Setembro está chegando ao fim. É o mês do meu aniversário e, pela primeira vez em muitos anos, decidi não comemorar. Motivos para celebração até que não faltavam: a vida profissional anda bem, alguns projetos bacanas devem mesmo sair do papel, os amigos estão sempre por perto e meu último check-up mostrou que, até prova em contrário, a saúde continua jogando a meu favor. Isso tudo justificaria várias taças de prosecco, eu acredito. Mas resolvi ficar em silêncio desta vez: alguns amigos ligaram, vários outros enviaram mensagens por e-mail e orkut e, no dia mesmo do aniversário, vi poucas pessoas. Decidi que era só mais um dia – e então o percorri com a maior naturalidade possível.
Tenho a impressão de que este aniversário silencioso foi o prenúncio de tantos outros iguais que virão. Não estou atravessando nenhuma crise particular de idade – até porque estou me esforçando para não sofrer mais com as crises inevitáveis, e a da idade é a mais poderosa delas. Ainda que eu me tranque num abrigo e passe os dias chorando, o tempo vai continuar a correr lá fora e o máximo que conseguirei, com isso, é chegar no ano que vem com mais rugas e os olhos inchados. Se o tempo começou a nos boicotar no instante exato em que levamos aquele tapinha na bunda para o nosso choro primordial, o primeiro dos milhares que teríamos de enfrentar vida afora, o melhor a fazer é tentar um acordo com ele. Ou, ao menos, tentar não levar tão a sério as armadilhas que ele nos arma. Ao ignorar o meu aniversário, talvez eu tenha feito isso: fingi que não ouvi a batida anual que ele dá em minha porta. Caso eu me arrependa, tudo bem. Sempre haverá chance de uma reconciliação: no ano que vem, na mesma data, ele certamente baterá em minha porta de novo.
No fundo, eu acho que este ano decidi jogar o meu aniversário no mesmo baú em que já havia jogado o natal e o reveillon. Percebo que quanto menos importância eu dou para estes dias, mas fácil é atravessá-los e chegar ileso do lado de lá. Há algum tempo, Danuza Leão escreveu que achava os natais tristes porque muitas pessoas importantes para ela já haviam morrido. Eu sempre achei os natais um pouco tristes, pelos que morreram e principalmente pelos que continuam vivos. Por nós, que nos obrigamos a extrair alguma alegria que ninguém sabe de onde. Os mortos já estão livres disso.
Não é em vão que todas estas coisas estão passando pela minha cabeça. Ontem, descendo a rua Augusta em direção ao centro, vi uma loja decorada com uns 50 bonecos de papai Noel que pendiam do teto. Levei um susto. E hoje, ao entrar numa papelaria, notei com pesar que na vitrine só havia agendas de 2009. Não entendo por que as pessoas decretam o fim do ano com tanta antecedência – temos ainda três longos – e espero, produtivos – meses pela frente e todo mundo se une para nos dizer que 2008 já terminou. Prometo ignorar todos os papais noéis que vão cruzar meu caminho até o natal e asseguro que só comprarei a agenda de 2009 na primeira semana de janeiro. Até lá, eu prefiro acreditar que continuo em 2008 e que este ano ainda tem fôlego para oferecer uma porção de coisas boas para mim e para todo mundo. Por mais que as vitrines digam o contrário.
segunda-feira, setembro 29, 2008
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2 comentários:
Vc é sempre muito lúcido. Tenho profunda admiração por seus textos, suas idéias, e pela forma com que vc as transforma em palavras. Sou seu fã. Adorei esse post, as palavras sobre o natal bem que poderiam ser ditas por mim.
Abraço do Mário (amigo do Guzik).
também me incomoda tanto essa mania de muitas pessoas em querer que o tempo passe logo... ele já passa tão rápido naturalmente. mas, confesso, torço para que você faça mais festas de aniversários como aquela em que fui tão feliz. um beijão!
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