Eu admiro as pessoas fortes e decididas, aquelas que diante dos desafios tomam rapidamente a decisão que lhes parece a mais acertada e depois seguem resolutas por este caminho, aparentemente sem pensar em como teriam sido todos os outros. Eu gosto dos desafios e também clamo por eles – mas, quando eles finalmente surgem à minha frente, tenho vontade de me enfiar debaixo dos cobertores e pedir para que alguém de confiança decida por mim. E que só me chame quando tudo estiver definido. De preferência, da maneira mais prazerosa possível.
Um dia, há muito tempo, uma astróloga (que era também médica homeopata formada por uma faculdade conceituadíssima) me revelou que eu não tenho quase nada do elemento água no meu mapa astral. Segundo ela, minha carta astral é uma imagem tão ressequida quanto a superfície da Lua. Daí minha dificuldade em me renovar, em “me limpar” – usando as palavras delas – em lavar as mágoas passadas e seguir renovado rumo ao futuro. Eu sei que, nestes assuntos, a gente só acredita naquilo que é interessante. Mas infelizmente eu acredito nisso.
Não sei se por ausência de água ou excesso de sapatos empoeirados, o certo é que as mudanças me amedrontam, ainda que elas venham para por fim a uma situação da qual eu já andava exaurido. Talvez seja masoquismo pensar que o estresse conhecido seja preferível ao desafio do acaso, mas às vezes é assim que eu penso. Um dos personagens da peça A Noite do Aquário, que escrevi há três anos, diz mais ou menos o seguinte: “Se nós não vamos mudar mesmo, por que sair daqui? Dá menos trabalho”. Não que eu concorde com ele, mas é assim que eu ajo.
Neste exato momento estou sendo chamado a tomar uma série de decisões, a assumir uma série de novos desafios. São coisas pelas quais eu ansiei durante muito tempo – e pelas quais trabalhei às vezes arduamente. E então elas chegam e me dão medo. Elas chegam e, no meu íntimo, algo me diz que, no fundo, talvez eu não esperasse realmente pela chegada delas. E sinto vontade de me enfiar novamente debaixo dos cobertores e pedir para que me chamem só em novembro ou dezembro, quando tudo deve estar mais ou menos resolvido.
Charles Darwin levou uma vida inteira para defender a tese de que nós viemos dos macacos – eu aprecio Darwin desde sempre, mas sinto que no meu caso ele errou. Às vezes eu acho que vim do avestruz – em vez de descer das árvores e criar computadores e sinfonia, acredito que descendo de nobres exemplares que, na hora do vamos ver, enfiavam o pescoço no primeiro buraco que aparecesse. Para variar, num buraco seco, na terra, cada vez mais em direção à aridez, ao desidratado e escuro centro da terra. Longe da água que lava e purifica, longe da água que vai poder apagar até meus erros futuros.
Será este o meu destino?
quarta-feira, julho 22, 2009
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4 comentários:
Um cobertor cai bem em muitos momentos da vida, mas não neste momento. Boa sorte querido. Vai com fé!
Mas sinto que é esta sua fragilidade que te dá tanta força! A sua frágil força vai te ajudar a decidir, assim te desejo!
Bjs, Valéria
Janaína e Valéria, minhas queridas. A decisão já foi tomada. Agora é seguir em frente e esperar que ela tenha sido acertada, né?
beijão
Subconsciente dominando o consciente, vai por mim. Medo arraigado, auto boicote.
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