Item 1.
Por absoluta falta de espaço, a revista Serafina deste domingo, dia 26, não pôde publicar uma frase que eu julgava essencial na matéria de capa sobre o Antunes Filho. Sei que este blog é infinitamente menos lido que a revista, mesmo assim, queria compartilhar a frase com vocês. Principalmente com os amigos do teatro. Ao ser perguntado sobre como ele via a crítica atualmente, Antunes disse o seguinte:
“A pior coisa que existe é a crítica amiga. Se um ator não está bem em determinado trabalho e o crítico amigo diz que ele está, o crítico está jogando este amigo no abismo. Por isso, eu peço encarecidamente aos críticos: deem uma chance aos seus amigos. Parem de falar bem deles”
Item 2.
No sábado, tentei ver o filme Inimigos Públicos, do diretor Michael Mann, em que Johnny Depp interpreta um lendário ladrão de bancos. Não consegui, estava tudo lotado. Então resolvi ver Lóki, o tocante documentário sobre a trajetória do ex-mutante Arnaldo Baptista. E saí de Lóki com a mesma sensação que tive ao ver Ninguém Sabe o Duro que eu Dei, sobre a vida conturbada de Wilson Simonal. Os dois documentários foram feitos, obviamente, mais sob o olhar da admiração. Mas o que me incomodou nos dois casos não foi isso. Saí incomodado com todos os depoimentos que colocaram tanto Simonal quanto Baptista nas nuvens, com todas aquelas frases de efeito que procuravam ressaltar o tamanho do talento, a genialidade às vezes incompreendida e depois o ostracismo dos dois músicos que, coincidentemente, passaram mais de duas décadas esquecidos dos amigos, do público e das gravadoras. Então eu faço aqui a pergunta que os documentários não fizeram: onde estavam, durante aqueles vinte anos, todas estas pessoas que agora correm diante das câmeras para falar bem dos seus queridos amigos injustiçados. Pode parecer estranho, mas a sensação que fica é que ninguém que agora corre para exaltar o Simonal e o Arnaldo Baptista estavam por perto quando eles realmente precisaram. Depois, diante das câmeras, é fácil elogiar, né? Segurar o ombro do amigo nas horas difíceis é que não tem glamour nenhum.
Item 3.
É claro que a gente observa bem os amigos. E, por mais queridos que eles sejam, não são todas as atitudes e comportamentos deles que a gente aprova – o que é muito saudável. Imagine que chatice seria se os nossos amigos fossem absolutamente perfeitos aos nossos olhos e se nós também parecêssemos perfeitos aos olhos deles. Ninguém aprenderia nada nunca – tudo já estaria pronto e seria um tédio só. O que me deixa um pouquinho preocupado às vezes é que eu acho que vira e mexe eu reproduzo tudo aquilo que me incomoda e chateia nos amigos. Ou seja: eu me vejo fazendo com o amigo “x” tudo aquilo que o amigo “y” fez comigo e eu não curti muito. Será que a gente não consegue reproduzir só aquilo que a gente gosta? Tem de imitar também o que é chato? Ô, saco.
domingo, julho 26, 2009
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4 comentários:
Eu ia te escrever pra falar da matéria... Fazia tempo que eu não lia algo do AF sem enjoar... Muito bom...
Os amigos nos chocam. Nos decepcionam. Nos surpreendem bem. E nós a eles.
A química que rege os laços humanos é sempre fluida...
Que legal, querido. Foi o melhor retorno da matéria até agora! Beijão e brigado
Três coisinhas fundamentais né? Nos últimos tempos tenho percebido que ter amigos é uma riqueza mesmo, mas também não é garatia alguma.
finalmente um comentário lúcido sobre esses filmes... sinceramente, eu não aguentava mais o cordão dos confeteiros. até que enfim um comentário pertinente! ufa.
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