De menino, por influência dos meus pais ou da igreja católica que frequentei regularmente até os 14 anos, aprendi que a dor e o sofrimento traziam sabedoria. Era justamente dos períodos mais tristes de nossas vidas que emergeríamos mais fortes e sábios, mais preparados até, acredito eu, para enfrentar de pé novos períodos de tristeza e dor. Não me lembro de ter sido ensinado a desfrutar do prazer e da alegria. Era como se a felicidade fosse um acidente de percurso, uma exceção em vidas que deveriam ser talhadas para conviver com o infortúnio. E, se prazer houvesse, era o prazer de sofrer.
Dito assim, parece que fui criado na Idade Média. Não é o caso. Como também não é o caso de dizer que este tipo de ensinamento caiu em desuso. Ainda hoje ouço, de bocas diversas, que é só na dor que se aprende. Devo ter sido sempre, e continuo sendo, um péssimo aluno então. Pois, em geral, minhas dores são sempre reprises de dores antigas. Todo meu sofrimento tem um sabor de revival e em todas as deprês que enfrento, quando penso nelas, localizo uma origem comum. Ou seja, meu repertório da dor é muito restrito e foi ele sempre o responsável pelos períodos tristes que enfrentei e enfrento na vida. Conclusão: a dor nunca me ensinou absolutamente nada. Talvez alguém levante a voz para dizer que fui eu quem nunca quis aprender. Pode ser. O certo é que não me lembro de lições muito proveitosas advindas da dor. A única coisa que eu consigo fazer bem nesta vida é me esquecer de um erro para, no mês seguinte, cometê-lo de novo. Às vezes com até mais galhardia.
Este post é decorrência do fato de eu ainda estar pensando, com insistência, nas famílias que perderam tudo neste período de chuvas. Imagino o casal que perdeu as filhas no deslizamento de terras em Angra dos Reis. Imagino as mães que tiveram seus filhos mortos em discussões banais. E então me pergunto: existe dor maior que enterrar um filho jovem? Acredito que não. E o que se aprende com esta dor brutal? Absolutamente nada. A não ser seguir em frente muito mais doloridos e despedaçados. Eu sei que talvez saiamos um pouco mais fortalecidos de uma grande tragédia, mas continuo acreditando que o benefício não compensa as lágrimas e o peito em frangalhos. Eu acho que a dor da perda e a saudade só nos ensinam, no fim, a perceber o quanto é difícil viver sem alguém querido. Nos ensinam que podemos viver, mas, meu Deus, a que custo? Confesso que é um aprendizado que eu dispenso. Sei que todos nós iremos aprender isso em algum momento, mas, enquanto for possível, continuo dispensando.
Há alguns dias eu postei, neste mesmo espaço, uma relação de dez frases que eu não gostaria de ouvir em 2010. Abro espaço para colocar mais uma. Trata-se desta aqui: “eu não gostaria de ouvir que é na dor que se aprende”. A felicidade também deve nos ensinar muita coisa. E, ainda que não nos ensine nada, ela é uma professora muitíssimo mais agradável que a dor. Então, se nosso destino é mesmo patinar na ignorância e no desconhecimento da vida, prefiro ser um burrinho feliz com meus dentões à mostra.
terça-feira, janeiro 12, 2010
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2 comentários:
minha mãe é dessas que acha que a dor redime, purifica e leva ao reino dos céus. e tome dor, e tome sofrimento sem trégua e sem fim!!
eu, por outro lado, optei por ser feliz e, olhe, posso dizer que tenho me dado muito bem, viu?
bj
Oi, querida. Eu acho que a opção pela felicidade já é um bom começo, né? beijao
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