domingo, janeiro 06, 2008
Quem sabe da próxima vez
Esta é uma imagem de Cabo Polônio, uma praia pra lá de inóspita no litoral do Uruguai, onde eu estava no dia 31 de dezembro, pouco antes da virada do ano. Os uruguaios dizem, com orgulho, que Cabo Polônio é um dos lugares do mundo em que o vento costuma ser mais impiedoso. Talvez haja um pouco de exagero nisso, mas não muito. Fui até lá, enfrentando um ônibus pinga-pinga e depois 40 minutos na carroceria de um jipe com tração nas quatro rodas, para ver os leões-marinhos, que lá são chamados de lobos-marinhos. Todos os postais vendidos em Montevidéu e La Paloma, a praia mais próxima, mostram os leões-marinhos em cima destas rochas que aparecem na foto, expondo-se preguiçosamente ao sol e aos turistas. Como vocês podem ver, não havia nenhum deles quando cheguei. Sentei-me em uma dessas mesinhas, pedi uma cerveja e perguntei ao garççom: onde estão os leões-marinhos? Ele olhou o mar com ares de um velho pescador, sacudiu a cabeça e respondeu: "É, acho que hoje eles não vêem!" E não foram mesmo. O que não diminuiu em mim a certeza de que Cabo Polônio, com seu vento incessante, sua estranha combinação de mar e deserto, suas casas coloridíssimas e sem energia elétrica, seus hippies que compartilham moradias de apenas um cômodo e com banheiro no quintal, seus cachorros imensos que entram na praia gelada para receber os donos pescadores e sua indisfarçável melancolia, talvez fruto desta batalha diária entre os homens e a natureza, é um dos lugares mais mágicos que já conheci na vida.
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