terça-feira, novembro 17, 2009

2012 - ou um pouquinho depois

Assisti ontem ao filme 2012. Mesmo para quem é fã de cinema-catástrofe, como eu sou, o filme é bem chatinho. E piora muito na meia hora final. Tudo bem que os efeitos especiais são bacanas – é impressionante ver a costa oeste dos Estados Unidos sumir do mapa em meio a terremotos e furacões e um pouco estranho ver o nosso Cristo Redentor despencar do Corcovado, em uma sequência que só consegue provocar risos na plateia. Nós, brasileiros, conseguimos rir até do apocalipse, bendita seja esta dádiva. Poderia ser um filme legal se não houvesse a eterna preocupação do cinema americano de mostrar que, antes de salvar o mundo, o mocinho tem de salvar seu casamento, seus filhos e principalmente sua moral desacreditada por conta de incontáveis erros cometidos nos anos que antecederam a catástrofe.

E então, diante de um mundo que já está recebendo a extrema-unção do Todo-Poderoso, um pacato e fracassado escritor consegue reunir a força de um Sansão à inteligência e astúcia de um Einstein – garantindo a sobrevivência de todos aqueles que lhe são caros. Grande porcaria. O fim de toda a nossa espécie, de toda nossa cultura e civilização serve apenas de pretexto para que o mocinho se reabilite diante da ex-mulher e dos filhos pequenos que já não o respeitavam. Se a intenção era só resgatar a moral do cidadão médio americano, os estúdios podiam fazer algo mais simples e economizar em efeitos especiais. Vai ver que, para a cultura americana, toda reabilitação moral deva ser comemorada com um tsunami.

Se há algo de interessante no filme é sua postura didática de reafirmar a nossa pequenez diante da natureza. O que não é novidade, eu sei. Qualquer ser humano pouco pretensioso sabe que, para o planeta, a nossa espécie deve valer tanto quanto a dos percevejos: basta uma coisinha de nada para que a gente desapareça como um dia os dinossauros e os mamutes também desapareceram. E olha que eles eram bem maiores e mais barulhentos que a gente. No filme, a temperatura no interior da Terra começa a subir assustadoramente, os pólos derretem, a crosta terrestre vira uma gelatina e todos nós, como se fôssemos uns torrõezinhos de açúcar, somos mergulhados nesta gigantesca e fumegante xícara de café em que o planeta se transformou. E pronto: a linhagem de primatas que culminou nas sinfonias de Beethoven, na pintura de Da Vinci e nos versos de Shakespeare recebe, enfim, seu ponto final.

Vejo o filme no dia em que os principais dirigentes do mundo anunciam que o acordo climático de Copenhague já nasceu morto. As emissões de gases de efeito estufa vão prosseguir, os países ricos querem continuar a ser ricos, os emergentes não querem desacelerar seu processo de industrialização e danem-se os ursinhos brancos que não têm mais nem um pedacinho de gelo em que se equilibrar. A destruição do planeta, para todos nós, vai continuar restrita às imagens dos bichinhos morrendo de sede e fome, às tempestades tropiciais que parecem atingir somente os nossos vizinhos, às nevascas que ficam lindas nas fotos dos turistas e ao calor insuportável que nos obriga a correr até as Casas Bahia em busca de ventiladores e aparelhos de ar condicionado. Qualquer decisão sobre o clima foi jogada para 2010 e o homem continua a tratar este mundo como se ele fosse eterno e inesgotável.

Acho válida a pretensão de qualquer país de se desenvolver e garantir uma vida de farturas e recursos para os seus habitantes. Mas, daqui a pouco, penso que teremos algum dinheirinho no banco, às custas deste desenvolvimento descabido, e não haverá em loja alguma ventilador que possa refrescar o nosso corpo e a nossa consciência. Não sou fatalista e nem acredito nestas bobagens de 2012 ou 2030. Tenho certeza de que o mundo não vai acabar antes de alguns bilhões de anos. O que eu acho, de verdade, é que um dia o planeta irá se cansar desta coceirinha irritante que fazemos no nariz dele e ele então soltará um grande e proposital espirro, nos empurrando para muiiiiiiiiiiiiiito longe e para todo o sempre. Espero que a espécie que venha a nos substituir, e ela virá, seguramente, seja um pouquinho mais esperta do que a gente conseguiu ser.

2 comentários:

Grace Gianoukas disse...

Querido Roveri
Quando consigo navegar a passeio pela internet gosto de ancorar em alguns cais, de abastecer meu barquinho em determinados portos: faço excursões turísticas recorrentes pelo teu blog.
Sobre este papo de fim do mundo em 2012,meu amigo e colega Artur Kohl fez um comentário interessante logo após a aprovação do Brasil para sede das olimpíadas:
"Vamos ver como será esta olimpíada no Brasil.. Seremos sede da primeira olimpíada depois do fim do mundo..."
Amore,também tenho um blog agora:
tobemridicula.blogspot.com
Beijos Grace Gianoukas

Só no blog disse...

Oi, querida. Muito obrigado pela visita. Pode deixar, já me considero um frequentador do seu novo blog, irei visitá-la direto. Beijão