quinta-feira, julho 15, 2010

Um pequeno grande filme

É raro de acontecer, mas às vezes acontece. Você leva para casa um filme do qual nunca ouviu falar, só porque conhece um ou dois atores do elenco e não havia nada mais interessante à disposição. Está uma noite fria e chuvosa, a novela das oito já acabou e você não tem a mínima vontade de tirar o carro da garagem nem para ir ao aniversário da própria mãe. Está com preguiça de ligar para os amigos, já cansou de ficar na frente do computador e então, ao olhar de lado, vê esquecido num canto o tal filme para o qual você já torceu o nariz. Bom, não custa dar uma olhadinha de dez minutos, você pensa. E coloca o filme no DVD sem imaginar que está prestes a experimentar a uma hora e meia mais bacana dos últimos dias.

O filme em questão é Eu e Orson Welles, do diretor Richard Linklater, o que para mim não quis dizer muita coisa, pois sou péssimo para guardar nomes de diretor. Fui pesquisar e vi que ele já tinha feito Antes do Pôr-do-Sol e O Homem Duplo. Talvez eu esteja sendo otimista demais, mas, na minha opinião, trata-se do pequeno grande filme mais simpático do ano. É a história de um estudante nova-iorquino de 17 anos, ator e músico promissor, que consegue de maneira insólita um papel na montagem de Júlio Cesar, de Shakespeare, que Orson Welles, então com pouco mais de 20 anos, está dirigindo no decadente teatro Mercury, em Nova York.

Grande parte do filme transcorre durante os ensaios da peça – em que o gigantesco ego de Orson Welles pisoteia um time de atores tão esforçados quanto medrosos. Não fui adiante com a pesquisa, mas acredito que o filme é baseado em uma história real, tem todo o jeitão. Sedutor, mulherengo, arrogante e absurdamente talentoso, Welles é aquele cara que todos odeiam, mas de quem querem ficar perto porque sabem que alguma coisa muito boa ele tem para ensinar. Às vésperas da estreia do espetáculo, tensos e inseguros, os personagens de Welles e do jovem ator ainda encontram tempo para se apaixonar pela mesma mulher, a belíssima Sonja, secretária do teatro vivida pela atriz Claire Danes, que por sua vez está muito mais interessada em conhecer o poderosíssimo David O. Selznick, que está fechando o elenco para as filmagens de ...E O Vento Levou.

Para quem curte cinema, teatro e literatura, o filme é tão bacana quanto um happy hour ao lado de amigos queridos. Não tem assim a força de uma baladona, mas a gente volta para casa muito mais feliz.

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