quinta-feira, outubro 02, 2008

Rindo pelo retrovisor - segundo ato

Fiquei feliz ao abrir o jornal hoje e ver que a Ilustrada dedicou uma página inteira à discussão sobre a dramaturgia brasileira e à produção dos autores nacionais contemporâneos. A matéria foi, de certa forma, uma resposta dos autores paulistas (ou em atividade em São Paulo) a diretores, produtores e encenadores cariocas que reclamaram, no mesmo jornal, na edição de terça feira, da ausência de novos e bons textos que pudessem ser levados aos palcos. É preciso deixar claro, antes de mais nada, que esta discussão não é geográfica. Não devemos cair naa velha armadilha de tentar colocar, mais uma vez, cariocas contra paulistas em qualquer assunto que seja, muito menos nas questões culturais, que necessitam de união e não de rachas.

O que me incomodou muito, na matéria de terça-feira, e me levou a escrever o post logo abaixo, foi a falta de cerimônia de artistas que, baseados no Rio, aceitaram falar em um grande jornal sobre assuntos que eles definitivamente não dominam. Defasados e aparentemente desinformados sobre a atividade teatral paulistana, os entrevistados prenderam-se a uma série de chavões e lugares-comuns que estão longe de fazer justiça ao teatro que se faz hoje na cidade. Se alguém pedisse a minha opinião sobre a cena teatral carioca, eu responderia que não sei quase nada sobre o assunto, o que chega a estar bem próximo da verdade.

Os comentários que ouço sobre a produção e a atividade teatral do Rio não são nada animadores. Mas vejam bem: eu digo que ouço comentários deste tipo, mas não posso dar meu aval a eles de forma irresponsável. Trabalhei uma semana no Rio há pouco tempo – tentei ir ao teatro mas não havia praticamente nada em cartaz de segunda a quinta, a não ser algumas comedinhas cujo centro do humor situava-se entre o umbigo e o joelho dos atores, algo em que cada vez tenho achado menos graça. De sexta a domingo, confesso, a situação não era assim tão melhor. Pode ter sido uma semana atípica, posso ter dado azar, de repente belos espetáculos não estavam no roteiro dos jornais naqueles dias e eu perdi trabalhos interessantíssimos, não sei. Uma pessoa que tivesse tido apenas aquela amostragem, talvez se sentisse no direito de dizer que no Rio não há nenhum sopro teatral. Mas é preciso muito cuidado com o que se diz num jornal. Num botequim a língua pode ser mais rápida que o cérebro, e na maioria das vezes o é, mas num jornal a massa cinzenta não pode jamais ser afetada pela maresia.

O importante, por fim, é que o jornal levantou uma discussão muito oportuna que talvez não se encerre na matéria de hoje. E este episódio me fez recordar de uma lição que aprendi ainda menino, lá em Jundiaí: a de que o trabalho é sempre a melhor resposta para as críticas. E tenho certeza de que nós, aqui de São Paulo, vamos continuar, diariamente e por muito tempo ainda, respondendo com trabalho às críticas dos que dizem que nada de novo se tem feito no teatro. Um dia, talvez, eles prestem atenção. Para o bem deles, não do nosso. Porque com a gente tá tudo certo.

6 comentários:

Lucianno Maza disse...

Querido,
você observou algo importante: todos os entrevistados da matéria estão sediados no Rio. Sou carioca, fiz e faço teatro na minha cidade, embora tenha escolhido viver na cidade de São Paulo nos últimos tempos, muito pelas dificuldades do mercado teatral de lá.
O Rio tem uma dramaturgia interessantíssima sendo criada, desde o início da década já surgiram gerações de novos autores, muita gente boa, que sempre tento divulgar por aqui, já que infelizmente pouco se sabe em SP do teatro carioca para além das comédias (sobretudo as dos anos 80 que despertam tanto saudosismo em alguns).
A questão não é portanto a ausência de bons escritores teatrais por lá, mas a realidade do mercado que não os assimila até agora. Enquanto em SP sinto uma integração dos dramaturgos com diretores e atores, no Rio, infelizmente, isso não ocorre. Falta uma reorganização de movimento, mas principalmente falta interesse dos atores, diretores e produtores em olhar esses autores, conhecer a dramaturgia que se constrói na cidade e encená-la.
Produzir no Rio tem todas as complicações de se fazer teatro no Brasil e mais algumas particularidades como a proximidade da indústria de celebridades e o "way of life" carioca, o que acaba sentenciando a maioria dos autores cariocas a serem auto-suficientes, se montando em seu nicho, e tentando de algum jeito serem vistos.
Nomes como Afonso Henrique-Soares, Caesar Moura, Camilo Pellegrini, Julia Spadaccini, Juliana Pamplona, Rodrigo Nogueira, Renata Mizrahi, e muitos outros, têm escrito muito e montado trabalhos super interessantes na cidade. Muitas vezes em espaços alternativos, é claro. Que esses respeitáveis senhores e senhoras do teatro carioca desçam (de seus saltos, coberturas e afins) e olhem para esses autores à sua volta, logo!!!
Beijos

Anônimo disse...

Massa ainda que atrasado acompanhei a discussão e vc. está certo. Me lembrei que esse tipo de conclusão apressada é um clichê dos cadernos culturais. Sempre que havia uma onda de refilmagens e regravações de cds - tipo acústico - vinha a ladainha da falta de coisas novas e legais, o que não era verdade, mas uma certa preguiça de procurar. Bjão

Anônimo disse...

Oi Sérgio. Sou o Daniel Wierman, filho da Fatima Augusto, de Jundiaí. Adoro o seu blog, muito bom ! Trabalho com casting de televisão, do seriado Mothern, da GNT. Um abraço !

Anônimo disse...

Mandou bem Roveri!!!
Carioca tem uma mania....
abraço autor
SliderMaloker

Anônimo disse...

Serginho, meu lindo, não precisa ser tão radical.
Às vezes dá pra se divertir muito com o que se encontra entre o umbigo e o joelho de certos atores...

bjs
Mário Viana

Só no blog disse...

Daniel, Mário e Slider: brigadão pela visita ao blog. Agora a gente precisa arrumar uma briga nova pra animar a gente, né! Mário, que tal se a gente falasse que a bolsa de valores de São Paulo cai com mais ousadia e originalidade do que as outras, hein???