Sempre tive preguiça de começar qualquer coisa. Cursos, dietas, academia, relacionamentos, reformas da casa, tratamento dentário, limpeza do armário, revisão do carro - tudo isso - e mais algumas coisas das quais não me lembro agora - sempre despertou em mim uma incontrolável quantidade de bocejos e duas perguntas inevitáveis: 1) será que é mesmo preciso? e 2) será que eu não posso passar sem isso? Não existe nada, no entanto, que me dê mais preguiça do que ter de começar um ano novo. Sei que muita gente diz que estas coisas de mudança são bobagens, que tudo não passa de uma página da agenda que se vira. Eu até concordo com isso, embora acredite ser muito mais fácil, por exemplo, sair de agosto e começar setembro, uma mudança quase imperceptível, do que terminar dezembro e ter de encarar janeirão com tudo que ele ainda traz de promessas, expectativas e, claro, frustrações. Empurrei esta minha virada do ano até onde foi possível, mas agora não dá mais. Amanhã é segunda, dia sete, e não há mais a mínima chance de continuar dando as costas para o ano novo. Vamos a ele, então, já que não nos resta outra alternativa. Para falar a verdade, até resta, mas é drástica demais, credo.
Ontem, ao voltar para casa depois de dez dias de viagem e encontrar uma pilha de jornais, panfletos, propagandas e contas me esperando ao lado da porta, pensei na hora naquelas colunas da Danuza Leão, publicadas aos domingos na Folha de S. Paulo, em que ela vive dizendo como a vida seria melhor se a gente morasse em Paris, se tivesse um amor, se tivesse uma conta bancária cheia de dólares, se tivesse pessoas inacreditavelmente excitantes sempre ao nosso lado e por aí afora. Eu, como não sou a Danuza Leão e talvez tenha tido uma vida menos aventureira do que ela, me tornei bem mais simples nos meus desejos. Eu só queria ter alguém que começasse o ano no meu lugar. Depois, lá pelo dia 20 ou 25, eu tocaria adiante...mas agora eu daria tudo para que alguém desse a largada por mim.
Por exemplo: alguém que ontem, quando eu cheguei em casa, já tivesse lido os jornais destes dez dias, separado as notícias interessantes e jogado o resto fora; que tivesse feito o supermercado para que minha geladeira não parecesse um foto por satélite do deserto do Saara, que já tivesse dado fim a todos os panfletos de disk pizza e aos convites para que eu adquira um cartão de crédito da American Express, que tivesse aberto a janela todos os dias para que a casa não tivesse mais o cheirinho do xixi dos meus gatos Pirulito e Ritinha, que tivesse respondido com educação e graça a todos os e-mails dos amigos e excluído os spams (bem mais numerosos que os e-mails dos amigos), que já tivesse retornado as ligações, ainda que tenham sido poucas, que já tivesse pago as contas do condomínio, do plano de saúde, do celular, da energia elétrica e a parcela integral do IPVA, que já tivesse marcado o retorno ao dentista, que já tivesse passado os telefones mais importantes para a agenda de 2008 (sim, minha agenda ainda é de papel) e que, prazer dos prazeres, tivesse feito um regiminho por mim, tivesse malhado no meu lugar e que, quando eu abrisse a porta, ainda me recebesse com um abraço gostoso, um sorriso nos lábios e com a seguinte informação na boca: Bem-vindo a 2008, Sérgio. Sua casa está em ordem, suas contas estão pagas e você ainda está quatro quilos mais magro. Parabéns!!!!
Eu juro que, com tudo isso, eu acordaria muito, mas muito mais feliz amanhã, segunda-feira, meu primeiro dia útil deste já preguiçoso 2008! E que todos tenham um grande ano.
domingo, janeiro 06, 2008
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2 comentários:
adorei. mais uma vez, você falou por mim. beijo imenso e feliz ano novo, já que tem que ser assim!
fala sério, você gostaria de ter uma escrava branca né rsrsrsrs.
feliz 2008.
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