sexta-feira, dezembro 04, 2009

De molho

Por motivos que fugiram à minha vontade, me vi obrigado a manter distância dos computadores – e por conseqüência deste espaço – por um período de 15 dias no mínimo. Se eu fosse um pouquinho mais prudente, não deveria estar aqui. Mas senti saudade. E como acredito que o médico que me despachou para o estaleiro por duas semanas nem sabe da existência deste blog, resolvi desobedecer um pouquinho. Prometi a mim mesmo que vai ser jogo rápido.

Fui operado de uma hérnia inguinal na terça-feira da semana passada. O procedimento é relativamente simples. Em menos de duas horas eu já estava deixando o centro cirúrgico, praticamente consciente, com um talho de uns dez centímetros na virilha esquerda, que até hoje está com as bordas ligeiramente inchadas e vermelhas. A aparência do corte fez com que alguns amigos mais safados – e todos nós os temos, não é – passassem a comentar que eu tanto fiz que finalmente consegui ter uma xoxotinha paga pelo plano de saúde. Não sei se por ela ter aparecido muito tarde na minha vida, ou por ter sido esculpida um pouco mais à direita de onde deveria estar naturalmente, o certo é que minha xoxotinha genérica dói pra caramba.

Pequenos prazeres fisiológicos que acompanham todos os homens desde a mais remota infância, como fazer pontaria com o jato de urina na privada, tornaram-se um tormento para mim. Fazer xixi dói e sobre aquela outra coisa, então, é melhor nem falar. Quando se aproxima o momento de eu prestar contas com o banheiro, fico pensando que talvez a vida, ao menos nesses dias, seria bem mais fácil se eu fosse membro daquela seita de pessoas que só se alimentam de sol. Nunca foi tão sofrido dizer adeus aos meus excessos alimentares.

Mas o mais estranho neste pós-operatório em que tenho de fazer repouso quase total é perceber o quanto mudou a minha relação com o dia. Ou com as horas do dia. Eu tenho tão pouca coisa a fazer que fico sinceramente excitado quando chega a hora de aplicar minhas compressas de água quente na região do corte. O médico me disse que três vezes por dia seriam suficientes, mas eu tenho feito cinco, na esperança de que o dia passe mais rápido e a noite me encontre com o cansaço de um estivador.

Na tentativa de tirar algum proveito concreto destes dias, tenho lido os jornais de cabo a rabo. Até mesmo aqueles cadernos de automóveis e classificados, que iam direto do sofá para a lata do lixo sem jamais serem abertos, hoje despertam meu interesse e preenchem minhas horas arrastadas com informações tão valiosas quanto a oscilação do preço do metro quadrado nos imóveis da Vila Prudente. Fiquei sabendo também – e o fato me causou uma profunda revolta – que o jogador Vagner Love, do Palmeiras, foi agredido em uma agência bancária no bairro das Perdizes. Minha indignação foi tanta que, ao ler a notícia até o final, corri para o Google para saber quem era o Vagner Love. Descobri que é um jogador que usa umas trancinhas no cabelo. Em algumas fotos ele surge de trancinhas azuis, em outras, de trancinhas verdes. Estou na torcida para que ele mude a cor das trancinhas nos próximos dias, o que me garantiria mais uns três minutos de informação a ocupar o meu tempo.

A hora mais ingrata, no entanto, é aquela em que os amigos ligam. Eu adoro quando eles ligam e espero o telefone tocar com sofreguidão. O problema é sempre a primeira pergunta que eles fazem: e aí, o que você fez hoje? E eu respondo: até agora, nada. E não importa se o telefonema ocorra às dez da manhã ou às onze da noite, a minha resposta será sempre a mesma: não fiz nada. A outra pergunta que eles fazem é a seguinte: eu estava pensando em te visitar, qual é a melhor hora pra você? E minha resposta também é sempre igual: a hora que você vier para mim está perfeito. A chance de eu ser encontrado em casa é total e absoluta.

Mas ontem eu me rebelei perigosamente: vesti uma bermuda (não agüentava mais me ver de cueca há dez dias), calcei um par de tênis e peregrinei feito um romeiro cansado até a locadora que fica a 50 metros de casa. O tempo que eu levei capengando para ir, escolher um filme e voltar seria suficiente para ver E o Vento Levou na íntegra. Retornei para casa com a mesma sensação de vitória da personagem da atriz Alinne Moraes na novela Viver a Vida, que após passar vários dias imobilizada na cama, no capítulo de ontem conseguiu se sentar, o que levou às lágrimas todos os personagens da novela e eu aqui na minha casa, pois eu sabia o quanto estas pequenas vitórias são importantes para nós!

Daí fiquei torcendo para que alguém me ligasse para perguntar o que eu tinha feito do meu dia. Eu iria carregar a voz com esnobismo e superioridade para responder assim: “Eu? Ah, fui até a locadora sozinho...” Mas justo ontem ninguém me ligou e a resposta ficou entalada na minha garganta até agora. E só por isso eu vim aqui, contar para todos vocês, que ontem eu fui até a locadora, tá?

Me aguardem. Assim que a minha xoxotinha sarar, prometo tirar o atraso.

11 comentários:

Mário Viana disse...

Serginho, fica bom logo, vai! Quando alguém vê movimento na paradeira que é Viver a Vida, é sinal que a coisa tá grave...

E que filme vc alugou, afinal de contas?

Só no blog disse...

Pode crer, queridão. O bom é que tive sorte na locadora. Aluguei a primeira temporada de uma série inglesa chamada Prime Suspect, com a Helen Mirren. Tem me salvado as noites, viu. Abração

Beta disse...

Sérgio!!! Que foi isso??? Por que vc não ligou pra nós (amigos) levarmos filmes e sopinhas pra você, junto com carinho e companhia?!? Tô com saudades, era uma boa chance de matá-las!
Vc fica de molho até quando?
Vou te lugar pra perguntar o que vc fez nas últimas 2 horas... rs
beijao e sara logo.
E me liga se quiser que leve filminho!

Anônimo disse...

tô prejudicada tb há 15 dias, não como voce, é claro, mas digitando só com uma mão.queimei a mão com oleo quente. essa coisa chamada prendas doméstica. mas desobedeci a orientação médica e tenho teclado um pouco. senti falta de vc.melhoras, meu bem. beijos, Rachel

ana laura disse...

"Daí fiquei torcendo para que alguém me ligasse para perguntar o que eu tinha feito do meu dia. Eu iria carregar a voz com esnobismo e superioridade para responder assim: “Eu? Ah, fui até a locadora sozinho...” Mas justo ontem ninguém me ligou e a resposta ficou entalada na minha garganta até agora. E só por isso eu vim aqui, contar para todos vocês, que ontem eu fui até a locadora, tá?"

fui lendo o post como que comendo todas as palavras. com um tesão MALUCO. e no fim... no fim eu quase chorei! nessa passagem que coloquei aqui... (e meu pai preocupado veio até o meu quarto pra perguntar se tava tudo bem... e eu não querendo responder nada porque eu ainda estava em transe do seu post. hahahahaha.)

há uns três meses eu venho passando por aqui. e só lendo, lendo. só no blog!
e nada de comentar. porque sempre achei intromissão, e ainda acho, vir a blogs de gente que nem me conheçe e falar o que pensa, hehehe...
mas, como eu acho tb que as pessoas gostam de ser lidas e reconhecidas, vim aqui.
posso passar a ser "comentadora fixa"? hehehe.
e melhoras!

um beijo.

ana laura disse...

"Daí fiquei torcendo para que alguém me ligasse para perguntar o que eu tinha feito do meu dia. Eu iria carregar a voz com esnobismo e superioridade para responder assim: “Eu? Ah, fui até a locadora sozinho...” Mas justo ontem ninguém me ligou e a resposta ficou entalada na minha garganta até agora. E só por isso eu vim aqui, contar para todos vocês, que ontem eu fui até a locadora, tá?"

fui lendo o post como que comendo todas as palavras. com um tesão MALUCO. e no fim... no fim eu quase chorei! nessa passagem que coloquei aqui... (e meu pai preocupado veio até o meu quarto pra perguntar se tava tudo bem... e eu não querendo responder nada porque eu ainda estava em transe do seu post. hahahahaha.)

há uns três meses eu venho passando por aqui. e só lendo, lendo. só no blog!
e nada de comentar. porque sempre achei intromissão, e ainda acho, vir a blogs de gente que nem me conheçe e falar o que pensa, hehehe...
mas, como eu acho tb que as pessoas gostam de ser lidas e reconhecidas, vim aqui.
posso passar a ser "comentadora fixa"? hehehe.
e melhoras!

um beijo.

Só no blog disse...

Oi, Ana Laura, muitíssimo obrigado pelo seu comentário. Eu também o li com muita alegria, e fiquei super feliz de saber que você visita este espaço com frequência. Por favor, comente à vontade. Será um enorme prazer para mim. Beijão.

Só no blog disse...

Rachel, querida. Brigadão pela visitinha. Puxa, espero que sua mão esteja melhor também. Eu estou quase zerado, já. Mais uns dias e sinto que poderei trabalhar e sair novamente. Beijão.

Kalau disse...

Boa recuperação- Fiz essa cirurgia tb- só que minha, do lado direito, havia *estourado ou algo assim* estava do tamanho de uma concha de cozinha- 15 pontos tipo Frankenstein- E 3 dias depois eu estava no Shopping *R- Isso foi em 2004...Não ficou nem cicatriz. Boa sorte aí. Abs/Kalau

Só no blog disse...

^Pô, Kalau, você ganhou de mim de novo. A minha era bem menorzinha! E eu ainda não fui ao shopping. Mas acho que vou deixar você morrendo de inveja, então: vou tomar banho para ir passear lá na 25 de março. Que vença o melhor!

Lucianno Maza disse...

Queria ter seu telefone pra te ligar agora pra ouvir as novidades de Viver a Vida e tudo mais. Preciso pegar seu número e assim te ocupar alguns minutinhos do dia. rs Melhoras! Beijos queridão