terça-feira, outubro 14, 2008

Fábula moderna

Quando eu comecei a trabalhar no Jornal da Tarde, eu ainda morava em Jundiaí e vinha todos os dias para São Paulo de ônibus. Os ônibus azuis da Viação Cometa, que me deixavam, no começo da tarde, quase em frente ao Playcenter. Eu descia, atravessava a Ponte do Limão e andava uns 300 metros até chegar ao jornal, do outro lado da Marginal Tietê. Um dia, quando estava no meio do caminho, um mendigo, talvez um andarilho, me abordou.
- Jundiaí fica para aquele lado?, ele me perguntou, apontando com o dedo para a direção certa.
Achei muita coincidência ele querer saber o caminho da cidade de onde eu estava acabando de chegar.
- Fica daquele lado, sim - eu respondi. - Mas é muito longe para ir a pé.
Ele engrossou a voz e endireitou um pouco o corpo, como se tivesse ficado ofendido com o que eu acabara de dizer.
- Não tem importância se fica longe - ele respondeu. - Eu tenho duas pernas e só preciso saber se estou indo para o lado certo.
Disse isso, virou as costas e foi embora. Às vezes, quando eu também não tenho certeza da direção em que estou indo, eu me lembro dele. E também me lembro de que tenho duas pernas. O problema é que nem sempre a gente encontra alguém para confirmar o caminho.

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