quinta-feira, setembro 18, 2008

Só as claques são felizes

Esta semana eu assisti, pela primeira vez, ao humorístico Toma Lá Dá Cá, apresentado pela Globo nas noites de terça-feira. Alguns amigos já tinham me alertado de que era pura bagaceira. O Dirceu Alves e a Mônica Santos, repórteres da Vejinha, chegaram a me telefonar, várias vezes, para que eu ligasse a televisão e visse a Norma Bengell, a grande musa do cinema nacional, fazendo, em participação especial, uma lésbica assanhadinha. Eles garantiram que era imperdível – em todos os sentidos que esta palavra pode assumir. Mas, infelizmente, eu nunca estava em casa. Até que nesta última terça finalmente fui apresentado à série. É uma experiência que não recomendo a ninguém.

Juro que não estava prevenido. Não sou desses que torcem o nariz para novelas ou para a programação da tevê aberta. Quando estou em casa, tento ver de tudo. Das entrevistas da Oprah à ranhetice do doutor House, da guerra pelo poder e sexo dos Tudors ao bate-papo gastronômico do Ronnie Von, do programa Conta Corrente aos diálogos de catequese dos Mutantes. Sempre acho que a gente tem alguma coisa a aprender – ainda que seja aprender a evitar algumas dessas coisas no futuro. Mas o Toma Lá Dá Cá é um nada, um entra-e-sai de atores que não têm o que dizer e que encontram na claque a única resposta para suas piadas sem graça. Talvez um único episódio não seja suficiente para julgar uma série, mas não tenho a mínima vontade de rever o programa. Do começo ao fim, não consegui esboçar um único movimento facial – era como se eu tivesse saído de uma aplicação generalizada de botox. Estava tudo congelado: o riso, o ânimo, a curiosidade. Para ser sincero, a única coisa que realmente falou mais alto foi o constrangimento de ver alguns atores tão bem desperdiçados.

Quando acabou o programa, pensei: bom, pode ser um tipo de humor que não me agrada. Vai ver que isso é engraçado pra caramba e eu não estava no espírito. Na quarta de manhã, enquanto comprava laranja na primeira banca de frutas da feira da Rua Luminárias, na Vila Madalena, ouço a feirante da barraca ao lado, uma mulher que tem uma banquinha só com manjericão e outros temperos, dizer exatamente isso para uma freguesa: “Tô com o maior medo da próxima novela das seis, que é do Falabella. Viu que porcaria que é aquele programa que ele fez ontem à noite?” Voltei para casa feliz: o problema, aparentemente, não era eu. Toma Lá Dá Cá é ruinzinho mesmo...

Engraçado. Comecei este post achando que ia falar de como é fácil se disfarçar nas novelas. Cláudia Raia, com aquele tamanhão todo, bota uma peruca loira e o elenco inteiro de A Favorita acredita que ela é outra pessoa. Em Beleza Pura, que terminou semana passada, a atriz Mônica Martelli, aquela que diz que os Homens são de Marte, grudava um cavanhaque grotesco no queixo, engrossava um pouco a voz e, pimba, virava homem de uma hora para outra. Com Rodrigo Veronese, seu marido na trama, era a mesma coisa: um par de seios e uma peruca medonha faziam dele uma mulher que não enganaria nem os personagens de Ensaio Sobre a Cegueira. Não há uma composição mais delicada, uma preocupação com o gestual, uma entonação vocal que seja. Basta uma peruca para que todo mundo nas novelas mude de sexo e recomece a vida como outra pessoa. A gente, em casa, fica se sentindo um bobo. Acho que alguns atores precisam aprender um pouco com os travestis: esses sim dão um duro na vida para enganar os outros e nem sempre conseguem. Aliás, conseguem sim: de tão mal-treinados, os atores são os únicos que saem com travesti e depois dizem que não tinham percebido. Ver muita novela faz mal. Fazer novelas, no entanto, deve ser ainda pior.

3 comentários:

Dalva M. Ferreira disse...

Adoro manjericão. (aquela que entrou de paraquedas e não entendeu nhucas, mas quer deixar seu pitaco). Mentinrinha: concordo com tudo. Vem me visitar, preciso de leitores. Beijos!

Vicina Restaurante Pizzaria disse...

adorei o texto!!!
entrei no seu blog através do blog do Dudu e já de cara comecei a ler os textos muito bem articulados (ótimos) e esse foi o melhor...
concordo com a opinião a respeito do programa: sem humor (risos)

Só no blog disse...

Ôba, brigadão pela visita e pelo comentário. Apareça sempre que puder.