admirar tanto os workaholics. Eu não admiro, sinto muito. Por mais excitante e compensador que seja o trabalho, sempre achei que quem passa 18 horas por dia enfurnado nele está tentando fugir de alguma coisa. Generalizar é um erro, eu sei. Mas todas estas pessoas que se orgulham em dizer que dormem cinco horas por noite e passam o resto do tempo trabalhando me dão um pouco de medo. Medo de mim, principalmente, porque na presença delas – e elas são muitas – eu me sinto um vagabundo. A cada dia eu aprendo a admirar mais os meus dois gatos, que dormem 18 horas por dia e tentam ser felizes nas seis que restam.
Nestes últimos tempos, no entanto, estive bastante afastado deste ideal felino de ser. Não cheguei às 18 horas de trabalho, e nem pretendo. Mas acho que me aproximei bem das 12 ou 13, o que também me parece bastante. Ao final de uma jornada deste porte, minha cabeça está esvaziada. Preciso recarregar a bateria longe de computadores e telefones. Volto-me, então, aos livros, filmes, programas televisivos de baixíssima qualidade – e eles existem aos montes – ou cervejinha com os amigos. Este último quesito é o meu predileto. Ainda mais quando os amigos não exigem discursos bacanas, posturas políticas ou raciocínios muito elaborados.
Falando em amigos, tenho vários que conseguem se dedicar a sete ou oito projetos simultaneamente. Eu, quando tenho três, já jogo a toalha. Meu cérebro não é multifuncional. Ele opera para trabalhar em um projetinho de cada vez – ao menos se esforça para fazê-lo bem. Só depois de concluído um trabalho, é que consigo pensar em outro. Paguei caro nas vezes em que desrespeitei este meu jeito: acordo de noite preocupado com prazos, perco o apetite diante de resultados finais que não me agradam e sinto uma compulsão para pegar o telefone e dizer para quem me contratou que estou abrindo mão de tudo. Como acho péssimo fazer isso, estou cada vez mais no lema devagar e sempre.
Assim, sempre que notarem minha ausência prolongada por aqui, podem apostar em duas coisas: ou é muito trabalho ou é vagabundagem total. Torçam pela segunda alternativa!
Drops 1: fui assistir ao filme Alice, de Tim Burton, alguns dias depois de ver o filme do Chico Xavier. Com todo respeito que o filme do Daniel Filho merece, cheguei à conclusão de que, em Alice, a vida que nos espera depois que a gente vai pro buraco é muito mais bacana e divertida. Se a gente vai mesmo encontrar alguém do lado de lá, espero que seja o Chapeleiro Maluco.
Drops 2: tenho ido ao menos uma vez por semana visitar o querido amigo Alberto Guzik no hospital. O Guzik, quando estava bem, era uma dessas pessoas que conseguiam se envolver em dez atividades simultaneamente. E eu nunca entendi como ele conseguia dar conta de todas elas. Deve ser genético, porque mesmo agora, preso a uma cama de hospital, ele consegue estar muito mais informado do que eu sobre o mundo aqui fora. Ele sabe de todas as estreias, todos os filmes e todas as festas. Acho que ele tem um anjinho da guarda muito fervido, que sai todas as noites para descobrir o que está rolando do lado de cá do hospital.
terça-feira, maio 04, 2010
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