quinta-feira, fevereiro 21, 2008

No escurinho do cinema

Foi com muita alegria que, ao passear pelo blog do Alberto Guzik, eu descobri que ele tinha adorado o filme Sweeney Todd, o último trabalho do diretor Tim Burton, baseado em um musical da Broadway que, salvo engano, o cantor Saulo Vasconcelos, do Fantasma da Ópera, já fez por aqui também. Se é um filme fácil, ou mesmo agradável de ser visto? Eu diria que não. Londres surge na tela da maneira mais repugnante possível, com gente feia pelas ruas e centenas de ratos e baratas pelos esgotos e sobre as mesas de cozinhas. Até aí, nenhuma novidade. Tim Burton não deve ter vindo ao mundo para encher os nossos olhos de contentamento. O que ele parece querer, e desta vez sinto que chegou muito perto de conseguir, é atrair o nosso olhar mais afetuoso para o grotesco, para o disforme e, acima de tudo, com o perdão do romantismo, para os corações enamorados que batem atrás de carcaças ambulantes de rostos sombrios e entristecidos. O mundo de Tim Burton é, à primeira vista, mesmo assustador. Talvez por isso Sweeney Todd seja um filme tão interessante, pois ele trata basicamente de vingança, e não me parece que o mundo dos vingativos seja lá muito colorido. Assim, acredito que o diretor encontrou, finalmente, um tema que combine à perfeição com o lado escuro por onde ele gosta de transitar.

Há muitos anos ganhei de presente um disco (disco mesmo, de vinil) da Barbra Streisand chamado The Broadway Album. Barbra Streisand é uma mulher estranha. Depois de 40 anos de carreira e de todos os prêmios, dólares e consagração a que um artista pode aspirar, ela continua querendo provar que é uma excelente cantora. Todas as suas gravações têm de ter algum floreio desnecessário, algum vibrato anacrônico, alguma demonstração do virtuosismo que ela sempre possuiu. Se relaxasse, seria uma das grandes cantoras do mundo. Mas acho que ela vai morrer tentando provar que a voz dela é melhor do que as centenas de canções que gravou. Mas há algo inegável sobre Streisand: poucas intérpretes americanas sabem passear tão bem pelo universo dos musicais. Talvez por ter sido cria de alguns deles. Bom, o que eu quero dizer é que no disco The Broadway Album ela canta duas canções de Sweeney Todd - Not While I am Around e Pretty Woman - talvez as minhas prediletas deste disco que nem sei mais por onde anda. Assim, ao ver o filme e reconhecer nele estas duas canções, tive motivos extras para sair do cinema cantarolando pelas ruas. Johnny Depp, e isto já é um lugar comum, está maravilhoso em cena, cantando legal e com aquela eterna cara de cão que tomou chuva e agora pede abrigo. Mas, como quase todos os meus amigos não gostaram do filme, não ouso recomendá-lo a ninguém, não. Não quero que ninguém fique bravo por, como diz muita gente, ter perdido duas horas no meio de uma cantoria sem fim.

E como o assunto do dia parece ser cinema, vejo que uma pesquisa revela que os americanos gostariam que a comedinha Juno ganhasse o Oscar de melhor filme. Vi o filme e achei de uma chatice só. Ellen Page é uma ótima atriz, mas gosto muito mais dela em Menina Má.com. Juno, a garota grávida de 16 anos que ela interpreta no filme, tem um humor tão ácido, mas tão ácido, que soaria forçado até no doutor House, o médido doidão e viciado em analgésico da série House. A cada frase de efeito que ela soltava em cena, a cada diálogo pretensamente carregado de ironia, superioridade e inteligência agudíssima, eu desacreditava mais e mais na personagem. A trilha é fofa e o final não é previsível mas daí a fazer de Juno um dos grandes filmes do ano já é um pouco exagerado. O que mais me irritou em Juno foi transformarem uma garotinha grávida de 16 anos numa Dorothy Parker em miniatura, uma jovem que descorre com impressionante desenvoltura sobre música, quadrinhos e tudo mais o que dela for requisitado. Claro que os jovens podem ser inteligentes e antenados - aliás, devem. Mas não há nada mais chato do que geniozinhos espirituosos com barriguinha de seis meses.

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