terça-feira, março 23, 2010

SOS Mulher

Já adianto que este não é um post feminista, ainda que sua intenção primeira seja sair em defesa das mulheres. Não sei se elas precisam, mas vou defendê-las mesmo assim. Nas últimas semanas, dei de prestar mais atenção nos comerciais de tevê e passei a sintonizar o rádio do carro em emissoras de notícias – acho que ando mais preocupado em saber das condições do tempo e do trânsito do que das novidades do mundo pop. Ou ouço notícias ou o CD Iê Iê Iê, do Arnaldo Antunes, que para mim faz as rimas mais simples e bacaninhas da música brasileira. Pois nesta minha recente imersão em notícias e comerciais, percebi o seguinte: a onda do politicamente correto, que decidiu preservar os anões, os gays e os gordos, não está nem aí pra mulherada. Em grande parte dos comerciais, elas continuam a aparecer como gastonas, fúteis ou como obstáculos para a felicidade dos seus maridos.

Muita gente caiu de pau no comercial da cerveja Devassa, que trazia uma Paris Hilton toda insinuante na janela de um apartamento na orla carioca. Tanto fizeram, que o comercial saiu do ar. Um amigo jornalista, cheio de fontes no mundo corporativo, me garantiu que aquele corpão nem era o da Paris Hilton. A loira americana, sem bunda e sem peitos, teria precisado de uma dublê nas gravações do comercial. Só a carinha de queixo pontudo era mesmo dela – o resto, todas aquelas curvas sinuosas, era produto brasileiro mesmo. Mas eu nem achei aquele comercial de cerveja tão ofensivo assim.

Para mim, muito pior é uma propaganda que está sendo veiculada agora, de uma cerveja que quer ser chamada de cervejão. Para poder sair e beber com os amigos, o rapaz do comercial tem de deixar o cartão de crédito com a namorada, que vai passar o dia esfolando a conta bancária do coitado. É um casal que realmente se merece. O que o comercial no fundo quer dizer? Que a liberdade tem, literalmente, um preço medido em cifrões: o rapaz aceita pagar por um dia livre na companhia dos amigos e a moça concorda em receber. Em troca de uma sandália nova, ou de um vestido da estação, ela não está nem aí para que o companheiro vai fazer. Realmente muito dignificante. Não sei se é machismo de minha parte, mas custo a acreditar que numa operação como esta a mulher leve alguma vantagem. Como nestas grandes transações financeiras, eu acho que ela está comprando a parte podre do negócio.

No sábado, acho que mais por birra do que por distração, fiquei no carro ouvindo um programa especial sobre o evento Risadaria, uma reunião de comediantes que se estendeu por todo fim de semana no Ibirapuera. Uma amiga insistiu muito para que eu fosse com ela, mas eu fujo desta onda de stand-up comedy com o mesmo empenho que uma criança foge de salada de legumes. O programa do rádio era o seguinte: vários repórteres pediam para que os participantes do Risadaria contassem algumas piadas publicáveis no ar. Foi tão engraçado quanto ouvir o boletim dos congestionamentos nas marginais. Quase todos os comediantes contaram piadas sobre mulheres burras, feias ou depravadas. Fiquei ouvindo o programa por quase meia hora: contabilizei uma piada sobre criança gulosa, outra sobre velhinhos e todo o resto foi sobre mulheres. Um comediante disse que ter ciúme de mulher feia era tão desnecessário quanto colocar no seguro um Fiat 147. Outro contou a piada de um detetive que, ao ser contratado para seguir os passos da mulher de um homem desconfiado, encontrou a sua própria mulher, loira, é claro, no quarto de um motel – de onde a retirou na base de chutes e pontapés. Entendi, com tristeza, que parte dos nossos humoristas ainda vive de fazer pinturas nas cavernas.

Para completar minha semana feminina, leio na Folha de S. Paulo, de domingo, uma entrevista em que a atriz Lúcia Veríssimo diz que tem aprendido muita coisa com a velhice. Lúcia Veríssimo tem 51 anos. A coisa anda tão ruim para o lado das mulheres que uma delas, ainda bonita e famosa aos 51 anos, aceita que a velhice já chegou... Muito triste.

3 comentários:

Julia Mendes disse...

Ségio, quiçá por uma alienação propositaL não vejo nem os comerciais, muito menos as comédias de stand up, nem as novelas e consigo me aborrecer um pouco menos sobre esse assunto. O fato é que muita mulher gosta, ou ao menos parece acomodar-se à imagem de fútil e submissa a não sei o quê dos machos não sei daonde. É triste. Tenho escolhido agir como se eu pertencesse a uma outra categoria feminina que não essa e aos outros que me põe nesta outra posição ajo como se não entendesse do que eles estão falando, ou então simplesmente os ignoro. Há muito parei de fazer também os joguinhos heterossexuais afetivos que acho um saco e tenho a maior preguiça. Tem me funcionado, mas não sei se é egoísmo demais e deveria estar agindo de outra forma.. Que seja. É um assunto triste e é uma pena que as mulheres se deixem expor a tal situação.

Mui bien, mas que bom que há pessoas como você.

Beijos,

Julia M.

Beta disse...

muito triste! E nossa cerveja?
beijos saudosos

Só no blog disse...

Valeu, Júlia, muito obrigado pelas palavras, querida. Beijão

Beta, vamos sim, vou te ligar.
beijos