terça-feira, maio 25, 2010

Morrer na praia

Semana passada vi pela televisão um programa especial sobre o projeto Tamar, instituição mantida pela Petrobrás para cuidar da preservação das tartarugas marinhas na costa brasileira. O apresentador conversou com os biólogos do projeto sobre os diferentes tipos de tartaruga que habitam as praias do Brasil, seus hábitos, tamanhos e uma ou outra peculiaridade. Até aí, nada demais.

O que me chamou a atenção foi a última parte do programa, quando repórter e biólogo acompanharam de madrugada o nascimento de centenas de tartaruguinhas. Podiam ser milhares, se as raposas não vissem nos ovos de tartaruga, enterrados na areia a 50 centímetros de profundidade, uma iguaria dos deuses. Mas até aí, tudo bem também – é só a natureza seguindo o seu curso.

Então as tartaruguinhas começaram a aparecer. O biólogo explicou que elas levaram três dias lutando contra a areia para vencer aqueles 50 centímetros que as separavam da superfície. Não entendo nada de tartarugas, mas depois de ouvir esta explicação, passei a acreditar que elas já chegavam à superfície completamente exauridas. E ainda tinham pela frente a última etapa de seu difícil parto: correr até o mar. E neste percurso, talvez de uns dez ou 20 metros, a maioria delas morria nas garras dos caranguejos, que estavam ali, à espreita, esperando apenas que elas saíssem de seus ninhos, depois de três dias de trabalho árduo, para virarem banquete de fim de noite.

E então eu vi ali uma grande e cruel metáfora da vida: há os que dão um duro danado e há os que chegam e levam tudo. A gente esperneia, reclama, sofre e depois se dá conta de que até na natureza (ou principalmente nela) é assim mesmo que as coisas são – um trabalho insano e desesperado para tudo terminar na boca dos caranguejos. Como faço parte da natureza também, espero ansioso pelo meu dia de caranguejo.

3 comentários:

Mário Viana disse...

Serginho, vc é sempre mais poético q eu. O máximo de metáfora q eu consegui foi assistir aos shows de golfinho em Orlando e comparar com a vida de jornalista: a gente rebola, nada, pula, equilibra bola no nariz e bate palminha - pra no fim ganhar só um peixe xexelento...

mas a natureza é mesmo cruel... ou melhor, implacável... pq imagina, a tartaruguinha sacaneando as outras, cheguei primeiro, cheguei primeiro e, nhoct, vem um caranguejo e traça ela, dando tempo às outras de se desviarem... isso também é da natureza...

Quando vc vai ver HOJE TEM MAZZAROPI, de sex a dom, no Teatro União Cultural? (merchan, merchan!)

Só no blog disse...

Ah, mas quem disse que não tem poesia na história da tartaruguinha que chegou primeiro e nhoc! Querido, vou ver a peça no outro fim de semana, pode ser? Acho que vou de trajes típicos, tô precisando chamar a atenção, sabe!

Mário Viana disse...

Se o lance é chamar a atenção, vai em traje de banho... maiôs catalina...