quinta-feira, novembro 22, 2007

Se o mundo acabar em rede...

Aprendi muitas coisas depois que comecei a me envolver mais diretamente com o teatro e suas diversas tribos. Entre todos os conceitos que eu fui tentando assimilar, existe um que até hoje me provoca estranhamento. É o da tal da inveja branca. Inveja a gente sempre conheceu, desde a infância - seja como autores dela ou, quem sabe, como objeto de seu desejo nem sempre salutar. E então os atores apareceram na minha vida para me ensinar que inveja branca é legal. Na primeira vez em que ouvi o termo, fiquei com vergonha de perguntar o que ele significava. Na verdade, até hoje ninguém me ensinou, mas acho que aprendi sozinho com o tempo e com as sucessivas repetições. Acho que inveja branca é quando você quer muito alguma coisa, mas aceita olimpicamente o fato de que esta coisa esteja melhor nas mãos de outras pessoas - e não sofre por causa disso. Mas não é para sofrer mesmo, ou a inveja vai se tornando bege, creme, palha, palha queimada, cinza claro, cinza escuro, chumbo e finalmente negra, como é aquela outra inveja da qual a gente não consegue se libertar, mesmo colocando uma imagem do Buda em cada cômodo da casa.

Pois então eu cheguei à conclusão de que sinto inveja branca do Duilio Ferronato, do Ivam Cabral, do Alberto Guzik, do Caetano Vilela, do Márcio Gaspar e de todos os outros amigos que conseguem atualizar seus blogs todos os dias - às vezes, mais de uma vez por dia, o que torna a minha inveja parecida com uma geleira, de tão alva e límpida. Eu gosto de escrever neste blog, é claro. Mas sempre parece haver algo mais urgente a ser feito. E, mesmo quando não há, ainda pesa aquela sensação de que tudo que eu possa vir a dizer não será capaz de despertar o interesse de quem quer que seja. Daí para a desistência, é um passo. Ainda mais no meu caso, um expert eme abandonar hoje o que até ontem era a razão da minha vida.

Eu desisto de quase tudo que começo. Entro numa escola de inglês, por exemplo, e saio dizendo que finalmente vou ter a fluência de um Paul Auster no idioma do Shakespeare. Três meses depois, emperrado diante das preposições e dos diversos tempos verbais que eles têm para indicar ações passadas, eu pulo fora. E encontro ótimas desculpas para a desistência. A melhor delas é sempre esta: eu passei para um estágio avançado, mas tão avançado, que só tem aulas às sete da manhã...muito cedo pra mim!

Depois, descubro a iôga e acredito que, novamente em três meses, eu vou ser aceito como contorcionista no Cirque du Soleil, desbancando aquelas chinesinhas que cabem dentro de uma caixa de bombom Garoto. Quando descubro que o máximo da minha flexibilidade permite apenas que eu apanhe uma moeda no chão sem ter de colocar as mãos nos quadris, paro com tudo de novo. E foi assim com a bicicleta Caloi 10, que eu comprei e só usei três vezes, com a grelha George Foreman, que em três anos de vida só viu dos hambúrgueres, com o aparelho de fazer abdominal, que se revelou, já na segunda semana, o melhor lugar da casa para secar as toalhas de banho, com a batedeira de bolo, cujos garfos são ótimos para coçar as costas e assim com tantas outras coisas cujos poderes miraculosos desapareceram assim que cruzaram os batentes da minha casa.

Usei todos estes exemplos para demonstrar que faço um esforço supremo para manter este espaço mais ou menos atualizado - e por isso a tal inveja branca dos amigos que vêem em seus blogs uns adoráveis tamagochis que precisam ser alimentados religiosamente todos os dias. Mas eu não sou preguiçoso, não mesmo. Os que me conhecem sabem o quanto me dedico ao trabalho, aos amigos, aos compromissos... eu só não tenho muita disciplina, o resto eu tiro de letra. E como prova de que eu consigo levar adiante algumas coisas, informo aqui que estou entrando no quarto mês da academia de ginástica. E acabo de ser convidado para correr dez quilômetros ao lado dos alunos mais assíduos. Só não aceitei porque me conheço bem: além da falta de condicionamento, sei que depois de correr dois ou três quilômetros, eu ia começar a prestar atenção nos anúncios das escolas de inglês, nas vitrines com bicicletas e grelhas em ofertas, e pararia de correr para ir, feliz da vida e extremamente confiante, atrás de tudo aquilo que me promete a felicidade com pouco esforço...

4 comentários:

Anônimo disse...

Se valer como incentivo, não pára não, Sérgio. Gosto muito de chegar cedo no escritório e sempre ter algo interessante, diferente e cotidiano para ler :D

Barbara disse...

Massa, eu tbém tenho uma preguiça, maior que a sua. Mas você, pelo menos, escreve umas três vezes por semana, e tem o que dizer...Já eu, às vezes, até esqueço que tenho um blog...MAs não podemos desistir! Nem que seja rastejando...

Anônimo disse...

Não pare, não. Tenho o mesmo problema com o meu blog e também adoro começar e deixar inacabados os meus projetos. Li que isso se chama síndrome de Leonardo, referindo-se a ele mesmo, o Da Vinci. Ele também era assim, e olha que gênio. Continue na luta.
Abraços!

Vanessa Medeiros disse...

roveri, por acaso você é geminiano?