Primeira marcha: há pouco mais de um ano, quando a Lei Seca entrou em vigor, escrevi um post um pouco irritado aqui. Se não me engano, a lei entrou em operação num fim de semana. No primeiro domingo de vigência da lei, me lembro de ter ido com dois amigos jantar no restaurante Mestiço, numa travessa da Rua da Consolação. Pedi uma caipirinha de frutas vermelhas (na época eu não sabia que caipirinha de frutas vermelhas não é bebida de homem, me contaram algum tempo depois) e um chope. Quando terminou o jantar, um dos amigos, que mora em Pinheiros, me pediu uma carona. Eu sabia que, naquela noite, a cidade estaria infestada de blitze da Lei Seca e que, se fosse parado no caminho, poderia perder a carteira de habilitação por causa da minha caipirinha boiola e do chopinho. Dirigi com tanto receio e preocupação como se estivesse transportando um cadáver no porta-malas. Foi sobre isso que falei naquele post. Agora a lei está completando um ano e a fiscalização voltou com tudo. Sempre que estou voltando para casa enfrento congestionamentos na avenida Doutor Arnaldo , causados pela fiscalização. Respeito a lei, mas confesso que não entendo algumas coisas. Por exemplo: o motorista de uma Kombi, dirigindo completamente embriagado, atropelou e matou três pessoas na Rodovia dos Imigrantes neste fim de semana. Conduzido à delegacia, ele pagou uma fiança de R$ 1,2 mil e foi solto imediatamente, como se tivesse passado por cima de uma garrafa pet jogada na pista. Não parece estranho uma lei tão severa que coloca na rua um motorista ainda embriagado que acabou de assassinar três pessoas? Com uma fiança de R$ 1,2 mil fica tudo certo?
Segunda marcha: alguém já tentou parar o carro nas imediações da Faap? Eu já, e confesso que é impossível. Há uma legião de flanelinhas atuando ali. Eles colocam cones no meio-fio para reservar as vagas na rua para os estudantes da faculdade. Uma tarde dessas, parei o carro numa dessas vagas. O flanelinha veio feito um louco pra cima de mim, perguntando quanto tempo eu ocuparia a vaga, já que ela estava reservada para um estudante. Respondi que não sabia e fui embora. Quando voltei, ele tinha entortado completamente a placa dianteira do meu carro. Será que ninguém da CET nunca viu esta barbaridade que os flanelinhas fazem ao lado da Faap, sob as barbas de todo mundo? Descobri, depois, que para reservar as vagas, eles recebem por mês dos estudantes, como se fossem donos de um estacionamento. Fico pensando se eles, os flanelinhas, não racham a grana com quem deveria investigar e punir esta atividade ilegal numa das regiões mais visadas da cidade.
Terceira marcha: o único lugar em que ouço música é no carro. Vá entender. Mas não tenho o hábito de ouvir música em casa. Eu só consigo trabalhar no mais absoluto silêncio. O aparelho de som aqui de casa só funciona quando vem alguém me visitar – daí é legal colocar uma musiquinha. É por isso que, quando descubro um CD interessante, aumenta meu prazer de dirigir. No momento, estou ouvindo um CD antigo, chamado 20th. Century Blues, da genial Marianne Faithfull. Eu tenho este CD há pelo menos dez anos, mas havia me esquecido completamente dele. Esta semana, revirando umas gavetas, eu o encontrei e corri no carro para ouvir. Desde então, dirigir voltou a ser um imenso prazer. Ela tem uma versão de um clássico chamado Boulevard of Broken Dreams que é de chorar. Aliás, o disco todo é de chorar. Coloco o CD pra tocar, dou partida e, como raramente acontece, não tenho vontade de chegar a lugar algum enquanto não termina a última canção. Apenas vou indo, vou indo... Até que um dia a gente chega a algum lugar.
segunda-feira, julho 05, 2010
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3 comentários:
O plural de blitz é blitze? Não é latim, não, né? Já me atrapalho com campus e campi...
O caso desse cara da Kombi é de espantar. Eu tinha lido que alguém que causasse acidente provocado por bebida seria acusado de crime doloso, com intenção, já que vc sabe que beber e dirigir não são coisas que combinem. E no entanto, ele foi liberado, acusado de homicídio culposo, sem intenção. E pagou 400 reais por vida tirada. É uma cotação baixíssima.
Quanto ao caso da Faap, por si só outro escândalo, há o lado B: alunos saídos de famílias ricas (pobre só entra na Faap pra trabalhar e olhe lá) que compram por uma ninharia seu direito de ocupar um espaço público. Tão nefasto quanto o corrupto, é o corruptor.
Disse tudo, queridão. Eu não tinha feito esta conta macabra: 400 reais por cada uma das vidas tiradas. A coisa fica muito pior assim, né?
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