Quem mora sozinho e trabalha em casa precisa tomar muito cuidado para não dar bom dia à samambaia de vez em quando. Eu poderia enumerar vários prazeres que estão ao alcance de quem tem o escritório a cinco passos da cama – a gente se esquece de que vive numa cidade com trânsito muito ruim, o horário de almoço é a gente que faz, a hora de encerrar o expediente é a gente que determina e, para onde quer que a gente olhe, jamais avista a figura do chefe. Mas eu confesso que, em alguns dias, tudo isso faz um pouco de falta. Não é sempre, mas às vezes faz. Depois de cinco anos trabalhando em casa, talvez eu sentisse uma dificuldade grande em me habituar novamente à rotina das redações de jornais – ainda que, repito, aquela adrenalina toda, aquela cobrança por resultados e cumprimento de horário e até os plantões de fim de semana fazem qualquer um se sentir mais pulsante e integrado do que quem trabalha sozinho em casa. O que me incomoda um pouco nesta minha atual fase profissional é justamente a falta de bate-bola com um colega, alguém a quem você possa perguntar o que ele acha do seu texto e da sua apuração, do seu título e da abordagem que você deu a determinada matéria. Sinto falta deste tipo de retorno e, para compensar, procuro trabalhar com atenção redobrada para que eu seja meu próprio crítico e jamais deixe de acreditar que sempre é possível melhorar o resultado de um produto.
Semana passada ocorreu o seguinte: eram quase quatro horas da tarde e eu não tinha conversado com ninguém ainda. Estava escrevendo uma matéria grande cuja apuração eu havia feito nos dias anteriores – era o típico dia do trabalho essencialmente solitário. Então toca o telefone e eu, animado por botar as cordas vocais para funcionar, atendo com muita disposição. Era uma moça muito educada, funcionária de um instituto de pesquisa que estava fazendo um levantamento sobre a satisfação dos clientes com o serviço bancário. Logo de início ela me garantiu que não iria me vender nada e que ocuparia apenas cinco minutos do meu tempo com perguntas absolutamente profissionais.
Bom, não era exatamente o tipo de papo que eu estava esperando ter, mas na falta de um telefonema mais excitante, fiquei antecipadamente feliz com os cinco minutos de conversa que me aguardavam.
Primeira pergunta da moça: sua faixa etária está entre 30 e 50 anos? Respondi que sim
Segunda pergunta: sua renda mensal é de no mínimo 12 mil reais? Respondi que não.
“Então muito obrigado pela atenção, senhor”, ela me disse. “Infelizmente o senhor não se encaixa no nosso perfil de entrevistado”. E despediu-se de mim com a mesma polidez com que se apresentou.
Senti vontade de correr para os classificados e procurar um emprego na mesma hora, de preferência num lugar com muita gente. Mas daí a pouco passou.
quarta-feira, março 18, 2009
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6 comentários:
No site do "morando sozinho" ha o relato de um estudante muito solitario que um dia ao ver uma barata em casa jogou um chocolatinho pra ela. Ela levantou as anteninhas em agradecimento e partiu sozinha. Treinada, apssou a voltar todos os dias na mesma hora pra receber o agradinho, diz "obrigada" com as anteninhas e parte. O que a solidao nao faz... Dar bom-dia pra samambaia e' melhor, muito melhor, vai por mim.
Serginho, essas nostalgias dão mesmo, mas logo passam, viu? É só a gente lembrar de chefe burro, ordens "de cima", etc etc...
E determinar algumas regras básicas: geladeira, só a cada duas horas, por exemplo.
Eu saio de casa pelo menos uma vez por dia, pra ir na ginástica, no mercado, na feira, ver gente. Senão, piro.
E o ruim de cumprimentar a samambaia é que ela nunca responde. Grossa que nem certos colegas de redação, que você também teve...
bjs. Mário Viana
Uau, eu não conseguiria trabalhar em casa. Um pouco pelo fator solidão. Mas também porque eu me conheço muito bem: sou indisciplinada demais. Tanto é que sempre estudei em sala de estudos, nunca consegui estudar direito em casa.
E por falar em indisciplina, agora mesmo eu nem devia estar aqui!!! kkkkk
Aquela passada básica pelos blogs favoritos é irresistível pra mim. =p
Sabe que, a despeito de todos os inconvenientes do trabalho em redação, concordo com você que é pulsante? É bem verdade que há muitas samambaias pelos corredores das redações - elas sempre me incomodam: o que custa olhar nos olhos do transeunte e, ao menos, esticar os músculos da face e dos lábios? não suporto jornalistas mal-educados. não suporto gente mal-educada. mas, aqui neste Festival de Curitiba, sinto falta de compartilhar com alguém o que vi, em vez de fazer gastos desnecessários no Shopping Mueller só pra falar com a vendedora... Adorei o blog, Roveri. (Mas senti falta de você comentar sobre as peças que tem visto.)
Anita, Mário, Iris e Evelyn: é muito bom saber que todo mundo tem uma receitinha pra espantar o tédio de trabalhar sozinho de vez em quando, né? Curto muito a visita de voces por aqui. bjs
Anita, Mário, Iris e Evelyn: é muito bom saber que todo mundo tem uma receitinha pra espantar o tédio de trabalhar sozinho de vez em quando, né? Curto muito a visita de voces por aqui. bjs
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