domingo, novembro 08, 2009

O caso do vestido

Quando abri os jornais nesta manhã de domingo e li que a garota Geisy, aquela que incendiou de desejo, volúpia e bestialidade o campus da Uniban ao aparecer para as aulas no curso de turismo com um microvestido cor-de-rosa (que cá entre nós é bem sem gracinha), havia sido expulsa da faculdade, precisei de algum tempo para acreditar que o que eu tinha nas mãos, mesmo, era um jornal brasileiro, e não um tablóide do Paquistão, Irã ou Afeganistão. A notícia, por si só indigesta, ia se tornando cada vez mais repulsiva quando se lia o motivo da expulsão. De acordo com a Uniban, a garota precisou ser excluída do quadro de alunos porque havia muito tempo ela já “se insinuava” para os colegas. O obscurantismo é tamanho que a vontade é de rir. Punir um jovem brasileiro (vamos colocar no masculino para a afirmação assumir um caráter mais genérico), às vésperas do verão, porque ele se “insinua” é dar as costas à própria cultura do nosso país: o que temos feito, nos últimos 500 anos, em nossas praias, em nossas festas, em nossa alegria popular provavelmente única no mundo a não ser praticar o jogo da sedução?

Claro que alguém poderá dizer que a sedução tem hora e local propícios para se desenvolver e que os bancos universitários foram feitos para a prática monástica dos estudos, e não dos olhares de cobiça. Será mesmo? O grande erro de Geisy teria sido, então, seduzir em hora e local inadequados? Somente aceitando este ponto de vista é que podemos entender por que ela foi expulsa por usar um vestidinho provocante enquanto que os jovens violentos que torturam e matam calouros nos trotes têm seus nomes e suas matrículas preservados pelas grandes faculdades do País. Porque estes jovens sabem exatamente como agir: eles são violentos, cruéis e assassinos nos campus universitários – onde a violência e o homicídio são tolerados, mas a sedução, não. E isso num país que faz do seu jogo de sedução moeda corrente e que orgulha-se de exibir ao resto do mundo as bundas bronzeadas das jovens nas praias com o mesmo afã que exibe os índices animadores da economia. É um país muito estranho, não há dúvida.

Este post não tem a menor intenção de defender Geisy. As entrevistas e a postura da garota revelam que ela não precisa de defensores. Articulada e direta, ela sabe exatamente em que armadilhas a universidade pisou ao assinar seu termo de expulsão, e agora está pronta para dar uma bela mordida nos cofres da instituição, num processo que, segura e justamente, ela deverá ganhar. Mais que isso: que me perdoem os puristas, mas todos nós sabemos que, também em outras vias, a garota saberá tirar o máximo proveito deste episódio lamentável. É contar os dias até que uma revista a convide para posar nua ou uma emissora de televisão a empregue em um programa humorístico de qualidade duvidosa. São estes os meios que a nossa sociedade encontrou de reparar aquilo que considera injusto.

Geisy deve mesmo aceitar todos os convites e aproveitar esta fama repentina. E, acima de tudo, mostrar para os xiitas da Uniban que existe um país doidinho para apreciar aquelas coxinhas roliças que tanto incomodaram o puritanismo dos seus coleguinhas de faculdade. Se é esta a linguagem que parte do país entende, que seja esta a linguagem usada então.

3 comentários:

fátima disse...

penso exatamente como vc, sem tirar nem por, inclusive quanto ao provável "aproveitamento" da fama.

na verdade, o que causou o rebuliço não foi o vestido, mas o corpo, digamos assim, "gostoso", da menina. com certeza, dentre 60 mil alunos, haverá, no mínimo, dezenas de magrelinhas que vão às aulas com roupas mais curtas que aquela, e que também "se insinuam", como alega a instituição. só que magrelinhas não chamam a atenção, né?

os meninos - e meninas - que causaram o tumulto e se portaram como bárbaros vão continuar lá, e achando que seu comportamento tá certo, já que foi endossado pela universidade.

bj

Mário Viana disse...

O mais louco é ver a moçada defendendo a universidade, chamando a menina de puta e outros nomes. Mesmo que fosse... puta não pode estudar? Mas o fato é que a Uniban deu um tiro no pé. A própria aluna não se sentiria confortável em voltar à escola, acho eu. Eu não me sentiria bem exbindo um corpinho suculento em meio a uma tribo de canibais.
Também dei uns pitacos sobre o tema no olharesloiros.blogspot.com (momento merchan... rs rs)

Anônimo disse...

Geisy, o vestido curto e a "desuniversidade". Estivéssemos na Idade Média e ela já estaria na fogueira. Mas, peraí, séc. 21 e ela quase foi!
Um problema sério neste país: a vítima vira culpada e o agressor é perdoado.
A Uniban, apoiando os agressores, lhes deu carta branca pra agirem dessa forma sempre que se sentirem "ofendidos".
O pior foi ver mulheres no meio dos agressores!