Sempre tive medo dessas correntes que chegam pela Internet. No início, elas até parecem simpáticas, mas invariavelmente terminam em tom de ameaça. Sinto que se eu não cumprir o que elas ordenam, como enviá-las para 12 amigos no prazo máximo de uma hora, alguma desgraça vai cair sobre a minha cabeça. Ainda assim, sempre poupei os amigos e nunca enviei corrente alguma.
Houve uma época em que as correntes chegavam pelo correio – e eram muito mais assustadoras do que agora. Lembro que elas citavam todas as mazelas que tinham vitimado os pobres coitados que ousaram interromper seu famigerado ciclo. Um homem que decidiu jogar a corrente fora viu sua padaria arder em chamas na mesma tarde; um outro homem que deve ter achado tudo aquilo uma grande bobagem e rasgou o envelope, perdeu a filha atropelada na manhã seguinte. Embora eu nunca tenha tido uma padaria e nem uma filha, eu morria de medo destas maldições. Eu sempre achava que, na falta da padaria e da filha, as chamas iam consumir qualquer outra coisa que eu tivesse. Apesar do medo, eu amassava o papel e jogava fora também.
Agora eu recebo correntes por e-mail e pelo orkut. Elas não trazem qualquer referência a prejuízos incalculáveis ao meu patrimônio físico, mas parece que vêm acompanhada de uma voz fininha que diz que eu vou me ferrar se eu não fizer tudo o que elas pedem, como rezar alguma oração esquisita, repassá-las para vários amigos ou estar atento ao relógio, pois algo de muito estranho, ou miraculoso, vai ocorrer pontualmente às 23h15 daquela noite. Antes de deletar tudo, humildemente eu já peço perdão a Deus se estiver cometendo algum pecado. Mas sei como são meus amigos: se eu enviar correntes para eles, sinto que eles jamais me perdoarão. Assim, se eu já contar com o perdão divino por antecipação, estarei no lucro.
Mas confesso que uma dessas correntes chamou minha atenção. Ela ensinava a gente a descobrir qual era o nosso anjo da guarda e que horário ele dava plantão ao nosso lado. Respondi a algumas questões e vi que meu anjo tinha um nome estranho, tipo Ezebiel, Guagamel, Xerafunel, sei lá, algo terminado em “el”. Não era privilégio do meu anjo, todos os outros também tinham nome parecido. Fiquei triste, no entanto, ao saber que o turno dele ao meu lado se estendia das 5h15 da manhã até mais ou menos 06h45. Há alguns anos, quando eu era mais baladeiro, eu costumava estar acordado a esta hora e devia ser bom ter um anjo por perto quando a gente voltava bêbado para casa. Mas hoje é muito provável que eu esteja quietinho na cama a esta hora, mais seguro impossível. Assim, não devo dar muito trabalho ao meu anjo da guarda. Por via das dúvidas, passei a dormir com um travesseiro extra na cama. Se ele resolver tirar um cochilinho comigo, que seja bem-vindo. Mas já combinei com ele: nada de enfiar aquela asa cheia de pena no meu nariz. Tudo bem que eu não obedeço as correntes, mas também não preciso acordar espirrando por causa disso.
Se você resolver passar este post para dez amigos, fique de olho no relógio por volta das 23h30 de hoje: eu prometo que, se não houver atraso, neste horário deve começar o Jornal da Globo. É o máximo de milagre que eu consigo fazer.
terça-feira, agosto 12, 2008
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7 comentários:
delícia. ri muito. guza
HAHAHAHAHA!!!!!
Sensacional! Adoro seu blog, adoro seu jeito de escrever...
Beijo...
adorei este final!
Caro Bolo Fofo,
dirija-se até o banheiro, olhe no espelho e veja o resultado de ter quebrado uma corrente lá em Jundiaí, na época em vc era baladeiro (coisa de 30 anos atrás). Bochechas que não param de crescer, cabelos que não param de cair... Hahahahaha.
Gordo, adorei seu texto.
BJ
Isabela e Dyl, muito obrigado pelos comentários...
Quanto ao Marcelo, você receberá dentro de alguns dias, em forma de corrente, a resposta à ofenda que você me enviou. Como você também não tem padaria e nem filha, algo me diz que você vai se ferrar!!!!!
Roveri! Bem,ainda não li o post,mas pra dizer que não sabia que você tinha um blog,te adicionarei no meu! E juro que um dia quando eu souber cozinhar ofereço um almoço na minha casa, por enquanto só digo que tinhamos que eu e a trupe do ricardo tinhamos que jantar ou tomar um café um dia desses!
Beijos
Oi, Virgínia, tudo bom, querida? Depois eu te ensino a fazer um risoto, então. É só você não se esquecer de colocar sal, como eu me esqueci daquela vez... enquanto o risoto não sai, aceito com prazer o café. Vamos combinar com o Ricardinho garoto enxaqueca?
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