Na semana passada entrevistei o diretor José Celso Martinez Corrêa, às vésperas das comemorações dos 50 anos do seu Teatro Oficina. Em 20 anos de jornalismo, foi a primeira vez em que falei com o Zé Celso pessoalmente – havia conversado com ele uma vez ou outra por telefone, geralmente jogo rápido. Desta vez, não. Teríamos um encontro de pelo menos uma hora e meia, o que me deixou visivelmente assustado. Zé Celso não é daqueles entrevistados a quem você pode se mostrar desarmado – na verdade, talvez nenhum entrevistado o seja, mas é muito mais difícil esconder um eventual despreparo na frente de alguém que passou a vida toda decifrando as emoções nos olhos dos atores e da platéia. Assim, estudei durante dois dias para a entrevista e me sentei diante do Zé Celso com um estoque de pelo menos 40 questões.
Não foi diferente da primeira vez em que entrevistei Antunes Filho, há cerca de dois anos, para uma matéria especial de oito páginas da Revista Bravo! Passei alguns dias lendo tudo sobre Antunes, resgatando na memória trechos de suas peças, procurando na internet comentários sobre seus espetáculos que eu havia perdido, enfim, tentando me tornar um interlocutor à altura da inteligência e da agilidade verbal de Antunes. Fiz o mesmo na semana passada antes de falar com Zé Celso porque não é a todo instante que se tem a oportunidade de bater bola com alguém da importância destes dois diretores.
Nos dois casos, confesso agora – e que isso não sirva de lição para os jovens repórteres – eu devia ter me preparado muito mais por prazer do que por temor: Antunes e Zé Celso são, acima de tudo, generosos com aqueles que se mostram dispostos a ouvi-los. Sei, de amigos atores, que nem sempre é fácil trabalhar com eles, e às vezes eu não entendia, já que o convívio nem sempre era harmonioso, por que havia uma legião de atores ansiosos para ser aceitos nos quadros do Oficina e do CPT. Hoje eu arrisco uma resposta: há tantos atores interessados em trabalhar com o Antunes e o Zé Celso porque a inteligência é sedutora e cativante.
Os dois diretores deixaram para trás, há muito tempo, a preocupação com as aparências e o politicamente correto – se é que algum dia a tiveram. Isso os torna ainda mais interessantes. Amparados na inteligência, em uma colossal cultura teatral e beneficiados pela idade, os dois hoje dizem e fazem o que querem. Seus métodos são distintos, mas cada um caminha com muita propriedade dentro de suas verdades e crenças e já não carregam mais aquela preocupação, que ainda nos afeta, de ser gentis para ser aceitos. Falar com os dois é sempre muito revigorante. E fica melhor, muito melhor, depois que a gente perde o medo. Eu recomendo!
quarta-feira, outubro 29, 2008
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