segunda-feira, abril 18, 2011

E se...

Dia desses, durante um café com um amigo, falávamos sobre a inutilidade de imaginar a vida que poderíamos ter tido, em comparação com a vida que efetivamente temos hoje. Falamos sobre como parecia improdutível, talvez até cruel, nos debruçarmos sobre todos os “se” que deixamos para trás. Discorremos sobre onde estaríamos agora se tivéssemos feito determinada coisa no lugar da outra que realmente fizemos e que nos trouxe até aqui. É um tipo de conversa que eu gosto de ter, embora pareça, à primeira vista, um grande exercício sobre o vazio e mesmo sobre um provável arrependimento – já que a única vida que conhecemos é esta que temos, aqui e agora, e que resultou de todas as decisões que tomamos e de uma gigantesca contribuição do acaso. Ainda assim, não evito pensar em como as coisas poderiam ter sido diferentes se eu tivesse pego, lá atrás, o caminho que dobrava à direita e não aquele que me conduziu para a esquerda (nenhuma conotação política neste caso).

Eu gostaria de ser um tipo de pessoa que, decisão tomada, página virada. Não consigo. Levo muito tempo para me decidir sobre alguma coisa (na maioria das vezes, adoraria ter alguém que tomasse as decisões acertadas por mim – só as acertadas, porque das outras eu mesmo me encarrego) e mesmo assim, depois de decidir, perco noites de sono pensando em como seriam as coisas se eu tivesse tomado a opção diferente, se tivesse escolhido a alternativa que eu a duras penas descartei. Garanto que é uma bela maneira de fazer a vida empacar e me considero quase expert nisso. Uma vez, fiz meu mapa astral com uma astróloga chinesa que atendia no Conjunto Nacional. Ela disse que não havia quase nada do elemento água em meu mapa – daí minha dificuldade em “lavar as mágoas” e deixar o passado lá atrás, que é o lugar dele. Ela me recomendou fazer natação. Fiz três aulas e parei. Continuo árido e apegado ao que fiz – e também e cada vez mais, ao que deixei de fazer.

Aos 19 anos, recém-saído do Exército, não sabia que rumo tomar na vida. Fiz um ano de cursinho e prestei vestibular para duas carreiras, medicina e jornalismo. Entrei em jornalismo e fiquei na lista de espera para medicina, com apenas nove candidatos na minha frente. A secretaria da faculdade acreditava que eu seria chamado – mas não rolou. E passei os dois primeiros anos da faculdade de jornalismo lamentando profundamente estar ali. Todo dia eu pensava em trancar a matrícula, voltar para o cursinho e tentar entrar em medicina no ano seguinte. Fiquei numa espécie de limbo – não curtia o curso de jornalismo e nem tinha coragem de parar. Este desconforto só desapareceu no terceiro ano de faculdade, quando entrei pela primeira vez numa redação de jornal e compreendi que eu seria mais feliz tendo nas mãos um teclado e não um bisturi. Ainda assim, até hoje me flagro pensando em como seria minha vida, quem seriam os meus amigos, onde eu estaria agora se tivesse deixado o jornalismo de lado para tentar fazer o curso de medicina.

Este é apenas um entre as dezenas de exemplos que carrego de todas as encruzilhadas em que a vida já nos jogou. Ou isto ou aquilo, como dizia Cecília Meireles em um dos seus poemas mais famosos. Sempre que estas inquietações vêm me atazanar um pouquinho, o engraçado é que não costumo pensar se eu estaria mais rico, se moraria em outra cidade, se teria outros contatos caso tivesse feito as coisas que não fiz. O que eu sempre penso nestas horas, e é aí que está a dureza da situação, é se eu teria sido mais feliz.

5 comentários:

Mário Viana disse...

Primeiramente, que bom ter seus posts de volta.
Segundamente, esse pensamento volta e meia me passa pela cabeça. Nem sempre em relação a mim, mas artistas, por exemplo ("se a Elis estivesse viva, ela não teria...", dizem, mas quem sabe? a graça dos vivos é q mudam).
Enfim, quando é comigo, quando eu penso nos "se" da minha vida, concluo que tomei as decisões certas. Podem não ter sido as mais fáceis, confortáveis, rentáveis, mas sao as que me deixam feliz.

Só no blog disse...

Mário, brigadão pela visita, querido. Vamos ver se eu me animo a continuar por aqui. Suas visitas contribuem para isso!

Paulo M. disse...

Por acaso alguem que faz mapa astral?

Anônimo disse...

Tipo melancólico de Tellenbach?

Anônimo disse...

Oi amigo, de alguma forma me vi em vc...
Durante um período de minha vida eu busquei respostas para as perguntas que nem tinham sido formuladas, busquei trilhas para caminhos onde nunca havia passado.....
Há algumas respostas que não precisam de perguntas assim como há perguntas que não precisam de uma resposta; muitas vezes o óbvio está a nossa frente e o que fazemos?
Fechamos os nossos olhos porque a claridade nos incomoda.
Durante muito tempo busquei algo que estava perdido dentro de mim, algo que eu não sabia o que era nem da onde vinha, mas mesmo assim eu o buscava...
No meio desta busca desenfreada por coisas que eu não sabia o que era me perdi dentro de um labirinto que eu nem sabia que existia, um labirinto que estava dentro de mim e eu nunca havia me dado conta que cada vez que eu me perdia era lá que ficavam minhas emoções, frustações, pânicos, amores, tristezas... E as respostas!
Eu nunca descobri ao certo se eu não encontrava as respostas porque eu não as procurava ou se não encontrava porque eu não sabia que antes de sair procurando as respostas nos outros, tinha primeiro que encontrá-las em mim mesma. Existe sim perguntas em minha vida sem respostas contundentes, mas o que não existe mais é o medo que eu tinha de mim mesma o medo de me aprofundar em meus sentimentos, minhas tristezas, alegrias... este medo de se perder dentro de mim própria não mais existe porque eu descobri que nada pode ser pior que você não conhecer a si próprio.
Algumas tais respostas sem perguntas e as perguntas sem respostas ainda vivem dentro de mim mas a diferença é que agora quando eu me perco nelas eu logo reconheço o caminho de volta pois aprendi, com o treinamento é claro, que da única coisa que eu tenho que ter medo é das pessoas que não se questionam em nenhum momento de suas vidas! Quando fui fazer meu treinamento em Set/2000 (arita.com.br)eu tinha depressão, síndrome do pânico um medo e uma insegurança que não deixavam com que eu fosse uma pessoa segura e feliz, após essa viagem que fiz nunca mais tive ou me permitirei a ter essas coisas pois hoje eu tenho ferramentas pra entender cada uma das fobias que tive.
Para cada pergunta uma resposta, para cada resposta uma pergunta, para cada dúvida uma certeza e para cada medo um caminho dentro de nós mesmos para a saída.