sexta-feira, agosto 01, 2008

Poço sem fundo

Há coisa de um mês mais ou menos, eu comentei com um amigo que não agüentava mais ler nenhuma notícia sobre os cem anos da imigração japonesa. Eu tinha me cansado de todos aqueles casos, ainda que muito interessantes e emocionados, de gente que tinha atravessado um oceano para construir a vida por aqui. O amigo concordou comigo. Algumas semanas depois, ele me disse que também não agüentava ler mais nada sobre a venda da Varig e a operação Satiagraha.

Confesso que fico um pouco preocupado com este cansaço tamanho que as notícias nos provocam. As Olimpíadas de Pequim ainda nem começaram e eu juro que não tenho mais paciência para ler uma linha sequer sobre os jogos: já estou exausto dos chineses, do seu aeroporto monumental, do tal estádio que lembra um ninho de pássaro, dos índices de poluição do país, dos hábitos e curiosidades daquela sociedade milenar. Por alguma estranha razão, tudo já chega com gosto de requentado, até mesmo as provas que nem foram realizadas ainda.

Lembro de ter lido, há pouco tempo, que graças à Internet, nos últimos cinco anos foi produzida a mesma quantidade de informação dos últimos 50 anos. Ou seja: de 2003 até agora já acumulamos praticamente a mesma quantidade de dados que se produziu desde o fim da Segunda Guerra. Talvez esta seja uma boa explicação para nos cansarmos de tantas notícias – como o bom Caetano Veloso já profetizou lá atrás.

Mas eu desconfio que não seja só isso, não. O que nos incomoda não é tanto a quantidade: nós ficamos viciados em novidades. Como o mundo está pródigo de assuntos, não há nada que consiga manter o nosso interesse verdadeiro por mais de três dias. Crianças podem ser atiradas pelas janelas, arrastadas por carros, policiais podem metralhar inocentes, figurões podem ser presos, nada disso serve para aplacar a estranha sede (ou apetite) que nós desenvolvemos. Vamos querer sempre mais, não mais do mesmo, e sim uma nova tragédia para que tenhamos assunto na hora do almoço.

Alugamos um filme na locadora e o exibimos em velocidade acelerada para chegar logo ao fim, não vamos mais ao teatro se a peça tem mais de uma hora e meia, trocamos o telefonema para o amigo por uma mensagem de texto, tudo tem de ser rápido para que a gente ganhe uma dose extra de tempo – e depois não sabemos o que fazer com este tempo que nos sobra, que às vezes chega a ser mais dolorido do que o próprio estresse.

Tenho medo de que um dia passemos a exigir dos nossos amigos e companheiros esta mesma compulsão por novidades que exigimos do mundo: uma amizade de três anos talvez já se mostre obsoleta, um relacionamento de cinco, então, já merece cadeira elétrica. Afinal, ninguém terá condições de se renovar com a mesma velocidade de uma página de rosto de um site qualquer. E tudo, então, nos terá gosto de velho.

Pensei nisso porque acabo de receber uma propaganda de uma empresa de eventos, alertando que ainda restam poucas datas para as comemorações de fim de ano em seu salão de festas. Estamos no dia primeiro de agosto e já senti a tristeza do Natal chegando. Olho ao meu redor e sinto falta de um freio de mão qualquer. Ainda que a freada seja busca e eu dê com a cara no vidro, sinto que vale a pena diminuir um pouco a velocidade. Mesmo que seja só para ver a paisagem que passa rápido ao meu redor, embaralhando minha vista e meus sentimentos.

Um comentário:

Anônimo disse...

como eu sei do que você está falando! é assim mesmo que estou sentido o mundo. que medo! abs. guza