Adoro o Twitter. Estou viciado no Twitter. Não por que esta nova ferramenta da Internet contribua de forma valiosa para aprimorar a nossa cultura geral – creio que 90% do que escrevemos ali poderiam ir diretamente para o grande lixo do cosmos sem prejuízo algum para a humanidade. Eu adoro o Twitter porque ele me proporciona os mais singelos momentos de prazer que eu já experimentei desde o advento da Internet: bloquear alguém é quase tão gostoso quanto desligar o rádio quando a Ana Carolina ou a Zélia Duncan começam a cantar. O problema é que se trata de um prazer tão legítimo que vicia. Se eu passar um dia inteiro sem bloquear alguém no Twitter, começo a suar frio, a boca seca, a pressão cai e sou acometido por náuseas incontroláveis. Então, tenho de parar o que estou fazendo e correr ao Twitter para bloquear alguém que tenha postado, por exemplo, que naquele dia a mãe faz aniversário. Bloquear este usuário deve ser tão gostoso quanto o cigarro depois do cafezinho – no mundo em que ainda era possível fumar, é claro.
Devo contar para vocês em que circunstâncias o vício me dominou. Eu passei a fazer parte do Twitter depois que minha amiga Bárbara Oliveira, jornalista da área de informática, me apresentou a esta ferramenta. Eu não tinha a mínima ideia de como o Twitter funcionava e a que ele se prestava, mas fiz minha inscrição. No final daquele dia, eu já tinha cinco seguidores. Achei um luxo. Duvido que a bispa Sônia tenha convencido cinco evangélicos a segui-la logo em seu primeiro dia. A Bárbara então me explicou que, para que meu número de seguidores aumentasse (como se isso tivesse algum valor na vida da gente!), eu deveria começar a seguir muitas pessoas. Foi o que eu fiz. Passei uma tarde fuçando nas páginas dos meus amigos em busca de gente bacana para seguir. Eu não sabia que, naquele momento, estava abrindo minha casa para o inimigo. Em poucos minutos os comediantes do CQC começaram a dominar meu computador com informações tão úteis como a relação das cidade em que eles estavam levando seus shows de stand-up comedy à cor da camisa do motorista de táxi que os havia apanhado no aeroporto. Então pensei: mas é para isso que serve o Twitter?
Vindo em meu socorro, um amigo me explicou que era possível me livrar para sempre desta legião de chatos: bastaria que eu os bloqueasse. Senti um misto de alívio e culpa. Bloquear um usuário, naquele momento, me parecia tão deselegante quanto convidar alguém a se retirar da sua casa. Então resolvi fazer um teste: bloqueei o mais chato entre todos os apresentadores do CQC (escolha difícil). Depois de despachá-lo para o cemitério dos exibidos, voltei para minha página do Twitter e senti então um gozo indescritível: não é que suas mensagens nunca mais iriam aborrecer o meu dia, muito melhor que isso – tudo que ele havia escrito tinha miraculosamente sumido da minha tela. Foi uma sensação tão boa que resolvi dar um segundo gole nesta cachaça – e mandei outro comediante sem graça do CQC fazer companhia ao seu chefe. E depois eu mandei um terceiro, um quarto até que, quando vi, não restava mais nenhum deles na minha grade de programação caseira.
Então me vi diante de um dilema. Bloquear desconhecidos chatos é fácil e indolor. Mas como reagir diante da possibilidade de fazer o mesmo com alguém que você conhece, que sabe o número do seu telefone e freqüenta sua casa? Passei dias batendo a cabeça pelas paredes, como um noia em processo de abstinência. Então um outro amigo me socorreu. Eram 16h quando ele escreveu assim no Twitter: “Hum, são 16 horas e estou com uma fominha....Agora são 16h10 e acho que vou fazer uma comidinha. Que delícia esta comidinha que estou comendo às 16h30. Puxa, são 16h40 e minha fominha passou. Acho que vou tirar um soninho”. Mal sabia ele, coitado, que no meu Twitter ele acabava de ingressar no sono eterno. Ele foi embora mais silenciosamente do que nasceu. E então comecei a dar o mesmo destino aos que dizem que vão cortar a unha, aos que vão levar o gato tomar banho no veterinário, aos que vão abrir a geladeira para tomar um todinho, aos que só sabem fazer auto-promoção e, principalmente, aos que postam mais de dez comentários por dia – um mais irrelevante que o outro. Bloquear estas pessoas é como eletrocutar mosquitos naquelas raquetes elétricas.Tshhhhhhhhhhhh – e lá se foi mais um chato, sem deixar rastros de fumaça. Como o Twitter é higiênico.
Sei que este pode parecer um post antipático, paciência. E sei, também, que eliminar os chatos do mundo virtual serve apenas como paliativo para quem não consegue apagar as chatices do mundo real. Mas o que seria de nós sem os paliativos? Acima de tudo sei que, ao ler este post, é bem provável que alguns dos meus seguidores corram ao Twitter para me deletar. A eles, gostaria de dar o seguinte recado: se, ao ser deletado eu puder fornecer a vocês o mesmo prazer que eu sinto quando deleto outros chatos, meu dia já terá valido a pena. Fiquem à vontade e vejam o quanto é bom!
terça-feira, setembro 01, 2009
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12 comentários:
Menino, meu limite pra modernidade até agora é o blog.
Blu-tu, não sei pra que serve.
Não consigo passar ou receber email em celular.
E sou tão arcaico que desligo celular em teatro e cinema, veja só.
Adorei o post!
adoro você, sabe?
Mário, pra você ter uma ideia, a Claro me ofereceu um mês de internet grátis no celular. O mês acabou e eu nunca usei porque não sei mexer neste dispositivo do celular. acho que nem foto eu sei tirar....
Mas, Sérgio, não precisa bloquear, é só não seguir ou dar unfollow. Bloquear impede que a pessoa te siga também. Acho ruim twitter que se fundamente só nessa coisa de diário. Mas que todo mundo (até você0 faz um pouco disso, é verdade. Mas eu continuo adorando ser seu seguidor. Só não compreendo mesmo vocÊ não gostar da Zélia Duncan. Com essa perseguição generalizada à Ana Carolina até que já me acostumei, assim como esse ódio que alguns têm pleo grande Oswaldo Montenegro. Mas pela Zélia (que, além de ser excelente cantora, compõe muito bem), nunca tinha ouvido.
Nos lençóis deste reggae!!!!!
Ô, Kiko, não sabia que você curtia a Zélia Duncan, pôxa! Achei que você fosse da geração Lily Allen e Winehouse...
Tá bom, vou rever meus conceitos....
eu estou com você. também bloqueio chatos no twitter. bloqueei um ator famoso que postava quarenta vezes por hora, um jornalista famoso que twitta mais do que respira. e assim por diante. e também não tenho a menor paciência pra ana carolina. já zélia duncan eu não desligo o rádio quando ela canta, mas que tem um repertório bobo, isso tem. sorry, hein, kiko! guza
Kiko, não vai ficar bravo com o Guzik, hein. Porque ele é crítico, ator, autor e diretor de escola. Pense em quantas portas vão se fechar se você brigar com ele. Eu, se fosse você, trocaria urgente a Zélia Duncan pelo Radiohead, que é a banda predileta do Guzik. A gente tem de pensar no futuro, viu! E um beijão pros dois!!!!
Adoro Radiohead (fui até ao show) e Amy. E adoro o Guzik também. Mas não tenho problemas em brigar (palavra muito forte, mas vai essa por agora) com gente famosa, não. Tá cheio de gente metida a besta por aí, se achando muito mais do que é. Mas, Guzik, você já ouviu o disco "Sortimento" dela? Recomendo, viu. Pura poesia. Se baixar, duvido que você se arrependa. Mas acho engraçada essa coisa da Ana Carolina. Não gosto nem desgosto, mas ela faz uma música tão tranquila, afinadinha, ali na dela, que acho estranho incomodar. Me incomodo mesmo é com pagode, sertanojo (óbvio que não me refiro aos reais sertanejos das modas de viola) e esses funks cariocas, que o povo adora pôr pra tocar bem alto no ônibus. O que me incomodou nela foi participar daquele sensacionalismo da bissexualidade na Veja (se bem que não sei se foi ingenuidade dela). Beijos pros dois.
Ui ! Me inscrevi no Twitter e nunca, jamais, never usei. Paciência zero. Prefiro blogar e olhe la. Também me inscrevi no Orkut e nunca abri, perdi a senha, não tenho a menor noção do que se trata. Pois e, eu sou assim...
Muito bom. Vou tentar isso também... Quem sabe melhore meu dia. Até então eu só havia matado as pessoas de quem não gosto (em contos, claro).
Abraço.
Fale isso para seu analista,quem sabe o fato de você bloquear pessoas famosas (as quais certamente nem sabem da sua existência), sendo que tem o recurso de apenas nao seguí-las. Será que bloqueá-las nao faz com que se sinta uma pessoa importante?,fica a dica, pode ser complexo de inferioridade rapaz.
Para que falar isso para o meu analista, se eu tenho você, que me dá conselhos e opiniões muito mais práticos e, ainda por cima, de graça? Apareça sempre.
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