Sou cliente do Unibanco. Não que isso signifique grande coisa. Mas como temos de ser clientes de algum banco nesta vida, optei por um que me dá direito a meia-entrada nos cinemas Arteplex e Unibanco e que eliminou, pelo menos nas duas agências que costumo frequentar, aquelas pavorosas portas giratórias que parecem satisfeitas somente diante da nossa nudez. Assim, no Unibanco, entro e saio feliz da vida (como se isso fosse possível em se tratando de um banco) com minhas moedinhas no bolso, a chave da minha casa e meu celular sem que um guarda precise me resgatar daquela prisão de vidro que me separa dos caixas.
Mas, nesta segunda-feira de chuva, percebi que não havia pago em dia meu condomínio. Como nenhum banco recebe contas vencidas de seus concorrentes, fui obrigado a ir até o Unibanco sacar dinheiro vivo para só depois me dirigir ao Itaú e pagar o condomínio atrasado. Claro que as coisas não começaram bem. Quem pode ser feliz se tem de sair de casa numa manhã de segunda-feira chuvosa para enfrentar dois bancos? No Unibanco deu tudo certo - havia apenas uma pessoa na minha frente. Saquei a grana e fui até o Itaú, ao lado do metrô Vila Madalena.
Primeiro passo: colocar celular, chave e as moedinhas na porta giratória. Tentei entrar. Não consegui. A porta acusou a presença do meu guarda-chuva comprado por dez reais num camelô da Rebouças. Penduro o guarda-chuva desajeitadamente na porta e tento entrar de novo. Em vão. Lá vem o guarda para me salvar. "O senhor tem de colocar o guarda-chuva e dar um passo atrás daquela linha amarela. E daí tenta de novo". Obedeci o guarda e consegui entrar. Tudo bem que o atrás da linha amarela já era quase fora da agência - e estava chovendo. Consegui entrar. Bufando, mas entrei.
Segundo passo: havia 23 pessoas na fila. E como era uma fila única, que serpenteava três vezes pelo interior do banco antes de chegar aos três caixas, isso equivale dizer que havia 23 pessoas na minha frente. Um dos caixas era, compreensivelmente, destinado às pessoas idosas que, sem maldade alguma, precisam de muito mais tempo para ser atendidas. Ou por alguma limitação no entendimento ou porque aproveitam este momento diante do caixa para contar como foram os últimos 55 anos de suas vidas.
Neste caixa preferencial, uma senhora idosa, de blusa de tricô azul, tentava pagar quatro carnês. O diálogo que se seguiu entre ela e o caixa, juro, foi mais ou menos assim:
Caixa: A senhora pode digitar a senha?
Idosa: O quê?
Caixa: A senha. A senhora digita a senha?
Idosa: Senha?
Caixa: Isso, sua senha.
Idosa: Minha senha?
Caixa: Isso, senhora. Sua senha, neste teclado aí na sua frente.
Idosa: Aqui?
Caixa: Isso, por favor.
idosa: Minha senha aqui?
Caixa: Senhora, por favor, se a senhora não digitar a senha não tenho como fazer o pagamento.
Idosa: Ah, a senha...Eu digito. Aqui?
Caixa: isso, aí...
Os diálogos pareciam saídos de uma peça teatral de algum escritor noruguês contemporâneo. Pouco antes de chegar minha vez de ser atendido, uma das caixas abandonou o posto. Voltou alguns segundos, com um copo de água na mão. Vi que seu volume de trabalho era tão elevado, que ela nem conseguia tomar uma água sossegada, lá na cozinha. Fiquei pensando em quantas vezes eu li, só neste ano, que bancos como Itaú, Bradesco e Banco do Brasil tiveram recordes históricos em seus balancetes. Claro que é fácil ficar rico desta maneira: você coloca só três caixas trabalhando feito loucas para atender um batalhão de 20 pessoas, provavelmente paga mal a elas e a todos os outros funcionários, cobra taxas exorbitantes dos correntistas e deixa os clientes um tempo imenso na fila...pô, assim até eu, que não entendo absolutamente nada de negócios, conseguiria ficar milionário. Como devem ser felizes neste governo as famílias Setúbal, Moreira Sales, Brandão e tantas outras que vêem as curvas dos seus balancetes ultrapassando o teto dos arranha-céus em que elas costumam despachar. E como, para elas, poderia ser agradável um terceiro mandato do Lula... Quem sabe elas não topariam até financiar mais este desvario....Enquanto nós continuaremos lá, onde sempre estivemos: quietinhos e obedientes nas filas.
segunda-feira, novembro 05, 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Olá Roveri!!!Pois é, pegar fila em banco é um porre, minha conta é do Bradesco, mas estou quase mudando de banco, pois passo mais de 1 hora na fila, pois tenho que esperar as pessoas da minha frente com malotes, enquanto vou com 1 documento, e pra variar onde só tem 3 caixas abertos...que saco!!! Abraço.
E engastalhados nas portas giratórias.
você não sabe que existe uma lei obrogando os bancos a forecerem senha e atendê-los em, no máximo, vinte minutos?
quando alguém na fila pede a senha, o gerente diz (como de praxe) que eles 'não fornecem' senhas. é preciso insistir. qdo vc ameaça chamar a polícia, vc recebe a senha. imediatamente a fila começa a andar com funcionários desviados para a fução de caixa.
isso é REAL! passe adiante essa informação. serviço de utilidade pública.
Ãhn a SENHA?! hauahuahauhaua, tá vendo o que dá atrasar condomínio, (boa crônica!), que tal atrasar sempre e ir todo mês a uma agência diferente?! hhahahaha
bj
kkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!
eu estou fazendo um trabalho na minha faculdade sobre esta fusão, mas da otica do criativo que faz a peça para o Itaú. to fudido!!!!
gostei mto da historia!!!
Postar um comentário