Todo mundo já deve ter se deparado com uma criança voluntariosa que faz questão de ter absolutamente tudo. Talvez nós tenhamos sido uma criança assim, talvez tenhamos abrigado uma criança assim em nossa família, talvez uma criança assim tenha crescido muito perto de nós, sem conhecer limite algum, incansável em sua meta de obter aquilo que ela julga essencial para satisfazer o seu desejo. Ainda que o objeto deste desejo não tenha importância alguma, a tal criança briga pela posse, esperneia no supermercado, faz escândalo na loja, empaca na rua como se fosse um pequeno animal teimoso. Por mais que os pais tentem explicar que para tudo nesta vida existem certos limites, que a satisfação do desejo infantil, ainda que legítimo, deve obedecer a algum padrão, ou ético ou econômico ou utilitário, a criança não ouve. Ela quer porque quer, simplesmente assim.
Nada pode obstruir o caminho entre ela, a criança, e o objeto do seu desejo. Se ela não consegue pelas vias normais do pedido ou da necessidade, então ela grita, então ela berra, então ela adoece, então ela chantageia, então ela faz conchavos inacreditáveis para a pureza de uma alma infantil, então ela implora para os tios, então ele roga para os avós, então ela joga os pais contra tios e avós, então ela se alia ao irmãozinho de quem sempre manteve distância, então ela quebra o cofrinho das moedas, então ela falta na escola, então ela vomita, então ela pisa no rabo do gato e dá vassouradas no cachorro, então ela se torna impossível. Aí, após desafiar todos os conceitos da integridade, é possível que ela consiga o que tanto queria. É possível que os pais, por fim incapazes de controlar aquele pequeno furacão que um dia eles geraram, joguem a toalha; a criança, vitoriosa, do alto de sua caminha poderá então ver o mundo de cima, como sempre quis.
Talvez Dilma Rousseff tenha sido uma criança assim. Ao ver hoje, na Folha de S. Paulo, a foto da ministra de mãos dadas com o apóstolo Estevam e a bispa Sônia, que até ontem mesmo estavam presos nos Estados Unidos, acusados de tentar entrar no país com uma bolada de dólares escondidos na bíblia e no corpo do netinho, eu fiquei com ainda mais medo do tamanho da ambição desta mulher. Como a criança imaginária dos dois parágrafos anteriores, ela não conhece obstáculo capaz de afastá-la da cadeira que hoje é de Lula. O problema, nesta história toda, é que Dilma já é bem crescidinha e, pelo visto, não existe mais ninguém por perto para lhe dizer: que coisa feia, senhorita, isso não se faz porque não é certo e o papai não gosta. No caso de Dilma, o “papai” gosta e faz coisa ainda pior.
sexta-feira, setembro 04, 2009
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9 comentários:
Roveri só falta vc dizer:este blog apoia Serra.Recorro ao seu blog porque vc é um dos caras que pra mim melhor escreve sobre sentimento,literatura,livros ....,agora quando parte pra política o texto fica feio e o preconceito maior ainda!
Tetê, querida. Este blog não apóia ninguém especificamente. Este blog, na medida do possível, tenta apoiar o bom senso, a justiça, a coerência humana e política e principalmente a honestidade, que devem se fazer presente, na minha opinião,em todos os setores da vida, na realidade e na ficção. Vou fazer uma confissão aqui que não deveria: quando a Dilma foi apontada pelo Lula como sua possível sucessora, na hora ela contou com meu apoio. Teria meu voto sem dúvida, por ser possuidora, ao meu ver, de uma inegável capacidade técnica de administrar o país. Mas desde aquele dia foram tantas e tão imensas decepções ligadas a ela ou ao partido que ela representa, que, ao que tudo indica, ela não levará mesmo o meu voto. E mais uma coisa: se você não fica indignada (ou ao menos chateada) em ver a Dilma de mãos dadas com o apóstolo Estevam e a bispa Sônia, eu lamento muito. Meu texto, como você diz, pode ser feio e rancoroso, mas minha cabeça segue erguida e cada vez com mais capacidade de ainda se indignar. abração
é, vai ser difícil votar em alguém nessa eleição, muito difícil...
Pois é, querida, eu também acho. Mas não perco as esperanças, não. Sempre acredito que alguém legal a gente consegue colocar lá dentro.
Eu também estranhei o tom do post, Serginho, mas compreendo perfeitamente. Tenho amigos que já assumiram o voto na Dilma - entre eles, a Tetê - e outros que ventilaram a hipótese de teclar o nominho da Marina Silva... Ninguém me convenceu. De certeza, mesmo, sei que não voto no Serra, no Ciro, no Quércia e... quem mais?
É assustador ficar assim tão sem esperança ou confiança. Mas até outubro do ano que vem, muita água vai rolar.
Concordo contigo, eu fui eleitora do Lula no passado, hoje não voto mais. E aquela foto da Dona Dilma com a bispada toda, é deplorável. Dilma tem protagonizado acontecimentos lmentáveis. Se esconde, deixa o PT blindá-la e aparece quando lhe é conveniente. Coisa muito feia, mesmo.Rachel
Rachel e Mário: eu também fico indeciso e sei que até outubro do ano que vem tem muito tempo ainda. O que me deixa preocupado é que a coisa já está pegando fogo agora, né? Imaginem o que veremos no próximo ano, de todos os lados, de todos os partidos....
Caro Roveri, estou com você e agradeço todos os dias o fato de minha cabeça também continuar erguida e cada vez com mais capacidade de se indignar. Se indignar, por exemplo, com o acordo militar envolvendo uma grana preta na compra de equipamentos de guerra, enquanto esse montante poderia ser investido em tecnologia para evitar tragédias como as de Santa Catarina. Beijo!
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